Ao ler a profecia deste capítulo, alguém poderia indagar: “como pôde o Senhor afirmar que não havia nenhum justo em Jerusalém, pelo qual pudesse fechar a brecha que havia naquela cidade, para que não a destruísse com fogo?”. Certamente, excluindo-se Jeremias e Baruque, que estavam a serviço em Jerusalém protestando contra o seu pecado, não havia de fato nenhum justo entre eles, porque a estes, o Senhor havia providenciado para que fossem levados para o cativeiro anteriormente, juntamente com o rei Joaquim, Daniel e Ezequiel.
Portanto, o Senhor não estava exagerando o quadro real da impiedade que imperava em Jerusalém, cujos moradores se entregavam à prática de tudo aquilo que era proibido pela Lei, e não cumpriam os preceitos justos do Senhor, especialmente os que estabeleciam o modo de se relacionar com o próximo.
Assim, predominavam entre eles pecados visíveis, pelos quais poderiam ser justamente condenados pelas maldições prevista na Lei, e por isso o próprio Ezequiel foi convocado pelo Senhor a julgar os judeus de Jerusalém, quanto a se seria justo ou não o que viria sobre a forma de destruição sobre eles.
Havia se tornado comum entre eles a prática da violência e de sua forma extrema de assassinatos, quando a Lei afirma: “não matarás”.
Além disso o Senhor citou outras formas de iniquidade praticadas por eles, dando destaque:
- à idolatria;
- à desonra dos pais;
- à opressão de estrangeiros, órfãos e viúvas;
- aos sacrilégios e quebra do dia de descanso;
- à calúnia e à perversidade;
- à impureza sexual;
- ao adultério e ao incesto;
- ao suborno e ganhos ilícitos;
- à avareza e agiotagem.
Eles haviam se tornado portanto numa escória e não num metal precioso purificado, e por isso seriam fundidos pelo fogo do juízo do Senhor, e não pelo fogo purificador do ourives que separa o que é vil do que é precioso, porque não lhes interessava a eles, fazerem tal separação.
Os sacerdotes violentavam a Lei e profanavam as coisas santas, porque não oficiavam segundo aquilo que a Lei exigia em relação a todos os utensílios, sacrifícios e serviços do templo (v. 26).
Os príncipes (magistrados) davam sentenças de morte injustas para obterem lucro desonesto (v. 27).
Os profetas tinham visões falsas e adivinhavam mentiras em nome do Senhor, sem terem sido chamados por Ele.
O próprio povo em geral usava de opressão, roubo e violência, especialmente contra os pobres e necessitados, e oprimiam os estrangeiros (v. 29).
“1 Demais veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Tu pois, ó filho do homem, acaso julgarás, julgarás mesmo a cidade sanguinária? Então faze-lhe conhecer todas as suas abominações,
3 e dize: Assim diz o Senhor Deus: A cidade que derrama o sangue dentro de si, para que venha o seu tempo! que faz ídolos contra si mesma, para se contaminar!
4 Pelo teu sangue que derramaste te fizeste culpada, e pelos teus ídolos que fabricaste te contaminaste; e fizeste aproximar-se o teu dia, e é chegado o fim dos teus anos. Por isso eu te fiz o opróbrio das nações e o escárnio de todas as terras.
5 As que estão perto e as que estão longe de ti escarnecerão de ti, infamada, cheia de tumulto.
6 Eis que os príncipes de Israel, que estão em ti, cada um conforme o seu poder, se esforçam para derramarem sangue.
7 No meio de ti desprezaram ao pai e à mãe; no meio de ti usaram de opressão para com o estrangeiro; no meio de ti foram injustos para com o órfão e a viúva.
8 As minhas coisas santas desprezaste, e os meus sábados profanaste.
9 Em ti se acham homens que caluniam para derramarem sangue; em ti há os que comem sobre os montes; e cometem perversidade no meio de ti.
10 A vergonha do pai descobrem em ti; no meio de ti humilham a que está impura, na sua separação.
11 Um comete abominação com a mulher do seu próximo, outro contamina abominavelmente a sua nora, e outro humilha no meio de ti a sua irmã, filha de seu pai.
12 Peitas se recebem no meio de ti para se derramar sangue; recebes usura e ganhos ilícitos, e usas de avareza com o teu próximo, oprimindo-o; mas de mim te esqueceste, diz o Senhor Deus.
13 Eis que, portanto, bato as mãos contra o lucro desonesto que ganhaste, e por causa do sangue que houve no meio de ti.
14 Poderá estar firme o teu coração? poderão estar fortes as tuas mãos, nos dias em que eu tratarei contigo? Eu, o Senhor, o disse, e o farei.
15 Espalhar-te-ei entre as nações e dispersar-te-ei pelas terras; e de ti consumirei a tua imundícia.
16 E tu serás profanada em ti mesma, aos olhos das nações, e saberás que eu sou o Senhor.
17 De novo veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
18 Filho do homem, a casa de Israel se tornou para mim em escória; todos eles são bronze, e estanho, e ferro, e chumbo no meio da fornalha; em escória de prata eles se tornaram.
19 Portanto assim diz o Senhor Deus: Pois que todos vós vos tornastes em escória, por isso eis que eu vos ajuntarei no meio de Jerusalém.
20 Como se ajuntam a prata, e o bronze, e o ferro, e o chumbo, e o estanho, no meio da fornalha, para assoprar o fogo sobre eles, a fim de se fundirem, assim vos ajuntarei na minha ira e no meu furor, e ali vos porei e vos fundirei.
21 Sim, congregar-vos-ei, e assoprarei sobre vós o fogo da minha ira; e sereis fundidos no meio dela.
22 Como se funde a prata no meio da fornalha, assim sereis fundidos no meio dela; e sabereis que eu, o Senhor, derramei o meu furor sobre vós.
23 Também veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
24 Filho do homem, dize-lhe a ela: Tu és uma terra que não está purificada, nem regada de chuvas no dia da indignação.
25 Conspiração dos seus profetas há no meio dela, como um leão que ruge, que arrebata a presa; eles devoram vidas humanas; tomam tesouros e coisas preciosas; multiplicam as suas viúvas no meio dela.
26 Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem ensinam a discernir entre o impuro e o puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles.
27 Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa: derramando o sangue, e destruindo vidas, para adquirirem lucro desonesto.
28 E os profetas têm feito para eles reboco com argamassa fraca tendo visões falsas, e adivinhando-lhes mentira, dizendo: Assim diz o Senhor Deus; sem que o Senhor tivesse falado.
29 O povo da terra tem usado de opressão, e andado roubando e fazendo violência ao pobre e ao necessitado, e tem oprimido injustamente ao estrangeiro.
30 E busquei dentre eles um homem que levantasse o muro, e se pusesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; porém a ninguém achei.
31 Por isso eu derramei sobre eles a minha indignação; com o fogo do meu furor os consumi; fiz que o seu caminho lhes recaísse sobre a cabeça, diz o Senhor Deus.” (Ezequiel 22)
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