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Rebeca Becca e a Escola de Wolbrans - Cap. Cinco
O pacote, a carta e a vassoura
Clayton de Jesus Camargo

A tarde passava rapidamente e Rebeca mal podia esperar por anoitecer.
     — Querido, eu não acho que deveríamos deixar que Rebeca estude nessa escola de... — não conseguia concluir a frase, por temer ouvir aquele nome...
     — Bruxas? — perguntou Romão sentado no sofá assistindo o jornal.
     — Não fale esse nome que me dá arrepios! — rosnou ela. O marido desligou a TV com o controle remoto e balançou a cabeça sem esperanças.      
     — Infelizmente não tive escolha. — dizia. — Você mesma viu, aquele sujeito era capaz de até nos mat... — sua esposa interrompeu-o.
     — Não precisa completar a frase! — e depois desmoronou o corpaço na poltrona e suspirou desanimada. — Só espero que nossos vizinhos não descubram que deixemos nossa filha adotiva estudar nunca escola de...
     — Bruxas?
Rebeca Becca descia as escadas com uma pequena mala vermelha em mãos. Seus pais notaram-na e lançavam olhares de indignação para ela. Rebeca estava feliz e linda, vestia uma roupa bem elegante, até parecia que se arrumara para um encontro com um namorado.
A Sra. Wânia aproximou com mansidão e com um sorriso nos lábios.
     — Você já está pronta? — a garota olhou desconfiada pela estranha reação dela, ficou pensando em que estaria ela tramando.
     — Sim. Só vou esperar por minhas amigas. — respondeu segura.
A sua mãe adotiva olhou para o marido que estava sentado ainda no sofá e depois se virou para Rebeca, dizendo.
     — Sabe Rebeca... eu e o seu pai estávamos pensando em entrar num acordo com você.
     — Um acordo?
     — Exatamente. — confirmou. — Sabe aquela velha que você queria morar...
     — Você se refere à Dona Marta, não é isso?
     — Sim, sim ela mesma.
     — O que tem ela?
Ela descartou.
     — Você poderá passar um mês na casa dela...
     — Sério? — indagou feliz.
     — Contudo... — Rebeca fechou o sorriso, pois agora viria à parte final do acordo. — Você teria que... simplesmente deixar de frequentar essa escola. E pagaremos a melhor escola que você quiser estudar?
Rebeca não parou para pensar no acordo e decidida respondeu.
     — Nunca.
O Sr. Romão entrou no plano da esposa.
     — Rebeca, pare e reflita, por favor. — dizia agora se aproximando amigavelmente. — Olhe, eu prometo que você será a menina mais feliz desse mundo se acaso aceitar o nosso acordo. — este observava que a menina prestava atenção e prosseguiu. — Poderemos viajar para os Estados Unidos e se divertir nas férias na Disney. O que acha?
Rebeca não podia ser essa menina mais feliz do mundo que ele acabara de sugerir, pois isso ela sabia; sem os seus verdadeiros pais e sem a sua querida avó ela jamais seria feliz por completo.
     — Escutem, não perca salivas tentando me convencer, eu não a-cei-to! — a retrucou, num tom definitivo. A campainha da porta avisou que suas amigas havia chegada. Rebeca avançou até a porta da sala contente e puxou a maçaneta, mas a porta manteve-se fechada. Rebeca percebeu o que estava havendo.
     — O que você está fazendo?! — a indagou, vendo o seu pai adotivo barrando com a mão a porta, não permitindo que fosse aberta.
     — Desista dessa ideia garota! — Rebeca tentava desesperadamente abri-la, mas não conseguia.
     — M-Mais você assinou a minha autorização para que eu... — foi gravemente interrompida pela voz áspera de sua mãe adotiva, tendo também sua mala arrancada de sua mão.
     — Não confunde as coisas! Fomos obrigados por um terrível... — e se voltou contra o marido para censurá-lo em pronunciar a palavra...
     — Bruxo? — mas foi Rebeca que perguntou, completando assim a palavra temida pela Sra. Wânia.
     Do lado de fora os ouvidos estavam bem grudados na porta, tentando escutar o que se passava lá dentro. Karina recuou e desesperou.
     — Eles não vão deixá-la ir!
     — Acalme-se, tenho que pensar em alguma coisa pra tirá-la dessa fria. — falou Carla precisamente. Enquanto isso a Sra. Wânia desabafava indignada.
     — Eu não consigo entender como uma garota como você possa se interessar tanto assim a estudar nessa escola! Não percebe que é muito perigoso para frequentar essa escola maldita?
     — Eu não sei se é mais perigoso eu ir para Wolbrans ou ficar aqui com vocês dois! — a sua mãe ia discordar quando escutou lá fora do lado da porta um coro, como se fosse um grito de guerra de time de torcida:



Somos bruxas unidas,
Não seremos vencidas,
Vamos lançar um feitiço!
Vamos invocar nossos amigos...!
Abracadabra!
Rata malhada!
Bruxa inchada!
BRUXA INCHADA!
BRUXA INCHADA!


