Será que o poeta
sente mais que a moça correta
que amou um cafajeste,
que lhe foi a peste,
será que o amor se presta
a doer mais no verso ensanguentado
do que no peito de quem foi abandonado?
O poeta, esse vago sonhador,
será que sabe mais dos riscos
do que quem morre do amor?
Ninguém na rua vê o que se passa
dentro da carcaça
do poeta que cambaleia
quando, na ampulheta, a areia
desce arranhando a garganta do tempo,
faz-lhe propor versos instintivos
que só entende quem sente o vento
anunciador da tempestade
que o coração do poeta invade...
Talvez nada seja assim verdadeiro,
nem mesmo a dor
de se perder o amor primeiro,
por ser o poeta, como já disseram,
um eterno fingidor...
|