Por Charles Haddon Spurgeon
“Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (João 12: 31-33)
Nosso Senhor participou de uma espécie de ensaio de Sua paixão antes que acontecesse. Quando viu a esses gregos que se aproximaram de Felipe, e que logo André e ele trouxeram para Ele, Seu coração se encheu de alegria. Esse devia ser o resultado de Sua morte: que os gentios fossem congregados a Ele. Esse pensamento lhe recordou sua morte próxima. Estava muito próxima. Só passariam uns quantos dias e então morreria na cruz. Em antecipação do Calvário, Sua alma estava muito perturbada. Não foi assim porque temesse a morte, mas Sua morte ia ser muito peculiar. Ia morrer o Justo pelos injustos. Levaria Ele mesmo nossos pecados em Seu corpo sobre o madeiro, e Sua alma pura e santa rejeitava todo contato com o pecado. Perturbava-lhe ocupar o lugar do pecador e suportar a ira de Seu Pai. Seu coração estava muito alterado e clamou: “E que direi? Pai, Me salva dessa hora? Mas para isso eu vim a essa hora. Pai, glorifica teu nome”. Sem uma maligna debilidade, demonstrou quão verdadeiramente humano era; sem nenhuma queixa pecaminosa diante da vontade de Seu Pai, contemplou que terrível era essa vontade, e estremeceu-se ao ver tudo o que ela incluía. Isso foi uma espécie de ensaio do Getsêmani. Era dar um gole dessa taça da que posteriormente beberia, até que Seu suor se convertesse em grandes gotas de sangue sobre a terra, enquanto Sua alma inteira elevava a angustiante petição: “Meu Pai, se é possível, passe de mim esse cálice; mas não seja feito o que eu quero, mas sim como tu queres”.
Enquanto nosso Senhor experimentava essa grande perturbação de mente, antecipando os terríveis sofrimentos que logo suportaria, Seu Pai lhe falou. Quando você se encontrar submerso em sua mais horrenda angústia, Deus falará contigo. Se você é Seu filho, quando a debilidade de sua carne esteja a ponto de prevalecer sobre seu espírito, você também, da mesma forma que seu Senhor, ouvirá uma voz tranquilizadora proveniente da glória excelente. Ele se recuperou de imediato, e recobrando ânimo, alegrou Seu coração com uma visão do glorioso fruto de Sua morte. Então, expressou as bem-aventuradas palavras nas quais iremos meditar hoje, nas que resumiu as consequências de Sua morte nesses três pontos: “Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”.
Hoje, primeiro, consideremos o triplo resultado da morte de Cristo; e quando tenhamos feito isso, refletiremos na morte de Cristo segundo está descrita em nosso texto.
I. Primeiro, CONSIDEREMOS O TRIPLO RESULTADO DA MORTE DE CRISTO.
Temos, primeiro, o juízo desse mundo: “Agora é o juízo deste mundo”. Se preferirem, podem lê-lo como “crise”, pois essa é a palavra grega utilizada aqui: “Agora é a crise desse mundo”. O mundo está enfermo, e só piora. O médico diz que seu mal chegou a um ponto crítico, que se trata de um caso de vida ou morte. Houve uma crise na doença do mundo, e essa crise se apresentou quando Cristo morreu. Sua morte foi o ponto decisivo, o pivô da história do mundo. Já houve muitos eixos na história; cada nação tem seu próprio ponto decisivo em sua história: a cruz de Cristo foi o principal gancho da história do mundo, o ponto que marcou sua crise. Dou graças a Deus porque a morte de Cristo foi a morte futura do pecado. Quando Ele morreu, o arqui-inimigo recebeu seu golpe mortal. Essa morte foi a ferida no calcanhar de Cristo, mas nessa morte, Ele feriu a cabeça da serpente antiga. Agora há esperança para o mundo. Sua crise passou. Agora caíram os deuses dos pagãos; agora a negra ignorância dos homens dará espaço para a Luz do mundo.
Depois dessa crise, virão novos céus e nova terra, nas quais mora a justiça; pois a primeira vinda de Cristo é uma fiança de Sua segunda vinda, na qual exterminará o pecado, e fará que o deserto e o ermo floresçam como a rosa. Assim poderíamos traduzir as palavras de nosso Senhor: “Agora é a crise desse mundo”, o ponto decisivo, o eixo principal do qual pende toda sua história. Apesar disso, eu prefiro muito mais aderir a nossa antiga versão, que é uma tradução, enquanto que a minha é somente um empréstimo da palavra original.
