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A BONECA DE SOPHIA - PARTE X
EMANNUEL ISAC

… Nênia estava falando com Norma quando o telefone ficou mudo; ela olhou para o aparelho em suas mãos e viu quando o fio cortado, desceu sobre seus pés; olhou para a escada tentando enxergar alguma coisa, mas só viu quando alguns corpos esqueléticos começaram a descer por elas e outros a surgir do canto escuro da sala com um brilho vermelho fogo nos olhos, sabia que eram todos mortos!

          Olhou para a parede ao seu lado, e saltou novamente um grito de pavor ao ver, um daqueles mortos, arrasta-se pela parede, fazendo um zig-zag, como se fosse um lagarto! Segurou a porta com as duas mãos tentando abri-la, mas estava emperrada! O morto estendeu sua mão com pouca carne cobrindo os ossos e segurou nos cabelos de Nênia; seu pavor aumentou e ela começou a gritar desesperadamente, quando a porta se abriu; o carteiro, pelo lado de fora, tinha girado a maçaneta, para jogar a correspondência sob a porta de madeira, que ficava após o portão de vidros escuros. Nênia caiu aos seus pés e se arrastou de quatro para longe da porta. Ele ficou parado olhando para ela, que permanecia com a expressão de terror na face:

          - Senhora, o que houve? - Estendeu a mão para ajudá-la a levantar-se;
          - Na casa..., a..., a casa..., - Nênia falava sem nexo, apontando para a casa;

          O carteiro estava olhando para Nênia e virou-se em direção à porta. Começou a caminhar em sua direção, puxou o portão de vidro e segurou na porta de madeira para abri-la; girou a maçaneta e puxou a porta, Nênia começou a gritar:

          - Não! Não abra essa porta!
          
          O homem abriu a porta e olhou para dentro da casa. Deu dois passos e entrou, demorando alguns segundos que para Nênia, pareceram uma eternidade. Surgiu de volta e chamou Nênia, deixando a porta aberta para ela olhar para dentro da casa. Ela se aproximou trêmula e olhou; não viu nada! Ficou abobada ao ver que tudo dentro da casa parecia normal. O carteiro tornou a perguntar o que tinha acontecido, e ela limitou-se a dizer apenas, que assustou-se com um gato.

          Pediu para ele aguardar na porta, enquanto entrava na casa e pegava a bolsa que estava em cima da mesa de volta. Antes de sair, olhou para as escadas onde antes vira seu sobrinho sumir sob braços esqueléticos e cobertos por carnes em putrefação, agradeceu ao carteiro e foi procurar uma igreja...
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          … Norma tentou ver com quem Éster falava;

          - Mas só conseguiram o menino? Era preciso pegar também... – Interrompeu a fala;
          - Norma? Procurando por mim? - Perguntou sem olhar para trás. O coração de Norma disparou; Como Éster sabia que era ela? Meio sem jeito, respondeu:
          - Preciso falar com você! - Disse ela da porta;
          - Eu já estou terminando aqui! - Esticou um pano de seda e jogou no chão à sua frente;
          - Com quem você falava? - Perguntou Norma, esticando o pescoço para olhar para o espelho;
          - Com ninguém! Mânia minha de ficar na frente do espelho, falando comigo mesma! - Éster falava sem mudar de posição - Melhor você voltar para perto de minha mãe, eu já levo os ingredientes!

          Norma não questionou. Girou sobre o calcanhar e começou a caminhar de volta para a sala, indagando-se o que Éster fazia diante de um espelho negro, grande e sem brilho algum. Após Éster ter certeza que Norma não estava mais por perto, voltou a falar;

          - Falta pouco minhas meninas..., em breve, estaremos juntas novamente! - Levantou-se;
          - Mas precisamos da mulher também! - Completou.

          Suspendeu o pano, deixando aparecer sete corpos deformados, que de longe lembravam ser crianças, entrelaçadas entre si, que logo começaram, uma por uma, a arrastar-se de volta para dentro do espelho negro, desvanecendo dentro de sua escuridão. Éster esperou que a última menina entrasse no espelho e falou para ela:

          - Levamos muito tempo para encontrar uma família em que os nomes fizessem sentido entre sí, formando um círculo único e perfeito, ligando o elo que faltava! Não podemos perder mais tempo! Encontre a mulher!

