Ainda naquela mesma manhã.
Quando Karina e Carla subiram ao clube da árvore se surpreenderam ao ver ali sentada a sua amiga Rebeca.
— Rebeca?! — disseram elas quase instantaneamente juntas. A garota acenou timidamente.
— Olá vim fazer uma visita.
Karina e Carla se entre olharam confusas.
Carla largou uma cesta de piquenique coberta a qual trazia nas mãos e indagou preocupada.
— O que aconteceu Rebeca que você não veio nos visitar antes? Pensamos que havia desaparecido ou mudado, coisa do gênero!
— Eu e Carla estávamos tão preocupadas com você que até fizemos um retrato seu para distribuirmos pela cidade a sua procura — informou Karina.
— Um retrato falado de mim? — achou graça a menina, dando seu primeiro alegre sorriso naquela manhã de 31 de agosto.
Karina retribuiu o sorriso. Ela se sentia tão bem quando suas amigas sorriam. Depois destampou a cesta e tirou uma folha de desenho.
— Aqui está. Veja não ficou legal?
Rebeca recebeu o desenho. O rosto desenhado era um pouco mais cheio que o seu e os olhos muito apertados, um nariz de tomada e orelhas de abano, só os cabelos longos parecia um pouco com os seus verdadeiros.
— Tem certeza que não é uma caricatura? — ela brincou. Karina ficou ruborizada. Rebeca percebendo que a amiga ficara vermelha de vergonha disse. — Eu até que gostei. Não daria para mim como meu primeiro presente de aniversário desse ano?
As duas garotas ficaram encantadas.
— Hoje é o seu aniversário? — Karina abrira um sorriso que quase cobriu a cara toda.
— Sim.
— Então meus parabéns! — e ela abraçou a amiga muito feliz.
Carla virou o rosto quando elas se abraçaram. E depois retornou a olhar.
— Parabéns Rebeca. É uma pena não ter nos informados antes, talvez até pudéssemos lhe preparar uma festa aqui no clube. — comentou Carla.
Rebeca sorriu.
— Não se preocupe, a festa maior que eu poderia ter é estar com as pessoas que eu amo. E vocês duas são essas pessoas. — depois não conseguiu esconder o seu sofrimento e permitiu que as emoções tomassem o seu coração. O peito pesou e esquentou de saudade da avó e de seus pais falecidos e duas gotas escorreram lentamente na sua face.
— O que foi Rebeca? — quis saber Karina, que entristecera naquele momento. Carla havia achada estranha pelo jeito que ela falara e achando que entendera o que ela havia falado, sentiu um arrepio pelo corpo.
— O-O que aconteceu afinal? — a voz de Carla foi transmitida por um leve sussurro e pouco tremida.
— Minha avó morreu.
O pavor tomou conta dos rostos das meninas. Carla ficou de olhos vidrados, sentindo uma coisa esquisita no estômago e Karina sentiu a respiração pesar, como se tivesse subido uma montanha correndo. As duas estavam sem saber o que dizer naquele momento, apenas seus olhos diziam o quanto estavam arrasadas com aquele triste acontecimento.
— Foi por isso que... que eu não pude vim visitá-las. — contava ela, reparando que a amiga Karina tinha seus olhos marejados de lágrimas. — Nesse tempo todo eu estava num orfanato.
— O quê?! — Carla se chocou ainda mais.
— Fui adotada. — disse numa voz fraca e abatida.
Carla sentia agora por dentro um calor de raiva tomar suas veias.
— Rebeca... E-Eu estou arrasada com tudo isso que aconteceu a você. — falou Karina agora mais branca que a cor natural da sua pele.
— Obrigada Karina. — Rebeca fez um carinho em seu cabelo.
Carla olhou bem e percebeu aquilo que ela e nem Karina talvez tivesse percebido antes devido à surpresa que as pegaram desprevenidas.
— Rebeca?
Ela olhou para Carla.
— Por acaso isso que você está usando é uma... – estava de dedo apontado.
Rebeca sorriu e confirmou dizendo.
— É uma longa história que irei contar depois do café da manhã. —disse Rebeca remexendo nas sacolas que elas trouxeram. Carla e Karina novamente se entre olharam confusas.
Depois que Rebeca devorara um pacote de bolachas recheadas e comera pelo menos umas quatros fatias de pão com presunto e mussarela e bebera quase uma garrafa de guaraná todinha, isso é claro, com os olhares assustados das amigas, aí a garota relatou o que acontecera com ela naquela manhã.
— Mas isso é um absurdo! — indignou Carla ao saber da atitude dos pais-adotivos dela.
— Que Buda ilumine seu caminho, Rebeca. — disse a amiga.