“Agora é o juízo deste mundo”. Isso significa que, quando Cristo morreu, o mundo inteiro que estava sob o maligno, todo o mundo ímpio foi julgado nesse sentido: primeiro, foi convicto de ser o pior dos culpados. Atrevo-me a dizer que vocês ouviram que as pessoas usam frases bonitas sobre a dignidade da natureza humana, e assim sucessivamente. São frases mentirosas, pois a natureza humana não pode ser mais depravada. Se vocês necessitam da prova dessa afirmativa, considerem como Deus mesmo veio aqui entre os homens, a virtude mesma encarnada coberta de amor! Por acaso os homens lhe amaram? Acaso se prostraram diante Dele e lhe renderam homenagens? A homenagem do mundo foi: “Crucifica-o, Crucifica-o!” O mundo odeia a virtude. Não pode suportar a perfeição. Pode tolerar a benevolência, mas não suporta a pureza absoluta e a justiça, e diz: fora com elas. Seus instintos inatos são malvados. Os homens não se encaminham para a luz, dão suas costas ao sol e viajam para as densas trevas.
E além disso, o mundo foi convicto do monstruoso crime de assassinar ao Filho de Deus. Não o chamarei de regicídio, mas sim de Deicídio; e esse é o pior crime de todos. Verdadeiramente o mundo foi culpado de tudo o que o acusaram os profetas, e muito mais. Quando os homens depravados mataram o Príncipe da Vida, o Santo e Justo, ali se demonstrou que o mundo é ateu de coração, que odeia a Deus, e que mataria ao mesmo Deus se estivesse a seu alcance. Assim os homens imolaram ao Deus encarnado quando se submeteu a seu poder. Não precisamos falar das virtudes do mundo. Ele sacrificou ao Cristo, e isso é suficiente para mais condená-lo. Não necessitamos de nenhuma outra prova de sua culpabilidade. Não se pode acrescentar uma evidência mais completa e esmagadora: mataram ao Senhor da vida e da glória, e disseram entre si: “Esse é o herdeiro; vinde, o matemos para que a herança seja nossa”.
Ademais, a morte de Cristo foi o juízo desse mundo ao sentenciar o mundo; pois se Cristo, que era perfeitamente inocente, deveria morrer quando se colocou no lugar do pecador, por acaso vocês pensam, ó homens culpados, que não morrerão também? Se o Amado do céu, que só carregava com uma culpa imputada, com pecados que não eram Seus, devia ser golpeado por Deus e ser afligido, e devia escutar a voz: “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o homem que é o meu companheiro, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zacarias 13:7). Se Ele devia morrer nesse cruel madeiro, se Ele devia clamar: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, então, você pode estar certo disso, que existe ira armazenada para o dia da ira, e nenhum ser humano que faça o mal será absolvido. Não existe um Deus que é o Juiz de toda a terra e que deve fazer o justo? Se é justo que se fira ao Inocente porque assumiu o lugar do culpado, também deve ser verdadeiramente justo que o verdadeiro culpado seja castigado com morte: “A Alma que pecar, essa morrerá”. Assim que, não houve só um veredicto de culpabilidade, mas também uma sentença contra o mundo, quando Jesus morreu.
E mais que isso, o juízo terá chegado a seu fim quando o mundo rejeite a Cristo. Enquanto estejam aqui, queridos leitores, e Cristo lhes seja pregado, existe esperança para vocês; mas naquele dia quando rejeitem a Cristo finalmente, e não queiram saber nada Dele, quando clamem: “Fora, fora! Não queremos ser lavados em Seu sangue, e não queremos ser vestidos em Sua justiça”; naquele dia selarão sua condenação, e não haverá mais esperança para vocês. Existe uma janela no céu, e a luz da vida flui por essa janela; mas se essa janela se fecha, nenhuma outra será jamais aberta. “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”. Se vocês repudiaram a Cristo pela última vez, se terminaram por completo com Ele, teriam esgotado sua liberdade condicional, teriam concluído com seu juízo, teriam apagado a última vela, estariam condenados para sempre. Quando Cristo é rejeitado de tal forma que o eliminam efetivamente, como quando Ele pendeu da cruz, então é o juízo desse mundo.
