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O amendoim - Parte 6
Celso Valois

... Helena olha fixamente para o terreiro e percebe que alguém chega à galope.
- Será Petrônio? - Pergunta para si.

Seus olhos cansados das noites sem dormir dificultam a visão e ela não consegue definir o que via claramente. Momentos depois ela realmente tem a certeza que é ele, seu marido.
O cavalo em trotes lentos e compassados, exausto da jornada, traz em seu dorso o que restou do guerreiro Petrônio. Ainda nos braços ele carrega algo ou alguém, no entanto, ao descer do cavalo, seu corpo cambaleante, suas roupas quase em trapos e sua feição triste e derrotada, denuncia a triste notícia.

- Nãããaãõooooo...! – Grita Helena desesperada. Era um grito de dor, capaz de se ouvir nos mais longínquos lugares da região.
Ali findara a pequena jornada da sua filha. Assim Helena pensava.

Com o grito apavorante, Judite corre rapidamente até a varanda e encontra Helena desmaiada ao chão.

-Dona Helena, Dona Helena. Ai meu Deus do céu! Corre gente, acode aqui. Patroa, patroa, o que aconteceu.

Então Judite percebe que na casa não há ninguém além dela e a desfalecida. Corre rapidamente até a cozinha e traz um copo com água, levanta Helena um pouco e entorna o copo lentamente em seu lábio, que de súbito faz acorda-la de um pesadelo, respirando ofegante e em prantos. Talvez da fraqueza pela falta de alimentação ou do excesso de noites sem dormir, aquilo não havia passado de um sonho acordada.

Aliviada, Helena então percebe que tudo foi um transpasse de sua mente atormentada pela incerteza. Aliviada e recuperada do susto ela se recolhe ao seu quarto, adormecendo rapidamente, ou por que não dizer, desmaiando de tanto cansaço.

O dia amanhece e com ele o sol bate forte no terreiro. Uma manhã diferente por sinal

- Dona Helena, dona Helena, já passam das dez horas.

- Minha nossa Judite, como eu pode dormir tanto!

- Ora, do jeito que a Sra tava ontem, pensei que ia passar o dia inteiro dormindo.

Às vezes Judite tagarelava demais, com assuntos sem pé nem cabeça que deixava qualquer um irritado, por mais educado que fosse.

Continuava a tagarela.

- E tem mais dona Helena, o leiteiro veio aqui e disse que amanhã ele não pode vir e que vai mandar aquela antipática da filha dele trazer... Dona Helena, A Sra. sabia que eu não vou com a cara dela, vou lhe contar um causo....

Helena interrompe Judite com um pssiu bem alto e ouvidos em atenção.

- Parece que vem chegando alguém?
- Hi! Num acredito. É o seu Petrônio!

Helena se levanta alvoroçada, veste sua camisola e sai correndo para a sala, tropeçando nas coisas que a destrambelhada da Judite deixará pelo caminho.
Realmente dessa vez era o Petrônio, e parecia não ser um pesadelo igual o do dia anterior.
Contrário daquela visão dantesca que teria visto antes, Petrônio realmente vinha cansado, vestes sujas, mas com um semblante alegre e feliz.
Helena saiu em disparada no terreiro como uma louca. Ela sentia em seu coração que ali ainda existia uma vida e que seu sofrimento havia chegado ao fim.
Dito e certo. Mal Petrônio desceu do cavalo com a filha enrolada no lençol, Helena o abraçou e ambos choravam com a filha viva entre seus corpos. Julia ainda vivia!

Alguns moradores saíram de suas casas e fitavam aquele momento de extrema felicidade.
- Minha filha, amor da minha vida... mamãe ama você muito viu! – E suas lágrimas desciam em seu rosto inchado de tanto chorar em dias de agonia.

- Eu disse mulher, você se lembra? – Chorando de alegria, Petrônio falava repetidamente esta frase olhando para Helena. Todo cansaço, todo sofrimento e toda a dor haviam se dissipado naquele instante.

- Eu disse que traria nossa filha sã e salva, nem que fosse a última coisa da minha vida.

Alguns moradores chegavam mais perto e admiravam a felicidade transbordante do casal.

No dia seguinte, Julia já estava mamando. Após um banho bem cedinho, agora os cuidados eram redobrados. Alguns lambedores tinham sido receitados e as doses eram fracas e longas entre as horas, devido a idade da criança.
Seis meses depois nenhuma sequela ficara e Júlia já começava a usar as mãos para descobrir o mundo. Queria pegar, alcançar, amassar, apertar. Batia com os objetos no chão e na beira da cama.
Sua percepção evoluída já distinguia perfeitamente o rosto do pai e da mãe, motivo de alegria e entusiasmo para Petrônio.
Todo aquele sofrimento trouxera um novo rumo na vida deles, uma nova vida. Petrônio passou a voltar para casa mais cedo, ao invés de ir jogar cartas com os amigos. Helena ficou mais afetiva e sorridente e Judite já estava com seis meses de férias do patrão.

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