Estou aqui a pensar o impensável,
como deter meteoros que viajam
em busca do corpo da Terra,
velozes, impenetráveis
em sua essência tão antiga quanto Deus,
sabendo que a ciência e seus inventos
jogarão bombas com seus estilingues,
que o homem vai ao mercado comprar pão,
vai ao cinema ver o futuro,
vai ao passado se ajoelhar e rezar,
mesmo sabendo que o homem caça seu semelhante...
Estou aqui a pensar um bote que flutue
sobre miserabilidades,
cá estou cantando um fado sem bandolim,
a passear ovelhas como o Guardador de Rebanhos,
um pouco sentindo a poesia escrita a séculos,
um gomo de agonia, um nada sem fim,
em meio a tanta gente ser tão estranho,
protegido por meu amor, que ama a mim...
Me ergo e saio ao mundo de passarelas,
abro meus olhos como duas janelas
que recebem paisagens e destroços
de guerras que acontecem agora,
ergo meu espírito como a águia que voa,
ergo ao sol a vida que tenho por minha,
mesmo que quando se fechem as cortinas
do espetáculo maravilhoso que é viver
saiba, por conta própria, que lembrar,
antes de mais nada, é esquecer...
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