Eu desejaria contar com o tempo suficiente para fazer uma pausa aqui e reforçar esses pontos para os que pertencem ao mundo. Só existem dois partidos: o mundo e a Igreja de Deus. Se vocês não pertencem à Igreja de Deus, então pertencem ao mundo, e o mundo é julgado pela morte de Cristo. Se vocês não são cristãos, então são membros dessa grande corporação chamada mundo. Os homens falam algumas vezes de um mundo cristão e de um mundo não cristão, um mundo religioso e um mundo não religioso, um mundo divertido, um mundo que ri, um mundo que rouba, um mundo que negocia; mas tudo o que é realmente do mundo está fora dos limites da Igreja de Deus.
O que crê em Cristo tem escapado do mundo. “Não são do mundo, como tampouco eu sou do mundo”, disse Cristo em relação a Seus discípulos; mas aos judeus incrédulos disse: “Vós são de baixo, eu sou de cima; vós sois desse mundo, eu não sou desse mundo”.
Assim, vocês podem ver que, como primeiro resultado da morte de Cristo, o mundo é julgado, o mundo é encontrado culpado, e o mundo é sentenciado por sua rejeição de Cristo. Um mundo que rejeita a Cristo é um mundo condenado. Que nenhum de vocês pertença a esse mundo!
O segundo resultado da morte de Cristo é a expulsão de Satanás: “Agora será expulso o príncipe deste mundo”. Aquele que tem poder sobre o mundo agora perderá seu trono. O príncipe deste mundo é Satanás, o arqui-inimigo de Deus e do homem; mas ele nem sempre irá reinar como príncipe da potestade do ar, o líder dos governadores das trevas deste século. Ele será lançado de seus presentes domínios.
Pela morte de Cristo, as acusações de Satanás contra os crentes são respondidas. Uma das práticas em que o diabo mais se deleita é a de acusar o povo de Deus; e, ai, ele têm muitos motivos para suas acusações; mas sempre que nos acusa, nossa única resposta é: “Jesus morreu”. Ele fala: “essas pessoas pecaram;” e nós respondemos: “é certo; mas Jesus morreu por essas pessoas”. A cruz de Cristo fecha a boca do acusador. Inclusive um santo fraco, quando olha para seu Salvador crucificado e ressuscitado, pode cantar:
“Eu posso enfrentar ao feroz acusador,
E dizer-lhe que Tu morreste.”
Ademais, a cruz de Cristo despoja Satanás de sua monarquia universal. Ele dominou em uma época ao mundo inteiro, e em boa medida o domina ainda; mas existe um povo sobre o qual ele não pode brandir seu pérfido cetro, existe uma raça que se libertou dele. Essa é uma raça de homens livres que o desafiam que lhes escravize outra vez. Não lhes importam suas ameaças, e não são persuadidos mediante seus elogios; e ainda que os aflija e os tente, não pode destruí-los. Já não pode se orgulhar de um domínio universal. Existe uma semente da mulher que se rebelou contra ele, pois Jesus, por Sua morte, os redimiu das mãos do inimigo, e esse povo é livre.
Ouvi a história de uma anciã negra, que estava atendendo a uma dama que visitava a alguns amigos no sul dos Estados Unidos, algum tempo depois da última grande guerra nesse país. A dama disse à servente negra: “é seu dever servir com grande presteza a uma pessoa vinda do norte, pois graças a nós você é livre.” “Livre, senhorita, livre?”, disse a mulher negra; “sou uma escrava, nasci sendo escrava”. “Oh, mas você é livre! Por acaso não sabe que aprovaram uma lei que faz livres a todos vocês?” “Sim, ouvi algo a respeito, e disse a meu amo: ‘fiquei sabendo que todos somos livres’. Ele respondeu: ‘puras fofocas e tontices’, assim que fiquei aqui trabalhando para ele. É verdade, senhorita, que somos livres?” “Sim!” ela responde; “todos vocês são livres, todo escravo é livre agora.” “então”, disse a mulher, “não irei servir mais a meu antigo amo; direi a eles: ‘adeus’”. E o mesmo sucede quando Cristo nos liberta: não servimos mais ao velho amo Satanás, lhe dizemos “adeus”.
