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Solitária
Mark Brunkow

Solitária

Era uma tarde cinza, como sempre são as tardes do fim, e após seis meses de paquera, dois anos de namoro e três de noivado ele finalmente teve coragem e disse o que eu cobrava insistentemente ouvir sem querer escutar, todas as vezes que estava ao seu lado, mas com a nítida impressão de estar solitária.
-     Olha amorzinho, não dá mais. Gosto de você, mas não te amo. Agora preciso ser sincero. Tenho o direito de ser feliz, assim como você também. Acho... Não, tenho certeza que você irá sofrer bem menos agora e encontrará alguém que te mereça e te faça muito feliz. Adeus!
Cretino! Para mim a felicidade era ele. Gosto de você! Se gostasse não estava me dando um pé na bunda. Preciso ser sincero! Que palhaçada, diz de uma vez tenho outra e pronto, você esta gorda, algo mais real. Se tivesse me dado uma bofetada no rosto teria sido melhor. Foi como se o chão sumisse sob meus pés. Subiu aquele nó na garganta, os olhos encheram de água, estomago começou a dar voltas, as pernas tremeram. Estranho, era como estar apaixonada só que ao avesso.
Sempre ouvir dizer que a dor de ser abandonada era uma dor real, física mesmo. Nunca acredite nisso até aquela fatídica tarde cinzenta. Na primeira semana depois do ocorrido ainda acreditava que ele iria se arrepender e voltaria a me procurar, dizendo que havia se arrependido que eu era a mulher da vida dele, que não podia viver sem mim, etc, etc. Obviamente eu o rejeitaria no começo. Claro para fazê-lo pagar pelo meu sofrimento e por ser burro e não perceber aquilo que eu sempre soube, que “EU” sou a mulher da vida dele. Assim passaram as horas esperando um telefonema, uma carta, um e-mail, aquelas mensagem que chegam em um carro fazendo a maior barulheira piscando luzes quando agente quase morrer de vergonha, enchendo o saco dos vizinhos, mas nada. E foram dias, semanas, meses e nada. Admito que só me convenci realmente que tinha acabado quando ao sair de uma farmácia vi o safado abraçado com uma loira. Sempre tem que ser loira!
O que posso dizer, me entreguei.
Depressão, não queria sair de casa, ficava chorando pelos cantos, não queria falar com ninguém o básico nestas situações. Como já disse a dor era realmente física. Continuava sentindo cólicas abdominais, enjôo, alterações intestinais, mudança do apetite, indisposição, fraqueza e pelo menos alguma coisa boa, emagrecimento. Como li em um livro: Não sou feliz, mas sou magra!
Por mim tudo bem não via mais sentido para viver mesmo. Mas como o que importa na vida são nossos amigos eles me obrigaram a procurar um médico. Após relutar bastante aceitei. Marquei hora com um psicólogo e fui. Ele falou um monte de baboseira que eu precisava reagir, que ele não me merecia, que eu era jovem, saudável, bonita. Acho que ele estava era me paquerando. Resolvi dar corda e realmente ele estava.
Ele era mais velho que eu, devia ter uns quarenta anos, mas bem apessoado, cabelos negros, ombros largos, parecia ser sincero, de confiança. Começamos a sair juntos, nos conhecer e finalmente namorar. Eu gostava dele, de sua companhia, sua conversa, mas continuava a sentir fraqueza, indisposição. Será que ainda estava apaixonada pelo cretino! Não podia ser já haviam se passado muitos meses, eu estava com outro e feliz! Resolvi procurar outro médico, só que dessa vez um de almas.
Seu Genuíno, meu avô, que apesar de ser iletrado sabia ler a alma humana profundamente além de conhecer o segredo das ervas. Segredo este recebido de seu pai que por sua vez também recebeu de seu pai assim sucessivamente.
Sentei em seu colo como fazia quando era criança e abri meu coração. Contei tudo o que estava se passando em minha vida. Ele como sempre fazia ouviu tudo atentamente e quando terminei falou tranqüilamente:
-     Minha neta se tá solitária.
Não entendi direito. Será que ele não havia ouvido minha história. Eu já estava com outro e feliz, não podia estar solitária. Então falei:
-     Vovô eu já estou com outro. E este é muito melhor que o cretino.
-     Eu sei minha filha. Eu disse que esses enjôos, fraqueza que se ta sentindo é por causa da solitária. Se ta com lombriga filha. Toma esse chazinho que se logo melhora!


Biografia:
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