Se sumisse a música em teus ouvidos
o que ouviria nas ruas cheias de ruídos?
Cascos de cavalos, a alma do vidro partido,
a sombra arrastando o sol, pó moído,
a mão da luz raspando a face do morango,
os pés dos dançarinos de tango,
o corte na página em branco
pela pena do poeta,
o suor, em pingos,
de sua testa?
Ou cantaria a canção
de sua alma com fúria e calma?
Poria a atritar o sangue de tua sedução
contra o corpo e fenda do universo
feminino em bruta dissolução?
Ou, em última pose para a foto,
ruiria pensamentos como colunas
de fogo abraçadas ao ronco da moto?
Cansado e feliz,
como são os que trabalham nas olarias,
a ária dos desesperados, em sol maior,
cantaria?
|