Quando somos liberados do domínio do diabo, pela redenção emancipadora de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o poder tirânico de Satanás é desmantelado. Ele ainda exerce uma grande influência, e faz o máximo que pode para prejudicar ao reino de Cristo por meio da perseguição, da falsa doutrina, e por milhares de outros métodos; mas Cristo fraturou seu braço direito e o diabo já não pode trabalhar como antes fazia; e cada vez mais, como fruto da paixão do Redentor, o poder de Satanás será restringido, até que, ao final, será totalmente expulso, e então se escutará o grito triunfante: “Aleluia, porque o Senhor nosso Deus Todo Poderoso reina!”. Não imaginemos jamais que o demônio vencerá na grande batalha entre o bem e o mal. A Palavra de Deus nos diz, muito claramente, qual será seu fim, “e o diabo que os enganava foi lançando no lago de fogo e enxofre, onde estavam a besta e o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos”.
Agora, se algum de vocês sofre porque Satanás o está tentando para que ceda ao desespero; se ele vem a alguns de vocês para induzi-los a cometer um pecado que vocês odeiam, e contra o qual batalham com todo o poder que Deus lhes dá; sim, por uma força misteriosa que vocês não podem compreender, ele pretende conseguir que vocês façam o contrário do que vocês querem, então tenham animo, e lutem contra ele, pois quando Jesus morreu, disse que por Sua morte, o príncipe das trevas seria expulso, e assim é. O pecado não se assenhoreará de vocês nem Satanás tampouco. Só tenham o valor de resistir-lhe, reclamem sua liberdade como filhos de Deus, e lutem sob o mandato de Cristo, pois a cruz é o estandarte vencedor para todos os que querem derrubar o poder de Satanás –
“Enfrentando a todas as hostes do inferno;
A todas as hostes do inferno derrotamos;
E vencendo-as com o sangue de Jesus
Ainda saímos para exterminá-las”.
O terceiro resultado da morte de Cristo é a atração central de Sua cruz. “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”. Cristo na cruz se converteu no grandioso imã que atrai os homens a Si mesmo. O que foi que ele quis dizer mediante essas palavras? Quis dizer que Sua esfera de influência seria ampliada. “Enquanto estou aqui”, disse “atraio a uns quantos homem a Mim; esses pecadores se converteram em meus discípulos, esses gregos vieram me ver; mas quando eu for levantado sobre a cruz, a todos atrairei a Mim mesmo, a todos os tipos de homens, homens de todas as nações, multidões de homens, não somente dessa época, mas de todas as épocas, até que o mundo chegue a um fim. Converter-me-ei no centro de um círculo mais amplo, um círculo tão amplo como o mundo. A todos atrairei a Mim”.
Porém, por que razão Cristo atrai os homens para Ele? Respondo que é porque, ao morrer na cruz, exibiu uma nova e mais resplandecente manifestação de Seu amor. Os homens viam a Cristo por causa de Seu amor enquanto caminhava na terra; as crianças especialmente vinham para Ele; mas depois de morrer essa vergonhosa morte, como poderiam evitar vi para Ele? “Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Romanos 5:7-8). “Nisso consiste o amor”. E para todas as épocas, a obra mestre de amor é o Cristo moribundo que ora por Seus inimigos: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Cristo na cruz atrai os pecadores para Si mesmo; Cristo crucificado atrai por meio do infinito amor aos homens, manifestado nessa morte.
Uma parte da atração radica nas maravilhosas bênçãos que chegam a nós por meio da morte de Cristo. Nós fomos atraídos a Ele porque recebemos o perdão através de Suas feridas, viemos para Ele porque encontramos vida eterna através de Sua morte no madeiro. Jesus levou o pecado de Seu povo. Ele morreu em nosso lugar. E ao fazê-lo, tirou nossas iniquidades, as apagou por completo, e as lançou nas profundezas do mar. Podemos afirmar isso porque Ele foi levantado na cruz. Quando Cristo foi crucificado, Ele colocou fim à transgressão, acabou com o pecado, e trouxe justiça eterna; amados, essa é uma grandiosa atração para os pecadores moribundos; é um convite de amor que eles devem aceitar. Quando Jesus nos atrai dessa forma, corremos para Ele, porque se pode encontrar perdão e vida eterna por meio de Seu içamento na cruz. Peço que alguns de meus leitores sejam trazidos a Cristo nesse instante por meio desse poderoso imã de Sua morte. Recordem como o poeta canta sobre a atração da cruz:
“Tão grande, tão vasto sacrifício,
Pode muito bem minha esperança reviver;
Se o próprio Filho de Deus assim sangra e morre,
O pecador de certo viverá.
