Quando você disse ‘agente se fala’, eu quiz começar um monólogo, contar piada, falar da rua mal asfaltada, botar a culpa no prefeito, no governo. Confesso pensei em reclamar do trânsito, do tempo, do frio, ou do sapato apertado. Pensei em apontar alguma esquisitisse, comentar a morte do Osama. Pensei em coisas que pudessem fazer você permanecer por mais um minuto, segundo ou hora, só para te-lo perto, como se a conversa não tivesse acabado, como se o tempo não estivesse passando. Mas você tinha que partir, deu as costas e foi-se embora sem ao menos perceber o meu tormento. Tomei meu rumo. Entrei no ônibus aos tropeços, me enrosquei na roleta. Procurei um recanto para me encostar e não queria que o trajeto acabasse. Pensava: ‘acabei de vê-lo’. Desci do ônibus aos tropeços, quase esquecendo a cabeça e a perna direita. No caminho de casa eu chutei pedras, enruguei a testa, azedei. Assim estou, pós momento, pós você, desde quando você não me disse ‘agente se vê’.
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