Rebeca olhou confusa para ela e Carla adiantou a explicar.
— Os pais dela são budistas.
A garota aniversariante achou interessante, quis saber mais.
— E você também frequenta o budismo?
— Não, eles não me permitiriam.
—Porque não?
— A religião budista é contra qualquer tipo de prática de bruxaria mágica. Ela é mais conservadora no plano espiritual que na magia.
— Entendo. E seus pais não são contra que você...
— Felizmente não. Eles são budistas bem radicais, sabe, é tipo um Dalai Lama.
Carla novamente se adiantou a explicar, pois notara que Rebeca não tinha muito conhecimento nessa parte.
— Dalai Lama é um tipo um guia budista e é também um escritor, como Paulo Coelho pra ser mais exato, ambos trazem mensagens espirituais e palavras de confiança para humanidade.
Rebeca estava impressionada com ar de conhecimento de Carla.
— Ah! — lembrou Carla de algo mais interessante que religiões de orientais.
Karina leu o que se passava em seus olhos e nutriu a empolgação rapidamente.
— O que vocês têm? — desconfiou Rebeca achando estranha atitude delas.
Carla foi engatinhando até um canto onde tinha um baú. Abriu-o e tirou um envelope pardo.
— Você terá uma surpresa! — disse ansiosamente Karina.
Carla voltou engatinhando e sentou na roda, de pernas cruzadas.
— O que é isso? — apontou o dedo.
— Adivinhe! — retrucou Carla sorrindo.
Rebeca pensou.
— Um envelope?
Carla fizera gestos com as mãos devido à resposta “tão” inteligente dela.
— É óbvio que é um envelope, não acha?
Rebeca estava ficando impaciente.
— Anda, pare de fazer mistério e revele logo o que tem dentro! — implorava.
Karina riu, dando pistas.
— Vou dar uma dica, olha só: é um convite. Somente isso.
— Um convite... — ficou a pensar. — Um convite de quê?
Carla se rendeu e entregou pra ela o envelope fino. Rebeca muito curiosa começou abri-lo. Tirou um outro envelope e notou que neste havia seu nome escrito e seu antigo endereço. Achou meio estranho e abriu-o este também, um pouco menor que o anterior. Tirou um cartão de dentro e leu:
Prezado (a) Senhor (a): Rebeca Becca
Venho por este comunicado para informá-la que você foi matriculada na lista desse ano de alunas para cursar durante os sete anos letivos toda a parte fundamental necessária da magia e bruxaria na rede de ensino de magia e bruxaria na escola de Wolbrans.
Informamos que é necessário ter a provação de seus responsáveis para embarcar na condução a destino à escola de Wolbrans que chegará as 19h30 do dia 31 de agosto desse ano, no endereço: Rua: Abandonada.
_______________________________
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL
Atenciosamente, Secretaria de Magia do Brasil.
Rebeca esfregou os olhos com as costas das mãos para se certificar que não era uma ilusão.
— C-Como vocês conseguiram? — a garota estava quase paralisada de tamanha felicidade, seus pensamentos tristes se dissiparam daquele momento.
— Nós mandamos uma carta para a Secretária de Magia do Brasil querendo nos matricular, e Karina sabe como é, cheia de entusiasmo e bem adiantada colocou junto com nossos nomes o seu também.
Karina ficou um pouco tímida ao comentário da amiga.
— Espero que não fique zangada comigo por não ter pedido sua autorização antes... — ia se desculpando ela.
Rebeca se atirou em abraços em cima da coitadinha que, precisou ela separar se não Karina ia ficar ainda menor que já era.
— Ficar brava? Nunca! Obrigada minha amiga. — a menina só faltou beijar-lhe os sapatos dela. Parou de repente com a alegria, como se alguma coisa importante ainda faltava, e como era importante. — A partida é hoje à noite. E preciso ter a assinatura daqueles meus “pais”. Será que depois de tudo que aconteceu, eles vão querer assinar?
— Não vamos saber se caso continuarmos aqui, não é? — disse Carla se levantando. — Mas primeiro temos que arranjar uma roupinha para você vestir, por que assim não poderá sair daqui.
Encorajada por Carla e Karina Rebeca resolveu ir com suas amigas até a casa de seus pais adotivos. Agora Rebeca e suas amigas estavam diante a porta da casa Silva. Rebeca estava um pouco nervosa e conseguiu apertar a campainha. Seu pai adotivo abriu a porta.