Oh, que esses laços de amor divino
Me atraiam, Senhor, a Ti!
Tu tens meu coração, será Teu,
Será Teu para sempre!”
A morte de Cristo atraiu para Ele multidões de filhos dos homens, porque dilatou os corações de Seu povo. Enquanto vivia e estava com eles, seus corações nunca arderam com tanto entusiasmo como depois de Sua morte. Um dos primeiros efeitos de Sua morte foi o derramamento do Espírito de Deus sobre eles, que infundiu uma nova vida, um santo fervor e um sagrado entusiasmo que os impulsionou a ir até os confins da terra publicando entre os gentios a plena redenção por meio de Seu sangue precioso. Quando Cristo foi levantado, fez que Seus seguidores se disseminassem por todas as partes da Terra, até que seu rastro chegou aos confins da terra; e, como o sol que brilha sobre toda região, assim o Evangelho de Jesus Cristo iluminou cada nação abaixo do céu. “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”
Cristo é o centro da humanidade. Ele é o Siló, e para Ele virá o povo para congregar-se. Renunciarão às abominações de Roma; abandonarão a meia lua dos falsos profetas; deixarão os ídolos dos lugares tenebrosos da terra; abandonarão a infidelidade e a filosofia; e virão em multidões a se prostrarem a Seus pés quando se sentirem atraídos pelo maravilhoso magnetismo de Sua morte expiatória.
Essas três coisas, então, resultaram da morte de Cristo: o mundo depravado foi julgado, o poder de Satanás foi quebrado e Cristo converteu-se na atração central e atraiu os pecadores a Si mesmo; e esse poder de atração está trabalhando agora. Ó, que essas três maravilhas sejam realizadas em nosso meio no dia de hoje, de conformidade com nossa medida!
II. Agora, em segundo lugar, quero que por uns quantos minutos, sossegadamente, PENSEM NA MORTE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO SEGUNDO É DESCRITA EM NOSSO TEXTO.
Como o Espírito Santo deseja que leiamos as Escrituras inteligentemente! Ele registrou essas palavras do Senhor Jesus: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”. Se isso tivesse sido tudo, teríamos podido nos perguntar: a elevação por sobre a terra se refere à morte de Cristo? Por acaso significa Sua ascensão, Seu levantamento da terra até que foi recebido na nuvem? Ou, se refere, talvez, a nossa pregação de Cristo quando o levantamos diante dos homens assim como Moisés levantou a serpente no deserto? Assim, para evitar qualquer pergunta, o Espírito Santo agregou o versículo trinta e três: “E dizia isto, significando de que morte havia de morrer”. (João 12:33). Se existe algo que o Espírito quer que nos fique especialmente claro são todas as expressões que tem relação com a morte de nosso Senhor. Demos-lhe graças por esse comentário inserido aqui, para que não cometamos nenhum erro sobre um tema tão vital.
Agora, olhando as palavras, quero que notem que Cristo foi para Sua morte com uma clara visão do que ela seria. Existem muitos homens que se apressaram para a batalha, e morreram sem a menor ideia do que seria uma ferida e bala, ou no que consistiria ser traspassado por uma lança; mas nosso Senhor, por assim dizer, fez um inventário de Sua morte, e a olhou cara a cara com muita calma. Não fala dela como morte simplesmente, mas sim que a descreve a sua maneira: “e eu, quando for levantado da terra”. Em Sua própria mente, tinha visto quando o iam cravar na cruz, e tinha chegado ao içamento deste madeiro ao ar livre, e à colocação de sua base na terra, e em espírito já se sentiu cravado ali, levantado da terra. Só pensem nesse ato maravilhoso, como o douto Watts o expressa:
“Essa foi uma divina compaixão,
Que quando o Salvador soube
Que o preço do perdão era Seu sangue,
Sua piedade nunca se retratou”.