          A figura dentro do espelho saltou um grunhido, como fosse várias vozes ao mesmo tempo para Éster. Ela esticou a mão pelo espelho e alisou o que restava de cabelo naquela cabeça deforme:

          - Não se preocupe, ele vai aparecer aqui no exato momento! O caminho dele já foi traçado...

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NA CASA DA VELHA, O DELEGADO AINDA ESTAVA ENCUCADO:

          … - A senhora está me falando que o que aconteceu naquele hospital é obra de um demônio? - Perguntou o chefe de polícia, sentando na cadeira;
          - Com certeza! A maneira como o corpo daquele pobre coitado estava, a poça de sangue, tenho convicção que se trata de um ritual oferecido a um demônio!
          - Como pode ter tanta certeza? Por acaso, a senhora já participou de algum ritual? - Viegas começava a interrogar a velha;
          - E o que isso importa agora? - Resmungou ela;
          - Então me explica direito o que fazia no hospital e o motivo que nos fez vir até a sua casa? - Viegas já estava ficando sem paciência;
          - Estava no hospital visitando meu neto... – Viegas olhou para Bruno e fez o gesto com as mãos para que ele começasse a tomar nota do que a velha dizia – ...quando sentí a presença... - a velha abraçou o próprio corpo – sabia que um demônio tinha entrado naquele hospital!           
          - Se você sentiu a presença desse..., demônio, como afirma, então porque não fez nada?
          - Quando um demônio é invocado através de um ritual, a única coisa que você pode fazer é rezar! As vezes dá certo e outras não!
          - Até agora eu não entendi, por qual razão “este demônio”, escolheu este homem para matar! - Viegas cruzou as mãos sobre os joelhos;
          - Se você quer descobrir o motivo, terá que encontrar a família dele!
          - A família dele? - Viegas não entendeu o que a velha queria dizer;
          - Como eu falei antes para você; ele é apenas uma peça do quebra cabeça!                                                                                                                   - E a onde eu entro nessa história toda? Perguntou ele para a velha;
          - Terminar o que você começou quando entrou na polícia...
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          … Nênia entrou na igreja e sentou-se na segunda fileira de bancos, perto do altar. Começou a rezar em voz baixa, perguntando como uma coisa daquelas, era possível acontecer. De repente, em sua mente veio a lembrança de seu tempo de hippie, quando ao redor de fogueiras, ela reunia-se com os amigos e entoavam cânticos aos espíritos.

          Achava que os espíritos, iriam abrir seu caminho, e chegou a tatuar no braço esquerdo sobre a região do pulso, uma cruz com furo no meio e na ponta, um meio gancho; chamada também de "CRUZ DA CONFUSÃO*. Instintivamente, olhou para o braço; a cruz ainda permanecia lá, tatuada! Começou a mudar de idéia, quando um dia foi visitar a mãe que se encontrava enferma. Ao ajudá-la a ir até o banheiro, voltou e foi ajeitar a cama, quando acabou encontrando debaixo do travesseiro, uma pequena bíblia. Ia colocar de volta, quando ouviu sua mãe falar da porta do banheiro:

          - Pode ficar com ela! Provavelmente, ela um dia vai ser útil à você!
          - Em que um livro cheio de estórias mirabolantes, pode ser útil? - Perguntou desdenhando do livro;
          - Você mesma vai ter que descobrir isso! - Respondeu a velha senhora;
          - Descobrir? Como?
          - Basta ler aos pouquinhos, a cada dia uma parte, e no final, você mesma tire sua conclusão, se essas “histórias”, lhe foi útil ou não! - A senhora caminhou até a onde ela estava sentada, deu-lhe um beijo na cama e deitou-se.
          
          Nênia colocou a bíblia debaixo do travesseiro de volta, e falou para a mãe:
          - Acho que ele vai ser mais útil agora para a senhora, que para mim!

