Caminhava apressado, atento a cada sombra, vigiando cada esquina cruzada. A lua podia se esconder atrás das nuvens, mas ele não podia enfiar-se em parte alguma. O encontro fora um erro, sem dúvidas desconfiaram dele; agora, certamente o caçavam madrugada adentro.
Pisou numa poça formada pela chuva já caída e assustou-se; De tão absorto que estava nos arredores, descuidou-se de observar o percurso que fazia, queria somente despistar os prováveis perseguidores.
Prosseguiu, mais cauteloso, mas mesmo assim quase teve um ataque cardíaco ao receber violentos latidos de um cachorro de rua envolto pelas trevas. Conteve o xingamento, engoliu a indignação, limitou-se a olhar feio e apertar o passo.
Um ônibus ia parando adiante e o homem correu, dando sinal. Entrou, pagou e encolheu-se num assento do meio, pálido sob a luz artificial. Examinou o coletivo, entortando-se pra um lado e pra outro, e constatou ser o único passageiro. Aquilo o aliviou.
Suspirou, tranquilo pela primeira vez em horas, recostou a cabeça no banco e fechou os olhos. Não notou a figura sinistra de olhar perfurante que ergueu-se sentada três fileiras atrás.
|