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Procuram-se amoladores XXXI
Pandora Agabo

Eu tinha certeza de que nada aconteceria.

Assisti às três últimas aulas na mesma tranquilidade das três primeiras. "Cão que ladra não morde", não é o que todos dizem? Quem vai fazer não ameaça, só faz. Eu pensava assim até aquele dia.

Quando tocou o sinal da saída, como eu passei o último horário inteiro com o meu material guardado e a minha mochila fechada, apenas coloquei-a nas costas e fui andando em direção à porta. Como de costume, antes de sair, lancei um olhar pra Lúcia, só pra conferir a sua encenação de sempre, só que desta vez ela não estava encenando, ela me olhava de volta, com aquele sorriso torto e arrogante. Eu não tinha medo de sorrisos tortos e vazei despreocupada.

Andando rumo à saída do colégio, notei que os dois rapazes que me ameaçaram estavam encostados no portão, observando o fluxo, mas fixando o olhar em mim quando me viram passar e cochichando um com o outro. Encarei de volta, para deixar claro que comigo não existia isso de me amedrontar. Um deles sorriu debochado e o outro abaixou a cabeça, mexendo em seu celular - provavelmente digitando alguma coisa. Balancei a cabeça e continuei andando.

A caminhada da escola até a minha casa não demorava muito mais que 10 minutos; claro que isso sempre dependia do quão rápido eu estava andando. Pode-se dizer que nesse dia eu estava em uma velocidade média, nem tão rápida e nem tão devagar, mas as duas garotas que vinham atrás de mim, essas sim estavam praticamente correndo.

— Você é a Bárbara? - um delas perguntou apertando meu ombro e me impedindo de seguir andando.

Com a minha cara blasé, virei pra elas e respondi:

— Sou sim. Por quê?

Antes que eu pudesse até mesmo prever qualquer movimento, a outra garota me deu um forte tapa no rosto e para que eu não virasse muito a cabeça, segurou meus cabelos, puxando-me em sua direção, para continuar a agressão.

A menina que fez a pergunta me imobilizou por trás, enquanto a outra garota puxava meus cabelos, me arranhava e me dava tapas ardidos em lugares não muito calculados. Era óbvio que ela não sabia brigar, mas definitivamente ela sabia machucar.

Os meus braços estavam para trás, mas minhas pernas estavam livres e eu tentava, desesperadamente, chutar as duas garotas, mas eu não conseguia, pois a cada tentativa, a que me segurava me apertava com mais força, dando a entender que quebraria meus braços se fosse preciso e a outra intensificava os "golpes".

Não demorou até que aquela cena chamasse a atenção e uma mulher que estava passando de carro o parou, saindo imediatamente e pronta para me socorrer. As meninas me soltaram e saíram correndo, enquanto caí no chão, fraca, com o rosto cortado e vermelho, meus cabelos extremamente bagunçados e chorando sem meu próprio consentimento.

— Menina, você ta bem?!

Eu lhe pareço bem, mulher?!?!

— Não... - respondi cabisbaixa, tentando estancar o sangue que saía do arranhão feito na lateral do meu nariz.

— Meu Deus! Quem eram aquelas meninas?! Pareciam umas selvagens!

— Não tenho ideia.

— Elas simplesmente começaram a te bater?

— Sim. - menti. De que adiantaria dar explicações àquela mulher?

— Você quer que eu te leve ao hospital?

— Não, não precisa. - e então comecei a me levantar, ainda com a mão no meu nariz - Acho que não foi nada sério.

— Quer que eu te acompanhe até a delegacia? Você poderia fazer um...

— Não, não precisa. Eu vou pra casa agora e vou falar com a minha mãe. - tentei acalmá-la. Veja só, era eu que tinha que acalmar aquela estranha!

— Onde você mora? Eu te levo lá! - disse verdadeiramente prestativa.

— Eu moro na próxima rua, não precisa.

— Tem certeza? Você acha seguro ir até lá sozinha?

— Sim. - respondi impaciente, mas não queria parecer ingrata - Obrigada. - e comecei a andar.

A moça ficou me assistindo até eu sair do seu campo de visão, preocupada e temerosa de que aquelas meninas voltassem. Elas não iriam voltar; elas apareceram com um objetivo muito claro, atingiram seu objetivo e se mandaram. Elas não me conheciam e não tinham o porquê de quererem continuar me batendo. Quem me conhece foi quem as contratou. Ou melhor, que contratou quem as contratou. Pois bem, ela deu o seu recado. Sinto muito pela Lúcia, mas eu também tenho um recado pra dar e ele já ta guardado há muito tempo.


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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