     A mulher começou a tampar os ouvidos com as mãos para abafar a cântico de azaração das meninas que berravam do lado de fora.
     — Parem com essa música! Parem! — implorava ela girando, como se o coro a fizesse sentir muito mal. Rebeca aproveitou o ponto fraco dela e se ajuntou com a voz das suas amigas.
     — Bruxa Inchada! — e rodeava a mãe adotiva com as mãos abertas envolta dela. — Abracadabra... Rata malhada...Bruxa inchada! — a mulher estava ficando zonza. O marido desesperado abriu a porta e gritou seu também grito de guerra.
     — SUAS GAROTAS INFERNAIS, DEIXEM-NOS EM PAZ!
Mas elas não estavam prestando atenção nele, estavam de costas pra ele e de ouvidos atentos, Carla apontou o dedo para o alto do céu estrelado.
     — De onde vem esse som de apito?
O Sr. Romão levantou o queixo e escutou um desesperado som de apito se aproximando velozmente.
Lá no alto, bem acima dos topos das maiores árvores vinha ela, totalmente descontrolada, aos berros. Quando esforçou o máximo sua visão, o Sr. Romão estremeceu ao descobrir o que vinha causando aquele estridente som de apito. Assustado com tal cena de horror que via se aproximando de sua casa fechou a porta e balbuciou.
     — D-Deus meu, tenha p-piedade!
A Sra. Wânia parara e começara a lançar um olhar de preocupação e temerosa.
Mal deu tempo de perguntar qualquer coisa para ele quando escutou um alerta que parecia ter vindo de um megafone.
     — CUIDADO VASSOURA DESGOVERNADA! — o que se seguiu depois foi um verdadeiro caos, começando com estardalhaço da janela de vidro se espatifando em mil cacos por todos os lados. A bela janela de vidro colorido explodiu quando fantasticamente uma bruxa montada numa vassoura atravessou-a.
Houve gritos de terror, e a Sra. Wânia se encolheu de joelho o máximo que conseguiu, encostando sua cara gorda no tapete, com as duas palmas gordas das mãos sobre a cabeça protegendo como podia de vidros e lascas de madeiras, enquanto Rebeca observava pasmada uma estranha mulher de um longo vestido azul e listrado de vermelho nas costas com um pacote embrulhado preso numa cinta em volta do seu ombro.
Carla e Karina pularam a janela destruída e entraram à sala toda bagunçada.
     — Caramba... Que aterrissagem! — se surpreendeu Carla, vendo aquela bruxa se levantar do chão depois de ter dado de frente com a parede. A estranha mulher era um pouco velha e sacudia a poeira do seu vestido e tirava os fios de cabelos grisalhos do seu campo de visão.
     — Oh, boa noite — disse sorrindo aos presentes que se misturavam em seus rostos surpresa e pavor. Deu uma girada com o corpo no pequeno espaço da sala que estava de pernas para o ar. — Meu Deus não posso acreditar que novamente atravessei outra janela!
     — Outra janela? Você já atravessou mais do que uma? — perguntou Karina admirada.
     — Bem, mas dessa vez doeu menos, já que não foi novamente a janela da frente de um ônibus. — aliviou-se.
A mulher gorda abaixada no chão engatinhou apavorada em direção ao marido que estava grudado na porta de olhos arregalados, revelando o horror e incredulidade, e sua esposa agarrou as canelas finas deste com bastante força, temendo que fosse arrancada dele por aquela mulher “assustadora”.
O Sr. Romão apontou o seu dedo comprido e fino, gaguejando.
     — U-Uma o-outra b-bruxa?! — ela se aproximou sorrindo, com alguns dentes da frente faltando e o resto que tinham estavam bem amarelados.
     — NÃO SE APROXIME DE NÓS! — gritaram o casal no mesmo instante, tomados por medo e ameaça. Ela parou e disse.
     — Calma, eu não vou mordê-los. — e fez um movimento com a cabeça e as mãos, como se tivesse se lembrado pra que viera. — Me digam de vocês, quem é Rebeca Becca?