Sabendo que Sua morte ia ser por crucificação, não a evitou; seu rosto foi como uma pedreira para suportar tudo o que “a cruz” significava. Ele sabia perfeitamente no que implicava; mas vocês e eu, não. Existem profundidades em Seus sofrimentos que são desconhecidas para nós, mas Ele conhecia todas essas profundezas; no entanto, com amor tão forte como a morte, suportou tudo por sua redenção, ó crente! Então, ama-o em recíproca correspondência, com uma resoluta e determinada consagração de todo seu ser, para ser inteiramente Seu.
Alguém me disse outro dia que toda religião em nossa época sofre seja de paralisia seja de convulsões. Eu não quero que vocês tenham nenhuma dessas queixas, ainda que preferisse as convulsões à paralisia. Não tenhamos uma religião convulsiva, mas sim tenhamos princípios solidamente estabelecidos, sabendo o que temos de fazer, e por que fazemos, e logo, como o Salvador, sigamos adiante, esperando dificuldades, esperando perdas, esperando enfrentar o ridículo, mas enfrentando tudo voluntária e intencionalmente por Sua amada causa, como Ele, de sua parte, suportou inclusive a morte por nós.
Observem, em continuação, que ainda que nosso Senhor conhecesse a amargura de Sua morte, Ele leu suas consequências sob outra luz: “e eu, quando for levantado”, vocês captam o pensamento? Ele não quer dizer levantado simplesmente na cruz, Ele se refere à outra classe de içamento, Ele quer dizer exaltação. Quando foi levantado na cruz, os homens o consideraram uma degradação; mas Ele morreu Sua morte como uma pessoa olha uma opala, até que essa pessoa capta o arco-íris e as chamas de fogo na pedra preciosa. Da mesma maneira, Jesus olhou Sua paixão até que viu nela Sua glória. No fundo desse cálice vermelho de sangue, Ele viu que realmente estava sendo levantado quando os homens pensaram que Ele estava abatido. Essa coroa de espinhas era um diadema mais maravilhoso do que qualquer monarca jamais tenha levado. Sua cruz era Seu trono. Com Suas mãos estendidas, Ele governava as nações; e com Seus pés cravados aí, ele pisava os inimigos dos homens.
Ó glorioso Cristo, ai ter uma visão de Tua cruz, eu a vi de início como um patíbulo comum, e Tu estavas cravado ali como um criminoso; mas conforme eu olhei, vi que começava a levantar-se, e a elevar-se tão alto que alcançou até o limite do céu, e por meio de sua poderosa força levantou a milhares ao trono de Deus. Eu vi que Teus braços se estendem e expandem até que abraces a toda terra. Eu vi a base da cruz baixar onde estão nossas desvalidas aflições; e, que visão eu tive de Teu esplendor, ó, Tu, Crucificado! Conforme Jesus esperava com ânsias Sua morte, viu mais do que ainda mesmo agora nós podemos ver, e percebia que era Sua glória se levantado na cruz do Calvário.
Ademais, Ele viu nela a satisfação de nossa grande necessidade. “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” Ele via que nós estávamos distantes, e não podíamos nos aproximar por nosso próprio esforço; assim que disse: “E eu, quando for levantado … todos atrairei a mim”. Ele viu que não desejaríamos vir, que teríamos um coração obstinado e uma cerviz tão dura, que não desejaríamos vir ainda que fossemos chamados. “Porém”, Ele disse, “Eu desde a cruz os atrairei. Como um imã atrai o aço, Eu os atrairei” ó, pensem na cruz de Cristo sob essa luz! Alguns pensaram que se pregamos o Evangelho, sempre teremos uma congregação. Eu não estou seguro disso; porém, se o Evangelho não atrai uma congregação, eu não sei o que o fará. Porém Cristo não disse: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei à pequena Betel ou a Salém”. Ele disse “a todos atrairei a mim”, isso é, para Ele; e nós somente viemos a Cristo porque Cristo veio a nós. Ninguém jamais vem a Cristo a menos que Cristo o atraia, e o único imã que Cristo sempre usa é Ele mesmo. Eu verdadeiramente creio que nós denegrimos a Cristo quando pensamos que iremos atrair as pessoas por algum meio diferente de pregar Cristo crucificado. Nós sabemos que a maior congregação de Londres se manteve nesses trinta anos pelo único motivo que pregamos Cristo crucificado. Onde está nossa música? Onde está nossa oratória? Onde está nossa atrativa arquitetura, ou a beleza do ritual? “Um serviço nu”, chamam-lhe. Sim, porém Cristo compensa todas as deficiências.
