Ao dar uma rápida olhada no jornal pela manhã, me deparo com uma manchete curiosa, para não dizer sobrenatural. A reportagem relata que os moradores do Bairro Missiones, da cidade de Rivera, vizinha da minha Santana, andam apavorados com as aparições de um estranho ser que perambula durante a noite pelas ruas do lugar, invadindo pátios e residências. O ente desconhecido foi visto rondando as moradias e também no alto do telhado de algumas casas, de onde teria uivado como um lobo em noites de lua cheia, assustando os moradores e desaparecendo rapidamente aproveitando a escuridão das madrugadas. O fantasmagórico personagem foi descrito por alguns moradores como sendo um homem alto, vestindo roupas escuras, olhos avermelhados e com uma cerrada e longa barba negra. O lobisomem, como passou a ser chamada a misteriosa aparição, motivou frenéticas investigações da polícia uruguaia, mas nada de concreto foi averiguado pelas competentes autoridades do simpático país vizinho. Alguns voluntários resolveram se mobilizar para capturar o misterioso indivíduo, mas apesar das rondas noturnas vararem a noite, o lobisomem não foi encontrado. O insólito acontecimento,que mobilizou toda a comunidade do Bairro Missiones, tem deixado os moradores do bairro amedrontados e receosos, pois temem que o estranho e sobrenatural personagem seja agressivo e ataque alguém. Conversando depois com alguns conhecidos sobre o palpitante assunto, as opiniões foram variadas: para um, o tal de lobisomem é apenas algum "borracho” que anda incomodando os vizinhos; para outro, toda esta confusão não passa de invenção “destes castelhanos” que "gostam de aparecer” e não acharam um jeito melhor! Um terceiro me diz que “ no creo em brujas", pero..." Mais adiante, sou parado por um outro sujeito que, honrando as nossas melhores ( ou piores...) tradições, já veio trazendo a solução para o problema: - não quero nem saber se o lobisomem castelhano é lobisomem ou não é! Se inventar de aparecer na minha frente, é melhor que que o bicho se apronte, pois vai levar uma tunda de relho e vai assombrar lá em Tranqueras. Um amigo uruguaio tem a certeza absoluta de que isto só pode ser coisa de lobisomem brasileiro! Segundo ele, é o que dá ser vizinho do Brasil, que contrabandeia estes indesejáveis carnívoros para o seu civilizado país... Para reforçar ainda mais a sua tese , afirma com convicção, que “los brasileños son mui sacanas, por supuesto”, com o que concordo por inteiro. Recebo um telefonema urgente de um colega que, entusiasmado com a possibilidade de capturar para estudo o lupínico indivíduo, me convida para ajudá-lo na caçada ao tal de lobisomem, pois pensa que temos uma oportunidade única de estudarmos um caso de licantropia castelhana, algo nunca visto por estas bandas da fronteira. Agradeço o convite para ajudá-lo na prisão e no estudo do lobisomem e repartir as inevitáveis glórias científicas, mas acho melhor ficar quieto aqui no meu canto e não me meter nestas confusões sobrenaturais e internacionais. Não sei o que se passa na cidade irmã e acabo por me lembrar de um fato semelhante ocorrido á muitos anos atrás na minha Rio Grande de São Pedro, quando um misterioso ser alcunhado de " O fantasma da Moron”, assustou a população. Na antiga Rio Grande de São Pedro, o insólito fenômeno perturbou por algum tempo os moradores da Rua Moron, mas o caso nunca foi elucidado, embora permaneça vivo no imaginário popular e tenha se tornado uma lenda urbana clássica que persiste teimosamente desde meados do século passado. Sei lá se o lobisomem do bairro Missiones não é o mesmo que assombrou a minha infância e que resolveu reaparecer agora por estas bandas fronteiriças... Confesso que fiquei preocupado com a notícia, pois estes entes fantásticos me aparecem desde a infância e parecem ter uma estranha predileção por assombrarem as pessoas do alto dos telhados. Se for o caso do fantasma ou lobisomem ser o mesmo que assombrou a minha meninice, acho bom que fique lá pelo Uruguai, no Bairro Missiones e que não venha me incomodar. Pelo sim e pelo não, acho melhor dormir com o rebenque debaixo da cama...
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