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A BONECA DE SOPHIA - PARTE XI
EMANNUEL ISAC

O chefe de policia, ficou surpreso com a afirmação da mulher; como ela sabia de seu primeiro caso? Como sabia que o mesmo foi arquivado, sem solução? Resolveu perguntar:

          … - Como a senhora sabe do meu primeiro caso?
          - Na época, eu acompanhei o caso pelos jornais! - Respondeu ela calmamente;
          - Acho que a senhora sabe muito mais do que está me falando!- Disse ele desconfiado;
          - Esse caso ficou conhecido em todo o bairro, a maioria dos moradores, sabem do que aconteceu naquela época!
          - Meu instinto me diz que a senhora ainda está me escondendo algo!
          - Te aconselho, a procurar pela família do homem morto no hospital! Seu tempo já está correndo! - Disse ela, voltando a se balançar na cadeira.

          Bruno, que até o momento permanecia em pé, perto da porta, olhou em direção a uma passagem de acesso para outra parte da casa, teve a impressão de ver alguém a espiá-los do canto escuro. Deu alguns passos na direção do lugar, e voltou para trás quando viu aquela estranha criatura sair do canto e sumir em meio a escuridão.
          Seu coração disparou, a velha percebendo tudo, levantou da cadeira e falou para o chefe de policia:

          - Melhor vocês irem agora!
          - A senhora ainda não respondeu a minha pergunta! - Insistiu Viegas;
          - Quando nos encontrarmos novamente, responderei as suas duvidas! - Disse ela enfaticamente.
          
          O chefe de policia levantou-se e chamou seu assistente para irem embora. Viegas olhou para Bruno e perguntou se ele tinha visto um fantasma:

          - Mais ou menos! - Disse ele sem querer entrar em detalhes.        

          Entraram no carro e Bruno pisou fundo no acelerador, rumo ao IML, como pediu o Delegado. Não viram quando dois pares de olhos os observava do primeiro andar, da casa...

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          … Nênia voltou a realidade, quando um sacerdote se aproximou sem que ela percebesse e perguntou se podia ajudá-la. Ela respondeu que estava tudo bem, e saiu da igreja. Voltou para casa e desceu até o porão, começando a vasculhar nas caixas que estavam guardadas há bastante tempo, por causa da poeira, espirrava sem parar. Olhou em todo os cantos, até que encontrou uma caixa amarrada com uma fita roxa e escarlate; “DEVE ESTAR AQUI DENTRO”, pensou! Pegou a caixa e pôs sobre uma pequena bancada ao pé da escada que dava acesso para o porão.

          Começou a desamarrar a caixa; tirou a tampa e um vento frio e gelado passou por dentro do porão, fazendo Nênia arrepia-se por inteira. Começou a retirar de dentro da caixa alguns livros e amuletos, até que se deteve e olhou para dentro dela; encontrou o que tanto procurava! Segurou a cópia do livro HEPTAMERON*, que usurpou de seu antigo guia espiritual e subiu de volta para a sala...
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          … Aos poucos, Norma foi recuperando a consciência. Abriu os olhos, sua visão ainda estava turfa, levantou a cabeça com certa dificuldade e procurou situar-se do lugar a onde se encontrava. Éster se aproximou dela e falou:

          - Se sente melhor?

           Norma passou a mão na nuca, balançou a cabeça e perguntou;

          - O que aconteceu?
          - Você começou a ter alucinações por causa do TURÍBULO**. Encontrei você caída desacordada na porta do quarto! - Disse Éster calmamente;
          - Não! Eu sei muito bem que ví, e não foi nenhuma alucinação ou devaneio da minha mente! - Norma ajeitou-se na cadeira que estava;
          - Você realmente acha que viu alguma coisa? - Perguntou a velha entrando na sala a onde ela estava com Éster;
          - Eu sei muito bem o que eu ví! - Exclamou ela;
          - Acho melhor você vir comigo então! - A velha fez sinal com a mão para que Norma a seguisse.

          Éster ajudou Norma a levantar-se, apoiando o braço dela em seus ombros. Entraram no corredor e a velha conduziu Norma até a porta do quarto; abriu a cortina e deu passagem para que Norma entrasse. Norma desconfiada, passou pela porta, olhando a velha nos olhos; adentrou no quarto, olhou para as paredes e a única coisa que viu, foram vários cortes de revistas coladas na parede.

          Ficou pasma diante da situação. Olhou para o chão, em busca de algum sinal de sangue, mas ele parecia ser um piso que não era varrido há semanas:

          - As ervas que eu uso, provocam alucinações para quem não está acostumado a sentir o seu cheiro, provavelmente, foi isso que aconteceu com você! - Disse a velha;
          - Vamos Norma, precisamos nos apressar com o ritual. Em pouco tempo, não conseguiremos mais trazê-la de volta! - Éster puxou Norma pelas mãos para sair do quarto.

          Norma começou a andar lentamente para fora do quarto, não acreditando ainda, que tudo não passou de uma simples ilusão...
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          … No IML, o chefe de policia conversava com o legista:

          - Descobriu como e o que matou os dois?
          - A mulher, teve o pescoço quebrado! - Dizia ele;
          - Agora o homem, parece que colocaram ele em uma prensa e o dobraram em dois!
          - Mas naquele quarto, não tinha nada que pudesse fazer isso! - Bruno observou;
          - Eu juro a vocês; já vi morto de tudo quanto é tipo neste IML, mas igual a este, espero nunca mais ver! - Disse o legista se afastando do delegado e de seu auxiliar.

