John F. MacArthur, Jr.
Você já percebeu como diversos
comerciais de televisão não falam
especificamente sobre os produtos
que anunciam? Um anúncio de jeans
apresenta um comovente drama a
respeito da infelicidade dos adolescentes,
mas não se refere ao jeans.
Um comercial de perfumes mostra
uma coletânea de imagens sensuais
sem qualquer referência ao produto
anunciado. As propagandas de cerveja
são algumas das mais criativas da
televisão, mas falam muito pouco
sobre a própria cerveja.
Esses comerciais são produzidos
com o objetivo de entreter, criar disposição
e apelar às nossas emoções,
mas não para transmitir informações.
Com frequência, eles são os mais
eficientes, visto serem os que fazem
melhor proveito da televisão. São
produtos naturais de um veículo de
comunicação que promove uma visão
surrealista do mundo.
A televisão mescla sutilmente a
vida real com a ilusão. A verdade é
irrelevante. O que realmente importa
é se estamos sendo entretidos. A
essência não significa nada; o estilo
de vida é o que mais interessa. Nas
palavras de Marshall McLuhan, o
instrumento é a mensagem.
Amusing Ouselves to Death
(Divertindo-nos até à morte) é um
livro perceptivo mas inquietante
escrito por Neil Postman, professor
da Universidade de Nova Iorque. Ele
argumenta que a televisão nos tem
mutilado a capacidade de pensar e
reduzido nossa aptidão para a verdadeira
comunicação.
Postman assegura que, ao invés
de nos tornar a mais informada e
erudita de todas as gerações da
História, a televisão tem inundado
nossas mentes com informações
irrelevantes, sem significado. Ela
nos tem condicionado apenas ao
entretenimento, tornando obsoletas
outras formas de interação humana.
Postman ressalta que até os
noticiários são uma apresentação
teatral. Jornalistas simpáticos relatam
calmamente breves notícias sobre
guerras, assassinatos, crimes e
desastres naturais. Essas histórias
catastróficas são intercaladas por
comerciais que banalizam suas
informações, isolando-as de seu
contexto. Em seu livro, Postman registra
um noticiário em que um almirante
declarou que uma guerra nuclear
mundial seria inevitável. No próximo
segmento da programação, houve um
comercial do Rei dos Hamburgers.
Não se espera que
nossa reação seja racional.
Nas palavras de Postman, “os
espectadores não reagirão com um
senso da realidade, assim como a
audiência no teatro não sairá correndo
para casa, porque alguém no palco
disse que um assassino estava solto
na vizinhança”.
A televisão não pode exigir uma
resposta sensata. As pessoas ligam-na
para se divertir, não para serem
desafiadas a pensar. Se um programa
exige que pensemos ou demanda
muito de nossas faculdades intelectuais,
ninguém o assiste.
A televisão tem diminuído o
alcance de nossa atenção. Por exemplo,
alguma pessoa de nossa sociedade
ficaria de pé, entre uma sufocante
multidão, durante sete horas
para ouvir os debates dos candidatos
a presidente da República? Sinceramente,
é muito difícil imaginar
que nossos antepassados possuíam
esse tipo de paciência. Temos permitido
a televisão nos fazer pensar
que sabemos mais agora, enquanto na
verdade estamos perdendo nossa
tolerância na área de pensar e aprender.
Sem dúvida, a mensagem mais
vigorosa do livro de Postman está em
um capítulo sobre religião. Esse
homem não-crente escreve com
profundo discernimento a respeito do
declínio da pregação. Ele contrasta a
pregação contemporânea com o ministério
de homens como Jonathan Edwards, George
Whitefield e outros.
Estes homens contavam com um profundo
conteúdo, lógica e conhecimento
das Escrituras. Em contraste, a pregação
de nossos dias é superficial,
com ênfase no estilo e nas
emoções. Na definição moderna, a
boa” pregação tem de ser, antes de
tudo, breve e estimulante. Consiste
em entretenimento, não em ensino,
repreensão, correção ou educação na
justiça (2 Tm 3.16).
O modelo da pregação moderna
é o evangelista esperto que exagera
as emoções, traz consigo um microfone,
enquanto anda pomposamente ao redor do púlpito,
levando os ouvintes a baterem palmas,
movimentarem-se e fazerem aclamações
em voz bem alta, ao tempo em que
ele os incita a um frenesi. Não existe
alimento espiritual na mensagem,
mas quem se importa, visto que a
resposta é entusiástica?
É lógico que a pregação em
muitas das igrejas conservadoras
não se realiza de maneira tão exagerada
assim. Mas, infelizmente, até a pregação
de nossos dias é superficial, com ênfase
no estilo e nas emoções.
Algumas das melhores pregações de
nossos dias contêm mais entretenimento
do que ensino. Muitas igrejas têm um sermão
característico de meia hora, repleto de histórias
engraçadas e pouco ensino.
Na verdade, muitos pregadores
consideram o ensino de doutrinas
como algo indesejável e sem utilidade
prática. Uma grande revista evangélica
recentemente publicou um artigo
escrito por um famoso pregador
carismático. Ele utilizou uma página
inteira para falar sobre a futilidade
tanto de pregar quanto de ouvir sermões
que vão além de mero entretenimento.
Qual foi a sua conclusão?
As pessoas não recordam aquilo que
você pregou; por isso, a maior parte
da pregação é perda de tempo.
“Procurarei fazer melhor no próximo
ano”, ele escreveu, “isto significa
desperdiçar menos tempo ouvindo
sermões demorados e gastando mais
tempo preparando sermões curtos. As
pessoas, eu descobri, perdoarão uma
teologia pobre, se o culto matinal
terminar antes do meio-dia”.
Isto resume com perfeição a atitude
que predomina na igreja moderna.
Existe uma semelhança entre
esse tipo de pregação e os comerciais
de jeans, perfume e cerveja na televisão.
Assim como os comerciais,
a pregação moderna tem o objetivo
de criar uma disposição íntima,
evocar uma resposta emocional e
entreter, mas não o de comunicar
necessariamente algo da essência das
Escrituras. Esse tipo de pregação é
uma completa acomodação a uma
sociedade educada pela televisão.
Segue o que é agradável, porém
revela pouca preocupação com a
verdade. Não é o tipo de pregação
ordenada nas Escrituras. Temos de
pregar a Palavra (2 Tm 4.2); falar
o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1);
ensinar e recomendar “o ensino
segundo a piedade” (1 Tm 6.3).
É impossível fazer estas coisas se
nosso alvo é entreter as pessoas.
O futuro da pregação expositiva
é incerto. O que um pastor sincero
tem de fazer para alcançar pessoas
que se mostram indispostas e incapazes
de ouvir com atenção e raciocínio
exposições da verdade divina?
Este é o grande desafio para
os líderes da igreja contemporânea.
Não devemos nos render à pressão
para sermos superficiais. Temos de
encontrar maneiras de fazer conhecida
a Palavra de Deus a uma geração que
não apenas recusa-se a ouvir,
mas também não sabe como ouvir.
Notas:
1. Neil Postman, Entertaining
Ouselves to Death (Nova Iorque, Penguin,
1984), p. 104.
2. Jamie Buckinham, “Wasted
Time”, Charisma (dezembro de
1988), p. 98.
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