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O MENINO DO PARQUE - PARTE I
EMANNUEL ISAC

Resumo:
Após o término do casamento, Roberta começou a frequentar o parque em busca de paz. Mas ao conhecer aquele menino, não imaginava viver uma experiência da qual jamais se esqueceria...

Roberta começou a frequentar o parque central logo após sua separação. Um casamento de vinte anos chegara ao fim depois de inúmeras tentativas de mantê-lo (bem que foi ela), a que mais se esforçara para que tudo desse certo.

          Escolheu o domingo como dia principal, já que trabalhava a semana inteira. Tentava esvanecer os pensamentos, sentada naquele banco mais afastado e isolado do parque. Queria entender como um amor, uma paixão tão arrebatadora que existiu entre ela e Ricardo, pudesse acabar de maneira tão fria e cheia de ressentimentos.

          Estava absorta em suas próprias lembranças, que não percebeu quando um menino de mais ou menos oito anos de idade, sentou ao seu lado. Ele permaneceu quieto, olhando em direção à pequena estrada que ia dar na lagoa, onde patos e cisnes dividiam a água morna daquela tarde de outono.

          Roberta olhou para o lado e seus músculos estremeceram involuntariamente, uma sensação de vazio pesou-lhe na alma que não soube explicar o motivo. Automaticamente ela olhou na mesma direção a qual o menino estava observando, viu quando um casal passava e o menino ficou de pé sorrindo, como se estivesse esperando por eles. Mas eles passaram direto e o menino baixou a cabeça, triste, sentou-se novamente no banco, balançando as pequenas pernas, sem dizer uma palavra sequer.     

          Roberta percebeu a cena e não pode deixar de sentir uma tristeza também por aquele pequeno:

          - Oi, o que você faz aqui sozinho? Esperando por alguém? – Roberta perguntou tentando quebrar o silêncio que imperava entre os dois;
          - Hum, hum!
          - Seus pais, irmãos?
          - Hum, hum!
          - Como se chama? – silêncio...
          - Como você veio parar nesta parte do parque? – o pequeno olhou para trás do banco e apontou em direção a uma estradinha que já se fechava com o mato que crescia em seu entorno;
          - Você veio por aquele caminho? – ele balançou a cabeça afirmativamente;
          - Mas a onde estão seus pais que deixaram você aqui sozinho? – o pequeno deu de ombros.
          
          Roberta ficou olhando para aquele menino que continuava com a cabeça baixa e sem dizer uma única palavra. Sentiu uma aflição ao imaginar-se mãe daquela criança e ela está sozinha em uma parte isolada de um parque, precisava fazer alguma coisa:

          - Você sabe pra onde seus pais foram? – ele somente balançou a cabeça negativamente;
          - Quer ir procurar por eles? – o pequeno olhou para Roberta e sorriu. Finalmente um contato positivo;
          - Bem, então vamos. Mas antes me diga seu nome, você tem um não tem?
          - Darlan! – respondeu ele. A voz dele chegou aos ouvidos de Roberta como um eco repetido à distância. Um calafrio correu-lhe o corpo por inteiro. Ela fechou os olhos e estremeceu os braços.

          Abriu os olhos e olhou fixamente para o menino, este, lhe estendeu a mão e os dois puseram-se a caminhar. Roberta perguntou qual foi o último momento em que ele havia vistos seus pais e qual o local. Ele respondia evasivamente, sem muitas palavras.

