O nosso trabalho recebeu uma boa nota. Não foi nota máxima - para a infelicidade de Eleonora -, mas o suficiente pra mim. Acho que de todas as coisas que fiz nesse ano, essa foi a única que realmente ficou boa.
Não que eu tenha lavado minhas mãos e ligado o foda-se para o colégio; eu gostaria de estar me saindo melhor, claro, mas eu simplesmente não consigo. Não se trata somente de ir às aulas e fazer os deveres de casa, acontece que a minha concentração é praticamente zero e o que piora tudo é ter a Lúcia na minha sala. Sério? Não tinha nenhuma outra turma pra me colocarem?
Eu até que poderia correr atrás para que me trocassem de turma, mas eu também não gostaria de ter de explicar o porquê e nem ter de aguentar mais olhos curiosos, onde muitos dos donos desses olhos sabem quem eu sou e ainda me têm como novidade. Pelo menos essa turma que eu to já se acostumou com a minha presença discreta no fundo da sala e pararam com os cochichos.
Não, pensando melhor, não tenho problema nenhum com a escola, porque até com os olhares e murmúrios pelos corredores eu já me acostumei.
O que me incomoda mesmo é ver que a Lúcia ta seguindo com a própria vida. De verdade: como? Como ela consegue? Como ela consegue dar tanta importância pra essas bobeiras de escola depois do que passamos? Depois do que ela fez... Como? Eu fico completamente abismada com a forma a qual ela usa o que vivemos a seu favor. No fim das contas, acho que a única boba dessa história sou eu por deixar os fantasmas do passado ditarem quem eu sou... Aliás, a Lúcia também ta fazendo isso, mas de um jeito positivo.
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