Os quatros dedos indicadores apontaram quase instantaneamente em direção de Rebeca que, se encolheu um pouco insegura.
     — É você meu anjo? — sorriu amigavelmente. Rebeca confirmou com um rápido aceno de cabeça.
A bruxa então tirou o pacote preso na cinta e entregou para a garota.
     — Para mim? — recebeu com curiosidade.
     — Exatamente. Sou a bruxa-carteira de Wolbrans e meu nome é Anália, bem não a única é claro. — comentou. — Eu já deveria ter entregado isso antes, mas, não tive muito tempo... estava muito preocupada visitando o motorista do ônibus no hospital. Pobre motorista... — depois prestou mais atenção na menina a sua frente. — Her... quero dizer... bem, o que espera? Abre logo isso, também estou curiosa!
     Rebeca começou rasgar o papel embrulhado do pacote que mais parecia como um presente de aniversário... Mas logo parou quando seu pai adotivo desesperado berrou.
     — PARE IMEDIATAMENTE COM ISSO REBECA!
A bruxa olhou estranhamente e perguntou.
     — Por quê?
Rebeca encarava-o também. O Sr. Romão já estava à flor da pele de horrorizado com os devidos acontecimentos sobrenaturais que sua casa vinha recebendo desde a chegada de Rebeca Becca a ela, e pensando numa outra catástrofe que poderia haver com aquilo, preveniu-na.
     — R-Rebeca não abre isso, por favor! E se daí de d-dentro sair um morcego contaminado p-pelo v-vírus da raiva? Pode nos contaminar! — sua esposa confirmava com rápidos acenos positivos com a cabeça.
     A bruxa ao ouvir teve um acesso de gargalhada e se controlou depois que havia banhado Rebeca com cuspe. Rebeca ainda agradeceu aos céus que ela não estivesse gripada naquele momento.
     — Ora essa é boa, um morcego com vírus. — disse a senhora Anália achando graça. — Vocês são os casais de Broxas mais engraçado que eu já vi.
Rebeca achou não dar mais atenção a seus pais adotivos, pois querendo ou não, eles teriam que ir se acostumando com certas coisas estranhas que viriam acontecer dali pra frente naquela casa. Recomeçou a desembrulhar o pacote, escutando conselhos e súplicas de medo de seus pais adotivos.
Ao terminar viu que era uma caixa vermelha de papelão.
Carla impaciente gritou.
     — Não faça suspense e abre logo isso, que estou muito curiosa!
Karina procurava mais unhas para roer de tanto apreensiva que estava. Então Rebeca tirou a tampa de papel grosso e admirou ao ver o seu conteúdo.
     — Meu Deus... Eu não posso acreditar no que vejo... — dizia ela agora com uma expressão de incredulidade estampada no rosto.
— Meu Deus, digo eu! Só espero que não seja nenhuma macumba! — choramingava fazendo uma careta de medo. Rebeca tirou o que estava dentro da caixa e se dirigiu as suas amigas que olhavam surpresas.
     — Vejam! — e mostrou claramente o vestido negro e o chapéu de bruxa.
Carla assoviou e Karina perguntou.
     — Quem mandou? — Rebeca olhou para a bruxa, esta se lembrou novamente, dando um pulinho no mesmo lugar que estava.
     — Espere acho que está aqui comigo... — e enfiou a mão num bolso e tirou um envelope, entregou para a garota. Rebeca tirou a carta do envelope e leu.
     — Meu querido motorista, quero que você saiba... — e rapidamente a carta foi arrancada das suas mãos e enfiada no mesmo bolso que saíra.
     — Carta errada... — disse sem jeito e enfiando a outra mão num outro bolso, tirando assim vários envelopes coloridos. Vasculhou alguns envelopes a centímetros de seus olhos e achou. — Aqui! É essa, tome.
Rebeca então viu o seu nome escrito por fora por uma letra conhecida. Tirou a carta.