          A cada momento em que eles passavam por algum casal, os olhos do pequeno brilhavam e ele olhava esperançoso na direção, mas não passava de lapso de felicidade estampada em seu rosto. Roberta comprou um sorvete e ofereceu para ele. Após algum tempo de procura sem sucesso, ela resolveu procurar pelos seguranças do parque e explicar o que estava acontecendo. Adiantou-se e deixou o pequeno Darlan um pouco para trás enquanto falava com os seguranças:

          - ... Então já tem um tempo que estou procurando pelos responsáveis desse menino, mas só que até o momento eu não conseguir encontrá-los!
          - De qual menino a senhora está falando? – perguntou um dos seguranças olhando para Roberta;
          - Desse menino! – Roberta olhou para trás à procura do pequeno, atônita, olhou para todas as direções;
          - Senhora, de qual criança a senhora está falando? – tornou a perguntar o segurança;
          - Vocês não viram o menino que estava aqui comigo agora, quando vim falar com vocês?
          - Vi quando a senhora veio andando em nossa direção, falando sozinha, mas não vimos criança alguma com você!
          - Como não? Ele estava ao meu lado, tomando um sorvete que acabei de comprar pra ele!
          - Bem, então vamos procurar por ele. Talvez ele tenha se afastado da senhora ou encontrado com os pais dele já que estavam procurando por eles! – o segurança pôs-se a caminhar pelo caminho que Roberta acabou de fazer.

          Roberta olhava por todos os lados, não encontrou sinal e nem fazia ideia de onde podia estar o pequeno Darlan. Os seguranças perguntaram se ela tinha a certeza de ter falado com alguma criança e diante da insistência dela, eles prometeram passar a informação para a central e continuar a busca.

          Não conseguiu parar de pensar no fato ocorrido, ainda mais no nome do pequeno; Darlan! Aquele nome ficou martelando em sua mente e ela precisava saber se o pequeno havia encontrado seus pais ou não. Imaginou a noite fria, o parque escuro e aquela criança chorando sem ninguém para protegê-la, para aquecê-la, isso lhe tirava o sono. Que tipo de pais poderiam deixar uma criança indefesa sozinha em um parque tão grande como aquele? Que irresponsabilidade! “Ah! se eu encontrar com eles, lhes direi umas verdades, como pôde”? Roberta pensava consigo mesma, sentia-se responsável e também não entendia como ele sumiu de perto dela, sem que ela não percebesse.

          Comprou um saquinho de pipoca, uma garrafa de água e foi sentar-se no banco como de costume. Comeu algumas pipocas e o restante começou a distribuir aos poucos entre os pombos e rolinhas que pousavam à sua frente. De repente, os pássaros partiram em uma revoada desesperada. Roberta olhou para cima, em direção aos pombos que passavam por sobre sua cabeça, quando deu de cara com o menino parado atrás do encosto do banco olhando fixamente para ela. Seu susto foi tão grande, que ela foi parar no chão com pipoca, água e bolsa.

          Levantou limpando a terra da calça e da bolsa. Olhou para a onde o menino estava e viu quando ele lentamente caminhou em direção a estradinha que ele havia lhe mostrado momentos antes. Roberta pegou a garrafa d’água do chão, mas quando olhou novamente, não viu mais o menino. Se dirigiu para a estradinha, abriu espaço entre os galhos que fechavam a entrada e adentrou na mata, olhou ao redor e não viu mais ninguém. Chamou o menino pelo nome, mas não obteve resposta alguma.

          Caminhou alguns passos e avistou uma pequena clareira. Aproximou-se e notou que havia um tronco grande de uma árvore caída. Roberta ficou olhando para aquele lugar, tentou ver se avistava o menino, mas nem sinal de vida dele. Perscrutou todo lugar, não entendia como uma criança podia entrar em uma mata daquelas e sumir rapidamente assim.

          Resolveu voltar e ir procurar pelos seguranças novamente. Chegou na sede da segurança do parque e entrou na sala. Esperou por uns momentos e aproveitou para observar os cartazes fixados no quadro preso na parede. Havia cartazes de vários anos com fotos de pessoas desaparecidas dentro do parque. Adultos, jovens e crianças. Foi quando um cartaz lhe chamou a atenção; lá estava a foto do pequeno Darlan.

          Um temor se apoderou de seu corpo, ela não podia acreditar no que estava vendo, como poderia ser possível? Não podia ser a mesma criança que ela acabara de conversar e ver novamente sumir na mata...

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