— Então você voltou, é? — caçoou ele, permitindo mostrar um olhar cheio de raiva. Ele notou que a garota estava vestida de uma roupa masculina, de calça jeans larga de tipo que os jovens rap usam em esportes radicais, cuja roupa era de um primo de Carla e também usava uma camisa do tipo que as pessoas olham e dizem: só um malandro poderia usar isso! O Sr. Romão olhou também para as duas garotas que estavam em volta de Rebeca, onde Karina um pouco insegura correu para trás de Rebeca, fazendo-a de seu escudo protetor. — Quem são essas duas? — falou ele desconfiado.
Rebeca estava paralisada, discretamente Carla cutucou-a as costelas dela e falou entre os dentes.
— Rebeca, fale agora. — aquele homem na porta se sentia um tonto ali esperando alguém se manifestar. Impaciente indagou.
— Vão dizer alguma coisa ou vão ficar aí me olhando? — Carla decidira por Rebeca tomando o convite de suas mãos e se aproximou ao homem de cara rabugento.
— Bom dia, meu nome é Carla — e estendeu a mão pra cumprimentá-lo, mas, o Romão ignorou-a. Carla recuou a mão e sorriu novamente falando. — Como estava falando, meu nome é Carla e sou amiga de Karina e de Rebeca. Viemos aqui para lhe trazer isto. — O homem hesitou em receber o convite, mas pegou-o e indagou passando rapidamente os olhos no conteúdo escrito, sem dar nenhum pingo de sua atenção.
— Que Diabo é isto?
Carla suspirou, tentando escolher as melhores palavras para dizer.
— É a autorização que você ou sua esposa precisam assinar para que Rebeca possa frequentar as aulas de magia e bruxaria da escola de Wolbrans com a gente, e que fica aqui mesmo no Brasil.
O rosto de Romão mudou sua expressão. Agora parecia incrédulo.
— Mas que piada é essa! — e desacreditado como um Tomé preferiu conferir com os próprios olhos. Rebeca e Carla notaram que o Sr. Romão estava pálido como um fantasma, quando lia a autorização. Os olhos arregalados do homem se levantaram para Carla.
— M-Magia e-e B-Bruxaria? — sua voz estava pregueada de horror.
— Exatamente senhor, e logo seremos boas bruxas legitimas e... — ela parou devido o grito daquele sujeito a sua frente.
- SAIA DA MINHA CASA SEUS DEMÔNIOS! — batendo ainda com mais força a porta na cara dela.
— Me chamou de Demônio. — disse admirada, virando-se para Rebeca.
Dentro da casa o Sr. Romão estava pregado à porta e respirava como se tivesse subido o monte Everest em saltos. Sentia o coração pular desesperado no peito e tinha as mãos um acesso de tremedeira. Olhou para o convite em mãos e engoliu seco. Acreditara em instantes que poderia ser uma brincadeira para assustá-lo, mas descartara a ideia devido à empolgação daquela garota ao falar de magia, bruxaria e bruxas. Ele estava desesperado com aquilo, as palavras magia e bruxaria não paravam de ecoar em sua mente. Olhou mais uma vez aquela folha e sabia o que deveria fazer.
Quando estava começando a rasgá-lo escutou um berro no andar de cima, era de sua esposa. Não demorou muito para vê-la descendo as escadas em seu roupão de banho e com sua touca de cabelo. O marido perplexo foi ao seu encontro, tomando-a em seus braços.
— O-O que aconteceu? P-Por que esses berros todo?! —Ela parecia muda diante dele, custou muito para abrir a boca. — Diga logo você está me assustando! — falou o marido sem saber o que fazer. Mas ela então olhou desesperada nas escadas e apontou o dedo trêmulo. O marido seguiu o dedo da mulher onde indicava a um estranho homem trajado por uma capa negra, de um chapéu de bruxo na cabeça e possuidor de uma longa barba cinzenta. Seus olhos eram pretos como as trevas e encaravam o casal estupefato de horror.
— Q-Quem é-é v-você?! — indagou aterrorizante o Sr. Romão dando passos junto com a esposa para trás quando aquele sujeito assustador vinha em suas direções. A mulher quase enforcara o marido ao se abraçar fortemente querendo proteção, ela falou em voz descontrolada.
— E-Ele saiu de d-dentro da... da... BANHEIRA!
O marido olhava bem para ele, e não conseguia acreditar no que a esposa falara, pois aquele homem estava com a roupa seca e não havia um sequer pingo de água sobre ele. O misterioso homem se aproximou e parou um metro deles, o casal se encolhendo contra a parede e implorando.
— N-Não nos mate! R-Roube tudo que quiser, mas deixe-nos a vida, por favor! — implorava Romão. Os olhares agudos do homem misterioso os fizeram pararem de choramingar.
