O menino estuda a lição,
Dividido entre o que aprende
E os sons da rua que lhes chegam pela janela.
A mãe faz tricô.
A vó cochila na cadeira de balanço.
O menino olha a rua.
A rua irresistível que o chama...
-Mamãe! Posso brincar?
-Agora, não! Primeiro termine a lição.
Terminei a lição.
Mamãe não faz tricô.
Vovó não cochila.
Fecho a janela para que o barulho da rua
Não acorde as duas que dormem
No tempo estático das lembranças.
-Mamãe, terminei!
-Vá brincar, mas não demore!
O tempo passou,
Mas as lições da existência permanecem inconclusas.
Hoje me pergunto:
-Onde estão as plantas da minha vó?
Os canteiros estão desfeitos.
-Onde estão os novelos de minha mãe?
A lã da existência acabou,
Mas deixou o amaro gosto do sol da saudade
Que teima em brilhar nas lembranças.
Se a lã do tempo tece o próprio novelo,
A lição da ausência
Aprende-se com nó na garganta
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