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04 - Examinando os seus passos
Cezar Andrade Marques de Azevedo

Resumo:
Refazendo a jornada da vida

“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram.” (Mt 7:13,14)

O sábio não percebera, mas continuara caminhando atrás do simples enquanto vivenciava esta notável experiência. Logo o simples dobrou a esquina com seu amigo.

Curioso em saber até onde iria a resolução do simples, o sábio apertou seus passos, não sem sentir uma paz indescritível. De algum modo ele sabia ter sido completamente perdoado, mesmo porque toda sua confiança estava depositada no sangue do Cordeiro agora, não na porta de sua casa, mas no interior de seu coração. O pouco que se lembrava da saída dos judeus do Egito trazia-lhe uma vaga lembrança de Miriã dançando com as mulheres (Ex 15:20). – Deve ter sido uma grande festa, eram escravos, ficaram libertos, pensou consigo, enquanto levantava seus olhos procurando pelo simples.

O simples e seu amigo entraram num shopping. Desde sua inauguração este edifício majestoso atraia gente de toda cidade. Totalmente climatizado, seu ambiente era um contraste tremendo com o sol escaldante daquela cidade, era como se encontrasse um oásis no meio do deserto. Logo em seguida o sábio cruzou por suas portas também, não querendo perder a dupla, mas extasiado com a beleza das vitrines das lojas. – Se fosse comprar, nem saberia o que levar, pensou consigo.

– Vamos ler a sorte? Disse João, trazendo o simples a realidade. Sentado nos corredores do shopping estava uma mulher, vestida de cigana, com um mapa astral sobre a mesa. O cartaz dizia: “saiba tudo sobre você e como fazer com seu futuro”. O simples ainda retrucou – João, estas coisas são tolices. Ao que João replicou – você não dizia isso quando a gente ia toda semana no terreiro. – Verdade, resmungou o simples, vamos nessa, afinal é só por brincadeira mesmo!

João sentou, pagou e abriu sua mão. Zenara, a cigana olhou atentamente as linhas e, em tom solene, falou – A linha faz um V, mas também um F por causa deste traço mais saliente cortando a reta principal. João, intrigado, perguntou – E o que significa? Ela sintetizou como quem fala um mistério – Quem com fogo brinca, com fogo se queima, encerrando a consulta.

O simples, logo que se afastaram, falou assombrado – Como ela sabia que a gente veio atrás das minas? – Cara, você sempre foi impressionado mesmo, que mina que nada, ela comentou foi acerca do cigarro, viu minha carteira, deduziu que sou propenso ao câncer e soltou aquela. Você não viu que eu nem fiz caso?

A curiosidade, diz o ditado, matou o rato. O fato é que um pássaro, quando percebe que lhe está sendo montada uma arapuca, se afasta prudentemente daquela armadinha, o homem, contudo, se deixa atrair por qualquer coisa que aguça sua alma, mesmo que isso atente contra sua própria vida (Pv 1:18). Na verdade o caminho do ímpio é todo ele escuro, por isso tropeçam sem saber ao certo em que bateu involuntariamente seus pés (Pv 4:18).

Tudo que afeta os sentidos pode atrair a alma inexoravelmente para quebrar as leis divinas porque esta é a necessidade maior do ser humano, cujo anseio assim se expressa: “Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas” (Sl 2:3). Como ensinou Tiago, uma vez submetido ao comando, se deixando atrair pela tentação, o indivíduo se deixa atrair pelo objeto de seu desejo, quebrando dentro de si todas as resistências morais, temporais e espaciais para se entregar completamente àquilo que tanto cobiça (Tg 1:14).

O sábio prosseguia neste mesmo caminho por seguir o simples. Na verdade ele não percebera, mas tudo quanto o simples fazia diante de seus olhos apenas projetava sua própria vontade tolhida pela educação repressiva dada por seus pais. Impressionado ainda com a consulta que o amigo do simples fizera na cartomante, ele refletia o que era um shopping – Este lugar parece realmente uma Babilônia. Nele se encontra de tudo, desde uma agulha até um apartamento e, de quebra, ainda se negocia alma humana, ruminou o sábio. Ele se lembrara do ensinamento de Moisés ao povo de Deus no deserto quando disse:

“Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te dá, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos. Não se achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz estas coisas é abominável ao Senhor, e é por causa destas abominações que o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti. Perfeito serás para com o Senhor teu Deus.” (Dt 18:9-13)

O temor que o sábio tinha por Deus lhe impedia de se envolver com o espiritualismo. Ele trazia consigo a percepção que abrir certas portas da alma poderia trazer sérias conseqüências e, se tinha algo que prezava, era a obediência às leis de Deus. Foi quando o sábio se despertou para o fato de estar sendo atraído pelos mesmos desejos do simples. – Não mesmo, refletiu consigo, nunca abriria minha alma para estas coisas do outro mundo, mas por que sigo o simples neste shopping? Inquiriu perscrutando suas próprias intenções.

Então se lembrou que fora o convite do amigo ao simples para ir ver as minas que fizera o sábio seguir o simples pelo shopping. – Realmente sou um homem miserável! Mesmo conhecendo a verdade, mesmo tendo entregue minha vida ao Senhor, percebo esta luta interior, “porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está” (Rm 7:18). Naquele instante o sábio subia mais um degrau, posto que a fé recebida de Deus como um dom transforma o crente em uma nova criatura, sendo revestido pela virtude do alto, quando sua mente é aberta para a revelação da palavra de Deus, provendo da ciência, isto é, do conhecimento da vontade de Deus, como bem atestou Tiago (Tg 1:5).

O sábio olhou em sua volta procurando uma mesa para sentar-se. Sentia fome e a praça de alimentação se mostrava bastante convidativa. De longe avistou o simples dividindo a mesa com seu amigo e mais duas garotas.




Biografia:
O autor é casado com Karin, professora mestre em Língua Portuguesa e tem dois filhos: Adan e André. Sua formação é em Administração de Empresas, Teologia e Ciências Contábeis, com mestrado em Administração de Empresas pela PUC.PR. Atualmente é Secretario Municipal de Finanças de Campo Novo do Parecis.MT. Seu site pessoal é www.cezar.azevedo.nom.br
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