          Viegas ainda permaneceu um tempo olhando para os corpos da enfermeira e de Marcelo. Mandou Bruno anotar o endereço preso na caixa onde estava depositado o corpo de Marcelo, e rumaram para o local.

          Ao chegarem na casa de Norma, encontraram a casa vazia. Um vizinho que observava os dois, informou que não tinha ninguém em casa:

          - Sabe a onde eu posso encontrar algum parente ou conhecido deles? - Perguntou Viegas;
          - A irmã dela, mora duas ruas a cima desta! É só subir a ladeira e virar à primeira esquerda, seguindo em frente! A casa é a que fica no final da rua!
           - Obrigado, e tenha uma boa noite! - Viegas agradeceu, entrou novamente no carro e foi em busca do local que o vizinho de Norma lhe indicou.

          Nênia estava folheando o livro, em busca de alguma coisa que lhe ajudasse a compreender e a combater aquelas coisas que tinham levado seu sobrinho. Sabia também que Norma e Sophia, estavam em perigo. O livro é dividido em duas partes, e Nênia ainda estava na primeira parte do livro, onde ensina a comunicar-se com os espíritos do Ar, através de invocações a serem realizadas durante os sete dias da semana. Na Segunda parte, uma série de fórmulas ensina como conjurar entidades para descobrir tesouros, escutar segredos, fazer alguém se apaixonar, abrir cadeados e mais uma série imensa de utilidades práticas do cotidiano.

          Nênia estava tão concentrada na leitura do livro, que não ouviu a campanhia tocar. Somente após a terceira vez, foi que ela se deu conta que tinha alguém na porta; levantou-se e foi verificar quem era:

          - Boa noite!
          - Pois não? - Perguntou ela;
          - Este é o agente Bruno; eu sou o chefe de polícia Viegas – mostraram os distintivos - podemos falar um minuto com a senhora?     

          Nênia ficou parada na porta, analisando os dois homens através do olhar:

          - Posso saber do que se trata? - Perguntou ela;
          - É a respeito do senhor Marcelo, esposo de dona Norma de Souza Nazaré!

          Nênia ao ouvir falar os nomes, abriu a porta por completo e deixou que o chefe de policia passasse seguido por Bruno...
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          … Na casa da mãe de Éster, Norma segurava a filha no colo, enquanto Éster desenrolou a boneca do couro de boi, entrando no meio do círculo que sua mãe desenhou no chão. A boneca começou a se debater em seus braços, a velha pegou um ACRATÓFORO**, colocou dentro do Pentagrama invertido, segurou a BOLLINE***, e retirou um coelho de dentro da sacola preta que estava atravessada em seu peito!

          Norma arregalou os olhos ao ver o coelho nas mãos da velha; acabou lembrando que foi justamente nos restos de um coelho morto, que ela escorregou; ou achara ter escorregado como Éster lhe falou! Sophia começou a debater-se em seus braços à medida que a boneca se contorcia em cima do pentagrama.

          Norma olhou para a filha e notou que a ferida em seu rosto, estava começando a aumentar de tamanho e escurecer cada vez mais. A velha segurou o coelho pelas orelhas e passou a bolinne em seu pescoço, marcando o desenho no chão com seu sangue, deixando parte cair sobre a boneca, e o restante, despejou dentro acratóforo.

          Éster deitou a boneca sobre a cruz invertida e saiu de dentro do circulo. A velha começou a invocar os espíritos em uma língua incompreensível para Norma:

          - Agatodemon..., Agatodemon..., baphomet..., NAZU!

          Norma, que estava de cabeça baixa, olhando para Sophia, que por hora tinha se acalmado em seus braços, olhou para dentro do círculo perplexa, quando ouviu a velha pronunciar a palavra NAZU! A boneca lentamente começou a se por de pé..., abriu os olhos vermelho fogo, e lentamente, foi virando a cabeça até encontrar o olhar de Norma, que estava paralisada pelo medo...

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*“HEPTAMERON” - Também é chamado de QUARTO LIVRO DE CORNÉLIO AGRIPPA. É um dos quatro maiores livros de magia na história da humanidade. Juntamente com A chave de Salomão, o Grimorium Verum e A Constituição do Papa Honório, forma uma linha de tratados sobre Magia Negra, escritos na Antiguidade e na Idade Média.

** “TURÍBULO” - O turíbulo ou incensório é um recipiente metálico sustentado por uma corrente que contém incensos e ervas que são queimadas a fim de produzir um aroma determinado. É usado para homenagens, celebrações e purificação de ambientes. Está associado ao elemento ar.

***“BOLLINE” - É uma faca de aplicação prática, geralmente de cabo branco e lâmina em forma de lua crescente. É utilizada na Wicca para cortar alimentos ritualísticos, cordas e tecidos, colher ervas e frutas para rituais e gravar inscrições em madeira, argila, cera etc. Em contraposição ao athame, está associado ao princípio feminino da Deusa.

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