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Procuram-se amoladores XVII
Pandora Agabo

Eu não queria voltar pra escola na segunda-feira. A Lúcia me humilhou.

Provavelmente todos acharam admirável que ela tenha me dado o primeiro pedaço de bolo. "Retomando a tradição". Tradição, faz-me rir! De todos os cinco aniversários que fui antes desse último, ela só meu deu o primeiro pedaço duas vezes. Nas duas primeiras vezes. Em todas as outras foram os seus namoradinhos da época que foram os merecedores de tamanho gesto. Tenho dó da sua mãe, que sempre se esforçou pra fazer festas agradáveis e que jamais ganhou o primeiro pedaço.

Pois é. Mas não vai ser um primeiro pedaço de bolo que vai me fazer esquecer. Aliás, acho que nada vai ser capaz de me fazer esquecer.

A ideia era chegar ao colégio, ir direto pro banheiro e ficar em um boxe até que tocasse o sinal pra começar a aula. Esse plano tinha tudo pra dar certo, sua simplicidade dava essa falsa impressão, mas não é assim que as coisas funcionam.

— Barbie.

De braço dado com um rapaz qualquer, Lúcia me chamou quando eu estava na metade do caminho. Parei em sua frente e a fiquei encarando.

— Posso falar com você?

Dei uma rápida olhada para o rapaz em quem ela estava pendurada, sugerindo que havia um intruso e que isso não seria possível enquanto aquele intruso permanecesse ali.

— Vai ser bem rápido, ta? - a Lúcia disse com todo aquele seu charme.

Antes de nos deixar a sós, o rapaz deu um beijo em sua bochecha e saiu.

Cruzei os braços, esperando que ela falasse alguma coisa, até porque ela que perguntou se podia falar comigo.

— Então? - ela começou.

— "Então" o que? Você que queria dizer alguma coisa. To aqui, só dizer.

— Não, é que... - ela jogou todos os seus cabelos pra trás e prosseguiu - No sábado você foi embora depois do parabéns.

— Sim. E?

— Por quê?

Cara, essa Lúcia sabe jogar. Ô se sabe!

— Do que você ta rindo? - ela parecia assustada quando me perguntou isso.

— Lúcia, eu te subestimei por tanto tempo.

Ela ficou calada.

— Sério... Você é genial.

— Do que você ta falando?

Aos poucos fui tirando aquela minha cara de riso e fui arqueando a minha sobrancelha, para que o impacto do que eu iria dizer saísse tal como eu imaginei:

— Você consegue enganar todo mudo com esse comportamento de mosca morta, mas no fundo você continua sendo a mesma cobra de sempre.

Essa minha fala saiu num tom de voz mais alto do que eu gostaria, mas até que gostei de ver que as outras pessoas que estavam por perto pararam de fazer o que estavam fazendo e começaram a prestar atenção na gente.

A Lúcia, muito mais viva do que deixa transparecer, estava atenta a isso e também elevou o tom de sua voz.

— Por que você ta falando assim comigo, Barbie? Nós éramos amigas!

— Você pode ter o mundo inteiro nas suas mãos, mas eu não. Você não vai conseguir me manipular de novo, Lúcia.

— Bárbara, eu...

Eu não ia lhe dar o gostinho de continuar agindo como uma louca, insistindo num espetáculo que eu, claramente, estava em desvantagem, porque todos que nos assistiam, se fossem se meter entre nós duas, ficariam do lado dela. Mas o meu recado estava dado.


Este texto é administrado por: Sabrina Queiroz
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