Palavra
Sou fã da palavra seja ela escrita, cantada, falada, sussurrada, gemida ou mesmo a não dita, aquela que fica subentendida e que geralmente é a que mais nos toca.
Algum tempo fui questionado do porque de eu não escrever com mais freqüência.
Fui logo dando as desculpas mentirosas normais, aquelas que soam tão naturais que a gente nem percebe mais. Como, eu te amo, ou, não, você não engordou!
Outras vezes são mais poéticas como, não ando muito inspirado, ou a minha favorita, tudo o que havia de bom para ser escrito, já foi escrito.
Mas como eu disse são desculpas, tentativas para escapar desta maldita necessidade. Confesso que escrever para mim é um sentimento contraditório. Assim como é um tormento, uma angústia crescente, também é algo que me proporciona uma satisfação tão intensa quanto música, sexo ou chocolate. E só um chocólatra como eu compreende a intensidade da experiência áudio-gastro-erótica de fazer sexo com cobertura de chocolate ouvindo boa música.
As poucas vezes que sento e me proponho a escrever é porque já não agüento mais. As palavras em minha mente estão suplicando para serem escritas e ganhar vida. Idéias surgem em turbilhão como uma avalanche. Fico extremamente impaciente e inquieto. É como se uma energia percorresse todo meu corpo. Os pelos de meus braços e nuca se arrepiam, ás vezes acredito mesmo que terei um orgasmo ao escrever algo que realmente sinto. E não se iludam, tudo o que vale a pena na vida é assim. Você tem que sentir toda sua intensidade, paixão e vontade. E com a palavra não seria diferente ao contrário você tem que sentir na pele, no tato, na ponta da língua. Como diz Rubem Alves, “o saber tem que ter sabor”.
Dizem que a maneira para nos tornarmos imortais é através de nossos filhos que carregam nossa herança genética, mas acredito que a verdadeira imortalidade é conseguida quando tocamos verdadeiramente o coração de uma pessoa. E não existe melhor maneira para isto do que utilizar a palavra seja ela em qualquer uma de suas muitas formas.
Então porque na faço isso mais vezes? Porque esperar até o extremo para escrever?
Simples. Por que não sou eu quem decide quando ou quanto escrever, mas sim as palavras. São elas que tem vida. Não são como eu que apenas sobrevivo neste mundo cinza. Os sentimentos não são meus, são delas.
Em suas mãos não passo de uma prostituta, que espera ser usada até a exaustão, satisfazendo seus desejos mais profanos e profundos e ao final suplicante só espera pela hora que será novamente solicitada.
“Quem escreve, afinal – o escritor ou a escritura?”.
Haroldo de Campos
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