Como se em teus olhos visse o que não vejo
diante de minhas retinas,
se me desse a coragem combater o medo
que me procura pelas esquinas,
sairia deste quintal cheio de lanças,
sairia deste tempo de criança
e envelheceria como fazem os rios,
que se deitam e dormem muito além do frio
que os esperam nos braços do mar pio...
Sem nenhuma pergunta que ferisse ouvidos,
sem nenhuma palavra que lembrasse promessas,
buscaria a paisagem além dos sentidos,
carne e luz, mistério às avessas...
Talvez um dia, quando soarmos como gotas
que caem, esmaecidas, mais de mil vezes,
na sala onde deuses conversam, sem roupa,
talvez se cure a fome, essa estranha sede...
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