Ouço os gritos dos torturados, ouço a lástima pelos anjos proferida às nossas almas corrompidas. Vejo um brilho no rosto dos meus irmãos, não é esperança, é uma lagrima que corre nos seus rostos cansados, feita do horror e do temor que todos sentimos.
Vi os opressores beberem o sangue dos indefesos e devorarem a alma dos que tinham idéias. Vi as carcaças dos justos empaladas em lanças para serem exemplos e para minar o espirito de luta de cada ser oprimido.
Tudo isso é obra do pior fruto do orgulho humano, o âmago do mal, aquele com que nos deparamos ao observar a essência do inferno. É ele, a morte da pureza, a ruína da inocência, a origem dos corruptos, o chicote que atinge a vida, os espinhos que crescem na rosa.
Quando o vi a escuridão me atingiu, meu coração ardeu com o fogo que o consumia, o pai de toda dor, de todo o sofrimento penetrava a minha alma, nela não houve obstáculos ou escudos que o parassem, as estrelas se apagaram o sol escureceu, o todo poderoso egoísmo me tragou.
Pelos destroços do futuro do nosso mundo, os corpos sem vida de nossas crianças, eu andei, procurando uma arma para vence-lo para tira-lo de dentro de mim, é claro que não achei, pois o egoísmo controlava todos os meus sentidos, me cegava para luz libertadora. Me banhei no sangue de meus irmãos, pisei nos cadáveres das vidas que ceifei, riquezas que afagavam meu ego choveram sobre mim enquanto minha alma era perfurada pelos dentes dos demônios e minha moral decepada por laminas flamejantes vindas do abismo.
Foi apenas quando ele me tirou tudo, quando nada mais me restava e eu me arrastava sobre agulhas e brasas, quando a sede por sentido torturava cada cada canto de minha mente que eu o vi, um anjo radiante, feito somente de luz, o egoísmo não conseguia toca-lo, não havia aqueles que não o notassem, pois em meio ao inferno e ao escuro a bondade e a luz eram estranhas e contrastantes. Em um ato sublime ele me estendeu a mão. Nada mais notável poderia haver, o ser mais belo que já havia visto estendendo a mão para mim, uma criatura repugnante que até o próprio reflexo se enojaria.
Foi então que ele me deu o remédio para os meus ferimentos, e me apresentou a flor que nasce entre os espinhos, o âmago do bem. A luz então se fez, como o ar em meus pulmões ele adentrou em mim, desfazendo a escuridão me preenchendo de vida e me concedendo o desprendimento e a humildade. Destruindo o que parecia indestrutível: o egoísmo, a essência do inferno.
Perguntei então ao anjo, que força, que poder seria capaz de tamanho ato. O que seria capaz de entrar no abismo e desfazer todas as chagas da humanidade, de vencer a morte e a corrupção e trazer de volta a pureza e a inocência, de acabar com o inferno e construir o paraíso?
Ele era cheio daquela luz divina sobre a qual eu perguntava e em uma palavra me respondeu:
Amor.
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