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domingo
Rúbia Mendes Laurelli

Domingo é dia de acordar devagar e dormir denovo. É dia de virar para o lado e virar para o outro; é dia de acordar engasgando, interromper cinco sonhos até desistir de dormir; é dia de andar no corredor da casa, buscar copos de água e sentar na beira da cama. