Bárbara estava ansiosa para chegar à casa de Lúcia e se acabar no pavê de chocolate que, provavelmente, a estava esperando na geladeira depois do almoço, mas Lúcia não parecia apressada no horário da saída, conversando pacientemente com sua paquera da 8ª série e fazendo Bárbara esperar ao lado, entediada e aguentando o peso da mochila nas costas.
— Então ta. Amanhã a gente conversa mais, pode ser? - Lúcia disse por fim, fazendo Bárbara até mesmo mudar de postura.
— Pode sim. - Gabriel sorriu animado e deu um beijo na bochecha de Lúcia - Até amanhã.
— Até. - devolveu o beijo.
Saindo sem ao menos se despedir, Gabriel deixou as amigas a sós e Bárbara estava permitida a conversar com Lúcia.
— Pensei que você estivesse afim do Vagner.
— De onde você tirou isso? - começou a caminhar de queixo erguido, como de costume.
— Ué, você mesma que me disse.
— Ah! Por favor, isso é passado. - ela deu um tapa no ar.
— Há quem não considere duas semanas atrás um "passado".
— E há quem considere dois minutos atrás um "passado", tipo eu. - jogando todo o seu cabelo para o ombro esquerdo, para ter a visão livre em direção à Bárbara, Lúcia completou - E só pra ficar claro: eu não to afim do Gabriel também.
Já fazia algum tempo que Bárbara estava implicada com Lúcia e suas conversas estavam recheadas de alfinetadas sutis que sempre partiam da própria Bárbara.
— É, mas ficou parecendo.
— Mas não é.
— Acho que ele acha que já te tem no papo.
— Mas não tem. - disse despreocupada - Sabe quem pode me ter? - com um sorriso malicioso, Lúcia olhou para a amiga, buscando sua cumplicidade.
Bárbara sabia a resposta, mas aquela história a irritava de tal maneira, que ela preferia fingir que não se importava e nem mesmo pensava sobre.
— Quem?
— Não vai nem tentar adivinhar?
— Não. Diz aí. - e cruzou os braços, preparando-se para longa conversa que viria.
— O Alexandre.
— Que Alexandre?
— Ai Bárbara, como você ta difícil hoje! - e lhe deu um leve esbarrão - O Butão, né?
— Ah ta! - descruzando os braços, ela tentou se esforçar para não continuar sendo tão cínica - É que eu nunca o chamo de Alexandre.
— Pois devia. Butão é um apelido tão idiota.
Aquela frase fez o sangue de Bárbara fervilhar, mas ela não disse nada.
— E ele é bonito demais pra ter um apelido desses. E, falando nisso, quando eu vou poder ir de novo na sua casa? Ó, esse final de semana num vai ta rolando nada na casa dos meus tios e nem dos meus avós...
— Esse final de semana vai ter faxina lá em casa, foi mal. - mentiu.
— Tudo bem. - disse conformada.
— De qualquer forma, esse não é o momento pra você ver o Butão. Ele ta insuportável ultimamente!
Quase se esquecendo que o motivo de sua raiva de Butão fosse a própria Lúcia, Bárbara não quis perder a oportunidade de reclamar de um amigo para sua única amiga.
— Sério? Por quê?
Mas Bárbara também não queria virar aquele tipo de garota que fica empacando determinada situação simplesmente porque não lhe convém, até porque se Lúcia e Butão estavam interessados um pelo outro, era por sua culpa.
— Não... Sei lá. Acho que deve ser só o momento.
— Tomara que esse momento passe quando eu for de novo na sua casa.
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