A transparência fazia com que Bárbara se sentisse muito mais aliviada. Agora que ela sabia que Lúcia e Butão estavam juntos oficialmente, sua implicância pelo casal diminuíra consideravelmente, até porque sua amiga fazia perguntas constantes de como ela deveria agir em determinada situação, quase fazendo-a se sentir como parte daquela relação. A sensação de desprezo, aos poucos, foi diminuindo e somente não sumiu porque ela não conseguiu ter a mesma participação do lado de Butão.
Ela até gostaria de voltar a passar as tardes dos finais de semana na rua com Butão como nos velhos tempos, conversando com ele sobre coisas banais e até mesmo sobre a Lúcia, de como ele gosta de ficar com ela e coisas do tipo. Mas desde quando ela começou a evitá-lo, em pouquíssimas semanas ele parou de procurá-la. Bárbara até pensou em ir até a sua casa e chamá-lo, mas sua coragem nunca coincidia com os dias que ele estava em casa; a coragem só aparecia quando Bárbara sabia que ele estava com Lúcia, fazendo algum programa de casal. Então toda sua fonte de informação daquele namoro era Lúcia, o que poderia ser bastante problemático quando se pensa em intensidade de sentimentos.
Em um dado dia, após o término da aula, Lúcia e Bárbara saíam juntas da sala e foram caminhando em direção ao portão. Uma multidão de alunos estavam parados, assistindo alguma coisa. Se não fosse aquele muro de gente tapando a visão, as garotas poderiam saber o que estava acontecendo.
Aproveitando-se por serem pequenas, elas deram as mãos e foram se enfiando entre os alunos, tentando se aproximar da atração, quando, de repente, elas viram uma porção de balões coloridos colados em uma faixa enorme, que dizia "Eu + Você = 2. 2 Meses!".
Os olhos de Bárbara lacrimejaram. Então era assim que Butão se comportava quando estava apaixonado? Por muito tempo ela acreditou que ele era o menino mais insensível do mundo, incapaz de se apaixonar algum dia, mas não, ele era um romântico.
Ansiosa para saber o que Lúcia achara, Bárbara olhou para o lado e viu Lúcia sorrindo, mas tampando o rosto. Ela não parecia feliz com a surpresa, mas envergonhada com a demonstração de carinho em público, rindo de deboche.
— Lúcia? - Butão perguntou quase que gritando, olhando para todos na multidão - Lúcia?!
Ele seguia procurando-a, quando todos começaram um coro: Lúcia! Lúcia! Lúcia!
Bárbara deu um empurrão no ombro de Lúcia, incentivando-a a ir pra frente, mas ela se manteve parada, tentando se esconder.
— Olha ali a tímida! - Butão finalmente a encontrou e foi em sua direção.
Bárbara sorria para ele, acreditando que seu amigo a havia notado e captado a mensagem que aquele sorriso transmitia ("Você me enganou por todo esse tempo quando fingiu ser um ogro"), mas ele nem mesmo fez questão de retribuir o olhar, pegando diretamente na mão de Lúcia e levando-a para frente de todo mundo.
O sorriso de Bárbara se desvaneceu aos poucos. Será que Butão nunca mais a trataria como amiga? Ela teve que espantar esse pensamento caso não quisesse começar a chorar enquanto ele entregava um buquê de flores à Lúcia e acabasse por passar a impressão errada.
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