Estava olhando a rua pela janela do meu escritório, quando ao longe avistei uma casa com várias gaiolas repletas de passarinhos. Mas, havia uma vazia, com a porta aberta, uma tigela de alpiste e um alçapão. Era uma armadilha! Bem pertinho dela estava um pássaro magrinho, penas ouriçadas, parecia faminto observando o alimento.
Fiquei ali tentando mentalmente avisar o passarinho para que não fosse até lá. Felizmente algo o assustou e ele voou para longe. Senti um alívio, mas só momentâneo, pois sabia que uma hora ou outra, alguma outra ave seria pega. E me senti impotente.
Sem dúvida, um dos grandes talentos dos pássaros é voar. E privar os seres de usarem seus talentos é cruel e uma condenação a uma vida sem propósito.
Depois desse acontecimento, fique pensando nas armadilhas que as pessoas também caem, nas quais elas irão sacrificar seus talentos para não “morrer de fome”.
Quantas pessoas deixam seus talentos de lado e se prendem a empregos de que não gostam, que as fazem definhar e soltar um canto melancólico, tal qual o dos pássaros presos?
Quantos de nós não deixamos os nossos talentos serem engaiolados?
Fala-se muito em desperdício de água, de energia, mas e os desperdícios de talentos?
Não acredito que o apagão de talentos seja proveniente de falta de talentos, mas sim de talentos sendo sufocados e mal usados e consequentemente atrofiados, tal qual as asas dos pássaros.
Em neurociência aprendemos que, assim como há neurogêneses, ou seja criação de novos neurônios, há também apoptose de neurônios que não são usados, ou seja, se não exercemos certas habilidades que temos, elas deixam de existir... Sim, isso mesmo, o cérebro não gosta de desperdício, se não tem utilidade ele se encarrega de fazer desaparecer...
Triste ter um dom que já veio prontinho de “fábrica” ser descartado dessa forma.
Se somos presenteados com certas habilidades, elas são para serem exercidas em nossas vidas e isso está ligado ao nosso propósito de existir, nossa missão particular.
Mas, muitos escolhem a carreira olhando para o cifrão e não para o coração.
Quando alguém faz algo de que realmente gosta, vemos o brilho no olhar e o trabalho invariavelmente bem feito. E isso é vantajoso tanto para o profissional quanto para as empresas.
O talento dá um propósito maior de existir. Com ele deixamos nossa marca no mundo.
Se por hora não conseguir utilizá-lo em sua profissão, que seja pelo menos usado em tarefas não remuneradas. Tente ao máximo mantê-lo vivo.
Muitas empresas já estão percebendo que é muito mais vantajoso descobrir quais são os talentos de seus funcionários e aproveitá-los em suas ações do que tentar moldá-los ao que precisam.
Não estou dizendo aqui que não devemos desenvolver novas habilidades, longe disso, só estou dizendo que o talento principal é o que já vem de “fábrica” e que deve nortear a carreira da pessoa e depois, sim, ser complementado com o desenvolvimento de aptidões adicionais.
Uma hora todos terão o direito e por que não dizer o dever de usar seus talentos e sei que ai sim o mundo terá a verdadeira sustentabilidade e o canto dos pássaros com certeza será mais alegre!
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