          Aquela foi a última vez que Nênia viu a mãe com vida! Uma semana após ter recebido a visita da filha, dona Nazaré faleceu. Norma tentou avisar a irmã, mas ela estava dentro da mata com sua aldeia de hippies, purificando o corpo e a alma, como dizia ao se embrenhar mata a dentro por vários dias, e até mesmo, semanas.
          
          Ao voltar, quase quinze dias depois de sua mãe já ter sido enterrada, recebeu das mãos de Norma aquela pequena bíblia:

          ... -Ela pediu para que você ficasse com isto! - Norma entregou a bíblia para Nênia;
          - Ela morreu, e eu nem estava aqui, ao seu lado... - Nênia desabou no choro, segurando a bíblia;
          - Tentamos te encontrar, mas...
          - Eu sei! - interrompeu ela com peso na consciência por não estar presente no sepultamento de sua própria mãe.

          Naquela mesma noite, Nênia começou a folhear a bíblia, indo parar no livro do Apóstolo João, no capítulo 3 e versículos 20 e 21 onde diz: “Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. ; Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus”.

          Nênia ficou a se indagar, por que tudo que ela e seu grupo faziam, eram escondido? Se eles entoavam cânticos, desenhavam no corpo símbolos, tinham que ser na noite e não durante o dia? Olhou novamente para a bíblia em suas mãos, e leu ainda no capítulo 14 e versículo 06: "Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”.

          Chegou a conclusão que os espíritos que ela e o seu grupo invocavam, a estava enganando; se eles fossem mesmo lhe mostrar o caminho e o futuro como prometiam, teriam lhe avisado da morte de sua mãe, quando ela perguntou para um guia, se ela estava bem, e ele respondeu que ela estava curada e bem de saúde; sua mãe morreu no mesmo dia em que o espírito lhe falou aquelas palavras; nunca mais retornou para o grupo...

* "CRUZ SATÂNICA ou CRUZ DA CONFUSÃO" - O próprio nome já diz o proprósito de quem a usa, e o seu objetivo.      xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx          
          ...Norma estava voltando para a sala onde havia deixado Sophia, deitada na poltrona, quando passou por uma cortina feita de contas coloridas, que dava acesso para um quarto. Curiosa, resolveu olhar para dentro e, qual foi a surpresa, lá estava espalhadas pela parede do quarto, fotos suas, de Marcelo, de Sophia, de sua irmã e o mais intrigante, a foto de sua mãe dentro de uma bacia banhada em sangue!

          Norma levou as mãos à cabeça e começou a tremer, olhava aquele mundo de fotos e nada fazia sentido para ela. Começou a caminhar para trás, quando tropeçou em algo mole, escorregando e caindo sentada sobre ele. Passou a mão pelo chão e encontrou o objeto no qual escorregara; trouxe para o feche de luz para ver do que se tratava; suspendeu o objeto devagar, até chegar diante de suas vistas!

          Quando enxergou o corpo do coelho decapitado e o resto de sangue escorreu por suas mãos, o lançou para longe, atingindo uma “CRUZ COM LAÇO**”, de um metro e meio de altura, que ao cair sobre a bacia, espalhou pelo chão o sangue, a foto de Marcelo e a de outro homem que ela não soube identificar.

          Norma tentou levantar a primeira vez e escorregou na poça de sangue, indo cair de rosto no chão. Tentou levantar pela segunda vez e sair do quarto, mas só sentiu quando dois pares de mãos pequenas a segurou pelas pernas, e a puxou de volta para baixo.

          Sentiu quando aquelas coisas se arrastou sobre seu corpo. O terror se apoderou dela, ao ver dois rostos deformados de meninas, encostarem no seu e o cheiro de carne podre entrar por suas narinas; acabou desmaiando de pavor...
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** “CRUZ COM LAÇO” - Simboliza o desprezo da virgindade, troca de parceiros conforme a escolha pessoal, onde a nova era ensina que a sexualidade é a parte que purifica o ser humano, eleva o espírito e embeleza o corpo. No paganismo antigo, os “deuses”, promoviam as danças com barulho excessivo, orgias, prostituição ritual e etc.

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