Preguem a Cristo, e os homens serão atraídos a Ele, pois assim diz o texto: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”. Os homens são retidos por Satanás, mas a cruz os atrairá. Os homens são retidos pelo desespero, mas a cruz os atrairá. Os homens são retidos pela falta de desejo, mas a cruz gerará o desejo. Os homens são retidos pelo amor ao pecado, mas a cruz os induzirá a odiar o pecado que crucificou ao Salvador. “A todos atrairei. A todo tipo de homens atrairei a mim”, disse o Cristo crucificado. Assim Ele supre nossa necessidade.
Observem, também, que Jesus sabia que viveria para exercer essa atração. Ele disse: “E eu, quando for levantado da terra”. E então? “Estarei morto? Não, a todos atrairei a mim”. Ele vive. Aproximando-se da morte, Ele esperava viver, Ele se gloria em Sua vida, e comenta o que pensa em fazer depois que ressuscitasse dos mortos. Ó glorioso Cristo, que olhemos mais além de Tua morte, e encontremos consolo em Tua vida ressuscitada! Meus irmãos e irmãs, vocês não podem algumas vezes olhar mais além da tumba e encontrar consolo no que farão no céu? Ó, acaso não glorificaremos nosso Senhor no céu? Em antecipação ao que faremos então em honra de nosso precioso Salvador, tomemos agora as armas contra nosso problema presente, tomando emprestadas nossas armas da artilharia do futuro, depois que nossa vida terrena tenha terminado.
Jesus viu, também – e com isso devo concluir – que o dia virá quando Ele estaria rodeado de uma poderosa companhia. Por acaso não podem vê-la? Ele está levantado na cruz e começa a atrair; e os homens vêm a Ele, uns quantos de Jerusalém; eu disse uns quantos? Não. Três mil em só dia! O Crucificado transpassou seus corações, o Crucificado gerou fé neles, o Crucificado atraiu a milhares a Si mesmo. Ele é proclamado em Damasco. É pregado em Antioquia. Ele é pregado em Corinto. Ele é pregado em Roma, e em todas as partes Ele atrai pecadores a Si mesmo, e grandes multidões vêm para Ele. Com o tempo, Ele é pregado na distante Inglaterra. Algum evangelista pioneiro encontra um lugar nessas ilhas onde pode pregar o Evangelho de Cristo aos bárbaros, e Jesus os atrai a Si mesmo. Ele atrai aos homens, até que, através de todo vasto Império de Roma, Cristo crucificado os está atraindo do palácio de César e da prisão de César. Desde o escravo no moinho até o senador que governa a cidade, Cristo os está atraindo. Alguns dos reis que levam suas coroas com a permissão do poder romano se inclinam diante do Rei Jesus, pois Ele os está atraindo. Ele está atraindo aos povos das ilhas do mar, e de cada costa. E Ele segue atraindo-os ainda hoje. Desde as isoladas ilhas dos mares do Sul, desde o norte longínquo da Groelândia, da África, da China, de todas as partes, Ele os atrai mais e mais. E aqui, nessa ilha favorecida, Ele atraiu miríades para Ele mesmo. Porém, o dia virá no que esse poder de atração começará a operar mais livremente ainda. Correrão a Ele. Voarão para Ele com asas, como voam as pombas para seus pombais. Virão para Ele tão de repente, que a Igreja clamará assombrada: “Quem me gerou esses? Onde eles estavam?”.
Como são vistas as gotas do orvalho da manhã, quando o sol nasceu, que resplandecem como diamantes em cada cerca e em cada folha da erva, assim os convertidos de Cristo serão, como a semente prometida de Abraão: “em multidão, como as estrelas do céu, e como a areia inumerável que está na praia do mar.” (Hebreus 11:12). O povo de Cristo se oferecerá voluntariamente no dia de Seu poder; e Sua morte na cruz é a grande atração mediante a qual serão atraídos para Ele. Ó, que Ele atraia muitos a Si mesmo nesse dia! Que essa seja nossa oração a Ele:
“Amado Salvador, atrai a corações relutantes,
Que voem para Ti os pecadores,
E recebam a benção que Teu amor compartilhou,
E bebam, e nunca morram.”
Amém.
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