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O amendoim - Parte 5
Celso Valois

Ao saber da notícia, Petrônio se dirige para casa, deixando a loja de tecidos por conta dos empregados.

- Vim o mais rápido que pode, o que é que nossa filha tem?
- Não sei Zé, desde a manhã de hoje ela tá só chorando, com febre alta...

Aquele relato de Helena era desesperador, porque independente do choro e da febre constante, a criança tossia até vomitar ou ficar sem fôlego, típico de quem tem coqueluche, doença nem descoberta ainda naquele ano. No entanto, a invenção da vacina tríplice e suas recomendações ainda estariam por vir, vinte e seis anos depois, restando apenas para a família, a busca de recursos caseiros e curandeiros.

Naquela época, muito se falava em pegar quebranto, o que levou Helena, dessa vez, exigir que seu marido fosse buscar a benzedeira Sinhá, 15 léguas mais perto que o mais próximo hospital da região, fora a dificuldade da estrada.

Uma semana se passou e a pequena Júlia só piorava. Os sintomas que pareciam graves no início eram só preliminares do que estava por vir.
Júlia não se alimentava mais e os seios de Helena estavam para explodir de tanto leite. Ela sentia dores, não pelo incomodo do excesso de leite e tão somente pelo sofrimento que via a pequena criança passar. Seus olhos pequenos e fundos já não tinham o brilho de outrora, sua pele rosada agora dava lugar para um ligeiro azulado com manchas mais atenuantes na testa. Seria o fim de uma pobre criança de apenas um mês e vinte dias?

Os vizinhos mais próximos já haviam trazido inúmeros tipos de ervas como, mil em ramas, espinheira santa, arrebenta saião, alfavaca, agrião... Os benzimentos com folhas de arruda ou capim santo de nada havia adiantado.
Petrônio não dormia mais. Velas acesas no oratório da casa apenas anunciavam que o pior estava por vir.

- Ò Senhor, te imploro pelo amor de todos os santos que poupe a minha filha desse mal, te imploro Senhor.. – E Helena derramou-se em prantos, apoiada nos braços do marido. Petrônio, apesar de durão, seus olhos umedeciam ao olhar o estado crítico que se encontrava Julia. Era uma situação de sentir dor e pena.

O quarto que serviu de resguardo por trinta dias, agora era sua alcova de morte. A criança nem mais chorava e sua respiração estava chegando ao fim. Todos perguntavam: Como pode uma criança tão saudável, de uma hora para outra definhar tanto? A resposta talvez viesse 26 anos depois, mas agora a situação exigia ações violentas de busca pela vida.
Já se passavam quinze dias e as rezadeiras cansadas se revezavam no quarto da criança enferma. Até que num surto de loucura, Petrônio se levanta da cadeira e grita para um moleque que estava sentado na porta.

- Ei moleque, pega o cavalo mais corredor que tu achar e traz aqui correndo, agora!

Atravessar aquela estrada nos carros da época, além de ser impossível, era certo de que não chegariam nem a dez léguas dali e a Julia, com certeza morreria no caminho.

- Zé, salva nossa filha – Disse Helena chorando e ajoelhando-se aos pés do marido.
- Tenha certeza mulher, nem que seja a última coisa que faça neste mundo.

Pronto, já num cavalo marrom, de raça, cedido por um fazendeiro próximo havia chegado. Petrônio tomou a filha nos braços enrolada em panos e lençóis e se atirou ao mundo, apostando tudo ou nada, num ato de desespero e valentia, na incerteza do que encontraria pelos caminhos tortuosos da região.
Para encurtar caminho, Petrônio teria que cavalgar por ambientes hostis, mata fechada, rios e lagoas, o que não era pior que a figura da morte à sua frente. E assim Petrônio partiu, sumindo no campo empoeirado ao adormecer do sol, como sua última tentativa de chegar ao hospital mais próximo, a léguas de distancia dali na última esperança de salvar sua amada pequena Júlia.

E Helena ficou e não lhe restava mais nada, que não fosse reunir forças e orar frente as imagens de Santa Helena, Nossa senhora do Socorro e demais santos.
Três dias se passaram e nenhuma noticia havia chegado, até que numa tarde, por volta das seis horas, momento que o sol se punha por traz das palmeiras...

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