Depois de boas férias de Julho, a volta as aulas não era das mais animadoras.
Lúcia havia feito uma viagem incrível para o litoral e Bárbara só teve notícias através de fotografias lindíssimas, já que Lúcia mal tinha tempo de conversar online com a amiga. Bárbara, geralmente, passava boa parte das férias com Butão, às vezes em sua casa jogando videogame, muitas vezes na rua, fazendo qualquer coisa ou simplesmente passando o tempo mesmo. Desta vez ela teve que ficar sozinha em casa, assistindo televisão e morrendo de tédio.
Apesar do tédio, Bárbara não estava animada para voltar às aulas. Ela preferia sentir tédio, a ter que acordar cedo para ir à escola. Lúcia também não queria voltar pro colégio, suas férias tinham sido incríveis demais para ela querer voltar "pra vida real".
— Sabe quem eu encontrei lá? - Lúcia perguntou com um sorriso malicioso já no primeiro dia, atualizando Bárbara.
— Quem?
— Lembra do Mateus, das férias de uns três anos atrás?
— O "Mateus mirradinho" que você dizia?
— Esse mesmo. - ela riu - Ele. Ta. A. Coisa. Mais. Linda. Desse. Mundo!
— Sério?
— Sim! E ele também ficou surpreso quando me viu, por que ele ficava me zoando, me chamando de magricela e num sei o que. Agora né... - Lúcia colocou as mãos nos seios e ergueu as sobrancelhas - Pois é.
— E vocês passaram muito tempo juntos? - a pergunta foi sutil, mas o teor investigativo não foi totalmente disfarçado.
— Você ta querendo saber se eu fiquei com ele, Bárbara? - Lúcia sacou logo de cara o que ela queria.
— Bom, não, mas se...
— Pera, pera, pera. - Lúcia a fez parar de falar e sua postura ficou corretíssima para que ela pudesse espiar melhor o garoto que estava na porta da sala, olhando para uma folha de papel.
Ao que tudo indicava, aquele era um aluno novo e ele estava perdido. Elevando o volume da sua voz, ainda sentada, Lúcia perguntou:
— Que sala você ta procurando?
— 115, só que aqui ta...
— 01/15. É assim mesmo, é uma bagunça a numeração das salas. Entra aí.
Sem jeito, o garoto entrou na sala e caminhou até onde Lúcia e Bárbara estavam sentadas.
— Você ta vindo de que escola? - ela perguntou com os olhos curiosos.
— Ah, eu não sou da cidade.
— Ah ta. É de onde?
Com esse diálogo casual, logo o rapaz - Inácio - estava sentado na fileira ao lado das meninas, conversando com Lúcia, respondendo a todas as suas perguntas. No curso da aula, Lúcia já estava com a sua carteira colada na dele, cheia de conversinhas e risinhos, interrompendo a aula e usando como desculpa "to recebendo o aluno novo, professor".
As outras garotas demonstraram interesse pelo Inácio, mas nenhuma teve coragem de se aproximar, porque Lúcia marcou seu território eficazmente, deixando Bárbara irritada com toda aquela situação.
No intervalo, quando as duas levaram Inácio até o banheiro, Bárbara comentou:
— Vê se não esquece do Butão, hein?
— Do que você ta falando? - Lúcia ficou mexendo nas pontas de seu cabelo, fazendo-se de indiferente.
— Ah, para né, Lúcia? Você ta dando super mole pro aluno novo.
— Credo, Bárbara! Posso nem ser simpática...
— Isso não é só simpatia.
Bárbara riu, falando com bom humor, mas Lúcia não recebeu aquilo com o mesmo humor.
— Aff, para de ser ridícula. Não é porque você não tem o menor jeito com os garotos que quem tem fica dando mole pra todos eles, ta? - ela jogou os cabelos para um ombro e seguiu - E você pensa que eu não entendo esse seu zelo todo no meu relacionamento com o Alexandre, né? Ai, ai...
— Como assim? - Bárbara se assustou.
— Você se realiza nele. É como que se você namorasse o seu "Butão" através de mim. Acha que eu sou boba, Bárbara?
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