Ao poema completo nunca faltará
o verbo
a expulsar
sentidos desconexos,
o adjetivo que muda a cor do vidro,
o predicado que, de tão delicado,
remonta a eras priscas,
tropel de palavras ariscas...
O poema completo
traz dentro de si o homem que se curva
e o homem ereto,
a paz dos que sangram e morrem em suas poesias,
traz a cantiga do trovador e a canção amiga
onde poder-se-ia perceber o deserto
que há em cada palavra
quando cada uma quer calar
o despertador do mundo repleto
de ruídos e sons de mar...
No poema completo
há o pavor
de que o certo
se transformará em errado,
há a virgem pura
rodeada de pecados,
a cruz solta no espaço,
o homem de estendidos braços,
nele há palavras acesas,
belas, límpidas,
outras mortas de sede...
Ao poema completo só falta a arte humana:
a loucura que reina, plena, soberana...
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