Muito além de deuses fúteis
e colinas sagradas,
bem depois da Polinésia
com suas plantações de arroz,
com homens agachados
e mulheres sem pó
nos rostos,
onde a faca do tempo reparte horas a iguais,
ali, onde o cão late e o universo ouve,
apanho o que resta dos poemas estranhos
cantados a seres mais estranhos ainda,
e o pouco que nos resta de sangue e luz
é o que alimenta e tece nossas vestes,
e a vida celebra o fim da peste,
surge o sol ensandecido no coração de um rei,
um homem sem o córtex ultrajado, sem leis,
com as quatro estações em suas mãos
responde a cada pedra que se cala,
ouve cada sangramento de estrela,
repele, enfim, o mal mais desejado,
o amor,
que torna todo homem besta de si,
aéreo,
fazendo com que nasça de cada mente,
vagarosamente,
a mais bela flor,
extirpada de si a tragédia,
brutal criação
de um deus já morto e exilado...
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