— Você irá assinar essa autorização! — era sua voz rouca e fria, que dava arrepios só de escutar. Romão apertou mais forte a folha que segurava. A esposa surpresa tanto no medo quanto também na curiosidade olhou para a mão do esposo, indagando.
— O-O que é isso que e-está segurando?
Agora gotas de suor escorriam pela testa magra do marido e mentiu.
— N-Não é nada, querida, nada.
O homem esticou a mão, onde no seu dedo indicador permanecia uma bela e faiscante aliança de prata e pronunciou uma palavra que com certeza aqueles dois nunca ouvira na vida.
— Esnap! — e a Sra. Wânia sentiu uma coisa estranha na costa de sua mão esquerda. Seus olhos fixavam na coisa mais bizarra que já vira acontecer na vida.
— O QUE É ISSO?! — explodiu o marido vendo o que achava impossível acontecer. Uma pena brotava na costa da mão da esposa, que esta vendo choramingava rezando em voz baixa.
O homem misterioso arrancou a pena da mão dela e a mulher berrou.
— Aqui está à pena, é só assinar em baixo. — entregou a pena que nasceu da mão da esposa.
— Mas quem é você afinal?! — num instante rápido o Sr. Romão encheu o peito com coragem. O homem sorriu assustadoramente, revelando:
— Sou um poderoso bruxo.
—EU ASSINO! — gritou desesperado tirando a pena da mão do bruxo com medo e sob os olhos esbugalhado da esposa, virou para a parede, apoiando o papel, assinou na linha o seu nome completo, e entregou rapidamente a pena ao bruxo.
— E a autorização também. — Romão rapidamente se desfez daquela autorização, empurrando para o tal assustador bruxo. A esposa nada dizia, estava petrificado de pavor ao saber que aquele homem era um bruxo.
— Foi um pequeno prazer em conhecê-los, broxas. — estendeu a mão ao trinco da porta e abriu-a. Ali estavam Rebeca, Carla e Karina de ouvidos grudados na porta que até pouco antes estava fechada. Estavam tentando escutar o que acontecia na sala. O bruxo pigarreou, tirando a falta de atenção das meninas.
Elas viraram a cabeça e depararam com o bruxo que as avaliavam.
Rebeca foi que se mais afastou para trás. Carla então se admirou.
— Você é... é um bruxo?
Karina olhava sem poder direito acreditar.
— Um bruxo de Wolbrans? — o tal bruxo fez sinal com a mão para que Rebeca fosse até ele, enquanto o casal Silva apreensivo espiava no canto da porta aberta.
A garota hesitou, mas Carla voltou-se a ela, puxando-a pela manga da camisola para o encontro dele, dizendo empolgada até demais, como se estivesse sonhando:
— Venha Rebeca, não o deixe esperando, vai depressa.
O homem avaliou-a bem e sorriu.
— Então você é Rebeca Becca? — ela assentiu assustada. — Aqui está a sua autorização para estudar na escola de Wolbrans. — e Rebeca pegou a autorização, vendo ali a assinatura de seu pai adotivo. Seus olhos se revelaram de admiração. O tal bruxo revirou para trás e as duas cabeças que estavam observando-o se recuaram imediatamente dali, e o bruxo voltou-se para as meninas, agora curvando a cabeça entre elas, pedindo confidencialmente.
— Espero que não contem para ninguém que eu estive aqui, se não posso entrar numa fria e vocês também. — disse ele em voz baixa, cuidando que sua voz não chegasse a ser ouvido pelos dois broxas. — Guardamos esse segredinho juntos, O.K.?
Elas apenas olhavam-no sem muito compreender, mas assentiram todas. Ele sorriu satisfatoriamente — Tenham uma boa viagem até Wolbrans. Até breve.
E ele virou o corpo e passou entre a porta da sala aberta, o casal se entre apertaram contra a parede quando este passava ao seu lado, sem dar agora a mínima atenção para eles agora. Subiu as escadas com o vestido negro varrendo algumas poeiras que ali se pregueavam nas tábuas dos degraus. Este virou a direita a um corredor e entrou numa outra porta aberta deixada pela Sra. Wânia quando saia desesperada do banho em sua banheira e assim como facilmente saiu das águas o fez, voltando por onde saíra, desaparecendo por completo, como se utilizasse um feitiço para desaparecer.
Rebeca olhava sem mesmo poder acreditar no que via. Tinha agora a oportunidade de aprender fazer coisas que achavam não existir de fatos e principalmente ficar um bom longo tempo longe daqueles pais adotivos arrogantes e chatos. Seria também uma bruxa junto com as suas amigas e teriam novas amizades na escola de magia e bruxaria de Wolbrans.
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