primeiro capítulo;
-Elliot, larga o meu pulso! Que merda! - tentei soltar-me, mas foi em vão, visto que o seu braço estava revestido de músculos, coisa que eu não tinha.
-Deixa de ser teimosa, Hayley. - ele limitou-se a murmurar num tom chateado, enquanto me arrastava para dentro do seu carro.
Elliot empurrou-me sem dó para os bancos de trás e deu a volta ao carro, colocando-se em frente ao volante. Assim que o automóvel entrou em movimento eu massajei o meu pulso, que se encontrava dorido.
-Bruta montes. - resmunguei entre dentes, recebendo um riso irónico em troca.
-Eu disse-te para não vires e tu vieste.
-Já te avisei que não mandas em mim, Elliot.
-Avisei-te das consequências... - ele continuou, fazendo-me cruzar os braços sobre o peito e encostar-me ao banco atrás de mim.
-Eu odeio-te. - ripostei.
-Eu também te odeio.
Um rapaz desconhecido, moreno e bonito, encontrava-se sentado no lugar do passageiro, e não tirava o seu olhar de nós nem por um segundo, o que me irritou por alguns segundos, mas depois limitei-me a encostar a cabeça à janela e observar as pingas de chuva que deslizavam pelo vidro.
O meu telemóvel marcava as 4:53AM quando o carro parou numa rua deserta e com poucos candeeiros. O moreno desconhecido saiu do carro, depois de olhar para mim e cochichar algo com Elliot, quebrando o silêncio naquele carro. A sua porta foi fechada com brutalidade e o automóvel arrancou rápido demais, fazendo-me sobressaltar.
-5 DA MANHÃ, HAYLEY? - Elliot gritou no banco da frente. - EU ACHEI QUE TE TINHA DEIXADO EM CASA E COM REGRAS!
-Tu não mandas em mim.
-MANDO SIM! - ele bateu com a sua mão no volante, que soltou uma apitadela. - E VAIS DORMIR COMIGO ESTA NOITE, NEM QUE TENHA DE TE POR UMAS ALGEMAS.
-Pára o carro. - murmurei, olhando-o com raiva.
-Eu não vou parar o carro, são 4:56 da manhã, caralho!
-Pára o carro,Elliot Monroe. - rosnei, batendo-lhe no braço. O seu olhar cruzou-se com o meu por meros segundos, através do retrovisor, e a sua cabeça abanou em negação. - Se me odeias pára o carro!
O automóvel fez uma paragem brusca e eu senti-me vulnerável ao sentir que Elliot me ia mesmo deixar na rua. Pelo contrário, foi Elliot que abandonou o carro e retirou o maço de cigarros no chão no carro. Já no exterior, andou de um lado para o outro, enquanto fumava quase sem paragens para respirar e passava as mãos pelos seus cabelos. O frio vindo da sua porta estava a fazer-me estremecer, e esfreguei os olhos, sentindo-me culpada de toda aquela discussão.
Abri a porta ao meu lado e coloquei os pés no chão molhado, aproximando-me de Elliot. Não hesitei em enrolar os meus braços à sua volta, mas ele não retribuiu. Como sempre, eu fiz merda.
-Eu não quero falar sobre isto. - sussurrei finalmente, não tento a coragem suficiente para o olhar nos olhos.
-Tudo bem. - a sua voz era fraca, e mais uma vez levou o cigarro aos lábios, já quase no filtro.
Assenti lentamente e afastei-o de mim. Voltei a entrar para o carro e encostei-me à janela. Fechei os olhos, quando tive a certeza que Elliot já estava ali comigo, e senti o carro a começar uma viagem agora mais calma e silenciosa.
Talvez 10 minutos mais tarde o carro estacionou, e eu fui a primeira a abandona-lo. Caminhei apressadamente pelo passeio de pedra, alcançando a porta, que abri depois de retirar a chave escondida dentro do vaso de flores.
-A minha cama não tens lençóis lavados, Hayley. Ou dormes no sofá ou dormes por cima dos cobertores.- Elliot avisou, depois de entrar atrás de mim. Já em frente ás escadas virei-me para trás, vendo-o a fechar a porta de casa e a pousas as chaves na mesa de entrada.
-Eu gosto do cheiro dos teus lençóis. - dei por mim a sorrir, enquanto subia degrau a degrau. O loiro seguiu-me até ao seu quarto e apanhou as roupas do chão assim que entramos.
Descalcei os meus ténis pretos e despi as minhas calças da mesma cor, ficando apenas com a minha T-shirt cinzenta. Deitei-me por debaixo dos lençóis da cama de Elliot e observei-o no canto do quarto. Sorri-lhe tristemente e ele aproximou-se.
-Dorme aqui. - pedi num sussurro, e ele assentiu rapidamente. Retirou as suas skinny e trocou a T-shirt preta por outro idêntica, que agarrou da cadeira ao lado da cama. Deitou-se ao meu lado e virou-se de barriga para cima.
-Queres saber quem era o rapaz que estava no carro, certo? - ele perguntou, mas não me deu tempo para responder. - Takumi Hood, o nome dele não te é estranho. - falou, desta vez de forma irónica.
-Desculpa. - murmurei, encarando o tecto, e ele fez o mesmo. Ambos suspiramos, quase ao mesmo tempo, e eu alcancei a sua mão por entre os lençóis, entrelaçando-as.
-Estás desculpada. - ele sorriu ligeiramente, olhando para mim. Elevou as nossas mãos, e depositou um beijo em cada um dos meus dedos.
-Pára. - a minha voz quebrou, ao sentir a sua respiração perto do meu pescoço. Um beijo delicado foi depositado no meu queixo e o seu tronco rapidamente se virou de costas para mim. Rolei os olhos, virando-lhe também costas.
-Nunca me deixas-te explicar.
-Eu não preciso que me expliques. - ainda o ouvi dizer, mas ignorei. Fechei os olhos e tentei dormir, agarrando-me aos seus lençóis de forma possessiva, e tentando esquecer o escuro que engolia aquele quarto, onde dois adolescentes se encontravam, tristes.
|