Como contar uma boa história eu não sei. Mas vou contar mesmo assim e quem quer que leia que a ache boa... Ou não.
Começa lá longe. Lá numa manhã na serra de Minas, onde só havia mesmo a neblina e o canto do galo. E lá, de manhã, bem cedo, a cantoria da passarada acordou o senhorzinho. Velho, velhinho. Só, sozinho.
Vivia no mato, numa casinha escondida em meio as pintangueiras, tinha lá uma meia dúzia de galinhas, duas cabras magras e um punhado de erva plantado no quintal. Tirando isso, vivia sozinho.
Acontece que nesse dia, o senhorzinho, sempre são e comportado, resolveu fugir de casa. Cansado de si, da sua própria presença, na sua própria solidão. Quis fugir.
Daí a pouco vinha ele com uma trouxa de roupa na mão, estrada de barro afora.Vinha devagarinho, certo do que fazia, caminhava aos pouquinhos. Fugia de nada, ou só de si próprio.
Chegando na cidade estranhou muita coisa. Estanhou tanta gente. Carro, correria, gente, gritaria... Coisa de doido. Mas quis ficar, ver no que ia dar. Entrou num bar: três doses; partida de dominó.
Dali a pouco a tarde ia caindo, e o velhinho lá.
- Dá licença, o bar vai fechar!
Saiu de mansinho e se encostou no cantinho de uma escada. Tossiu uma, duas, três vezes. Parou - e quando eu digo PAROU,quero dizer que parou mesmo - Morreu!
Morreu por lá mesmo. E foi mesmo bom, por assim dizer, que morresse lá. Pelo menos ia ter quem enterrar.
|