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Procuram-se amoladores XXIX
Pandora Agabo

A máscara pode até caber com perfeição em seu rosto, mas em muito tempo de uso ela acaba afrouxando e pode escorregar.

A Lúcia queria que todos acreditassem que, embora estivesse havendo uma espécie de "ódio" coletivo contra mim, ela não estava envolvida nisso e preferia não se meter. "Eu só quero ficar em paz, na real", foi o que ouvi diversas vezes quando via alguém falando de mim pra ela, querendo cultivar a discórdia entre nós duas e ela já vinha com essa resposta pronta. Por mais que as pessoas admirassem esse "auto-controle" da Lúcia, ninguém parecia querer ter um comportamento parecido.

Esse lance de auto-controle também nunca funcionou comigo e sempre que nos esbarrávamos, fosse de propósito (por minha causa) ou fosse sem querer, eu fazia questão de soltar alguma frase como:

— Num ta me vendo não?

Ou:

— Olha por onde anda!

O que só fazia com que o ódio das outras pessoas aumentassem, principalmente porque a Lúcia fazia aquela sua cara de vítima, o que aumentava a revolta de todas aquelas pessoas burras. E a minha também.

Eu não me importava que elas sentissem raiva de mim, eu só me importava com a cara de pau que essa menina tinha de continuar naquele teatro, parecendo tão boazinha e misericordiosa.

Eis que um dia - e eu sabia que esse dia chegaria - ela deixou escapar aquele traço da sua personalidade que eu conhecia bem, muito bem! A Lúcia nunca foi uma garota serena; ela sempre teve um pé na vingança.

Eu estava curvada no bebedouro, sem nem me tocar que havia uma fila atrás de mim, e daí me levantei e esbarrei na pessoa que estava logo atrás. Sim, era ela. Se ela estava ali de propósito, querendo gerar uma situação de embate, isso eu não sei, mas também não duvido.

— Quando que você vai me deixar em paz, hein garota? - ela soltou essa com a sua voz estridente, pegando a todos desprevenidos, até porque, até então, ela sempre se reduziu ao seu papel de humilde e aceitou minhas "agressões" em silêncio.

Apenas fiquei olhando pra ela. Não sei nem por que, talvez porque eu também fiquei surpresa.

— Não liga pra ela, Lúcia. Vamos pra outro bebedouro... - Eleonora tentou levá-la consigo, querendo evitar qualquer briga.

— Não. - mas Lúcia soltou seu braço e permaneceu na fila, atrás de mim - Pra mim já chega de fugir. Eu não vou me deixar intimidar pela Bárbara.

— Não fica se fazendo, pelo amor. Você nunca se deixou intimidar, Lúcia. - era tudo o que eu tinha pra dizer e eu estava pronta para sair.

Dando um passo ao lado, dois garotos pararam em minha frente, tapando minha passagem.

— É essa aqui? - um deles perguntou à Lúcia.

Ela afirmou com a cabeça, esquecendo-se de fazer aquele seu rostinho angelical e sonso de sempre.

— O que vocês querem? - perguntei de queixo erguido; garotos nunca me assustaram, ainda mais garotos de escola.

— Eu quero que você deixe a Lúcia em paz ou então...

— "Ou então" o que? Vocês vão me bater? - já desafiei logo, sugerindo que seria a maior tolice de todas caso eles resolvessem me bater... No colégio ainda por cima.

— Nós não, mas já temos quem esteja disposta a fazer isso por ela. Então ou você fica na sua ou torça pra que a aula nunca termine.

— Ah, sério? - provoquei-os e voltei a encarar Lúcia - Você nunca soube se defender sozinha, né Lúcia? Nunca soube lidar com seus problemas no mano a mano. Tudo bem, vamos fazer o seguinte... - dei mais alguns passos e a empurrei com toda a minha força, fazendo-a cair de bunda no chão e depois retornei para os rapazes - Falem pras suas amiguinhas que eu também to esperando por elas no final da aula. - e saí de perto daqueles trouxas.


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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