Rebeca desejo que sinta toda a felicidade desse mundo quando estiver completado
seu décimo primeiro ano de vida.
Para não ficar triste se caso não receber nenhum presente no seu aniversário,
eis que, aqui está, a fantasia que eu realmente não queimei, pois
ela pertenceu a sua mãe e agora será sua.
Feliz aniversário meu amor, e me desculpe por nunca ter feito uma festa de
     aniversário antes para você.




Havia gotas de lágrimas descendo pela face quando assim terminou de ler a carta que a sua avó deixara antes de morrer. Mas Rebeca não entendia porque ela tinha forjado aquela cena chocante naquela noite lá no porão. Porque ela tinha feito aquilo?
     Carla espiara a carta e conseguiu ler e também entendera o que havia acontecido, ficou sem saber o que falar.
A bruxa se exercitou um pouco e olhou pro lado, onde estava a sua velha vassoura de trabalho. Ela não havia mudado muito quando a ganhou do seu departamento de transporte rápido-mágico a não ser se for tirar a exceção de que cada dia mais a sua vassoura possuía mais força e mais velocidade, sendo bastante difícil se acostumar com aquela pressão toda.
     — Bem, acho que não vou precisar mais dela. — e as meninas desviaram seus olhares para a bruxa que se abaixava e pegava com carinho aquela vassoura do chão. — Tome, é pra você.
Rebeca achou que ouvira errado e viu que a vassoura estava esticada para sua frente.
     — Você está me dando?
A bruxa sorriu.
     — Estou ficando um pouco lenta e... não estou conseguindo acompanhar o ritmo dela. — e curvou e falou baixinho, como se não quisesse que a vassoura escutasse.
— Estou ficando também um pouco enjoada dela e prefiro usar um outro tipo de transporte...
Rebeca tentou imaginar ela numa moto, e sinceramente desejou nunca estar na rua quando ela estivesse passando por ali, entregando as cartas.
A menina agradeceu.
     — Muito obrigada eu...
     — Espere, ainda não acabou. — interrompeu-a e tirou do seu pescoço uma correntinha com um apito preso nela. Colocou em volta do pescoço de Rebeca.
     — Mas o que vou fazer com isso?
A bruxa revelou.
     — Essa vassoura atende por esse apito. Se caso você estiver longe e precisar dela, é só assoprar com força e ela vem imediatamente ao seu encontro.
     — Nossa ela é tão rápida assim? — indagou Carla impressionada, passando a mão lentamente no seu comprido cabo.
     — Ela é a mais veloz que temos no nosso departamento. — informou com orgulho. Depois novamente olhou a sua volta e viu o estrago que causara ali na sala da família Silva e franziu a testa enrugada. Olhou para os olhos vidrados daquele casal e tratou logo de acalmá-los. — Escutem... vocês não precisam se preocupar com esse estrago todo aqui. Vou permanecer a madrugada toda se for necessário concertando essa janela e todo o resto que quebrei.
     — A noite toda? — engoliu seco, fazendo uma cara de assombro o Sr. Romão.
     — Exatamente.
     - DE JEITO NENHUM! — e logo tentou se controlar. — Quero d-dizer, n-não precisa se preocupar com isso, n-não se incomode é sério! — forçou um sorriso tranquilizante, querendo assim fazer que ela saísse bem mais depressa dali antes que acontecesse alguma coisa pior... antes que seus vizinhos começassem a suspeitar.
     — Não será incomodo nenhum. — disse ela tirando sua varinha da cintura e levantá-la acima do queixo fino. — É só eu usar alguns feitiços da minha varinha e...
     — NÃO É NECESSÁRIO! — berraram o casal alto e muitos mais apavorados quando vira a varinha se levantar para o alto.
A bruxa guardou a varinha e deu de ombro, respondendo.
     — Então tudo bem.










Biografia:
Sou escritor tenho 30 anos, moro em Nova Odessa, mas nascido de Americana-sp. Sou presidente e fundador da SENO (Sociedade dos Escritores de Nova Odessa) que é uma entidade sem fins lucrativos, organizando feiras literárias na cidade, como também premiações de concursos literários. Tenho um livro publicado em parceria com o Rotary Clube de Nova Odessa, em conscientização contra o uso do cerol nas pipas, chamado A Viagem da Pipa Fênix, que teve 800 cópias distribuídas gratuitamente em algumas escolas municipais e bibliotecas. Sou escritor no site canadense Wattpad uns dos mais frequentado do mundo, e meus livros já tem 2 milhões de leituras e milhares de seguidores, me tornando um dos mais acessados do Brasil. Ganhei destaque no site do Wattpad em 2015 ao ficar entre os 200 autores de mais sucesso do site, entre essa lista alguns consagrados escritores nacionais e internacionais, como Paulo Coelho, Dan Brown (O código da Vinci) e Meg Cabot, autora juvenil americana com milhões de leitores pelo mundo. Publicar em sites onlines tem sido uma ferramenta de grande ajuda para o auto reconhecimento, e nesse site, Escrita - BVE tenho mais de 60 mil leituras de três capítulos do meu livro juvenil. É uma honra em fazer parte desse grupo de amigos escritores e desejo a todos um 2016 próspero e de grande sucesso.
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Publicações de número 1 até 6 de um total de 6.


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