Não sabe se engole ou cospe. Seco.
Ela segurou, porque não dava pra sentir aquilo direito.
Corri os olhos, enquanto ela os abaixou, fazendo barreira com as pálpebras para não deixar escorrer.
O ar ta pesado, e a etiqueta do lado esquerdo do vestido a incomoda - Calma.
Ela é dessas que guarda pra sentir depois, e sozinha.
Mal sabe, mas queria mesmo é que ela regurgitasse tudo.
Assim mesmo. Tudo em cima de mim.
Gira as chaves com o dedo indicador - só pra tirar a atenção.
Talvez eu ficasse meio-quadrado nessa situação, mas ela é tipo uma salada mista de formas geométricas.
Ela não diz nada, e eu insisto.
Vai. Diz alguma coisa. Desarme - se.
Me diga como foi seu dia, me fale sobre seu cachorro, ou como andam as coisas no trabalho.
Me conte sobre sua primeira vez, ou me mande calar a boca.
Garota, eu não vou embora. Pode confiar dessa vez, e das outras também.
Não vai haver portas batidas, olhos vermelhos, nem lenços de papéis espalhados pela casa,
ou aversão àquela música que você ouvia umas quarenta e poucas vezes ao dia, so no caminho da escola.
Eu vou ficar. Pra sempre ou até sei-lá-quando-durar isso aqui que a gente sente.
Eu sei que você também quer - dá pra ver de longe.
Quero você, de domingo a domingo, jogada, com os pés no meu sofá, usando aquela minha camiseta velha.
Quero correr meus dedos em seus cabelos desgrenhados, depois do calor. Sentir seu perfume impregnado no meu travesseiro.
Eu sei garota, desse seu medo. Medo de sentir. De medir, o tamanho imensurável disso.
E não precisa mais dizer nada.
Mas vem cá. Fica só mais hoje, e amanhã. Deita aqui.
Cê ta precisando de paz. Então vem que hoje eu vou te fazer sorrir.
09.10.2012
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