— Me chamou?
— Pior que não.
— Então por que to aqui?
— Eu é que te pergunto.
— O que é que ta pegando agora?
— Preciso mesmo dizer? O de sempre, pra variar.
— Faz-me rir. Você fala que é o de sempre, mas não para de cair nessa como um patinho e reage como se fosse a primeira vez.
— Por isso mesmo. "O de sempre".
— E você não se cansa de me chamar?
— Eu já disse que não te chamei.
— Então por que to aqui?
— Sinceramente, seria muito mais útil se não estivesse. Você é tudo o que eu não preciso agora.
— Até que eu concordo. Não lhe fui de muita ajuda nas outras vezes.
— Eu sei bem.
— Você poderia recorrer à Fibra, à Determinação ou até ao sem sal do Otimismo quando for assim.
— Eu queria ouvir alguma novidade.
— Então por que to aqui?
— Não sei, me responda você!
— A verdade mesmo é que eu queria te fazer companhia. Acho que te dou uma coisa que mais ninguém é capaz de te dar.
— O que?
— Pés no chão.
— Às vezes, a impressão que eu tenho, é que meus pés não estão sobre o chão, mas enterrados nele.
— A que eu tenho é que você enterra os pés em areias movediças.
— Quem me dera se fossem somente os pés... E a culpa é sua.
— Então por que não me expulsa daqui?
— Acho que porque eu simplesmente daria um soco na fuça do Otimismo, que faria de tudo pra fazer parecer que eu não sou tão infeliz assim. Você é o método científico que comprova a minha infelicidade.
— Nesse caso, não há de quê.
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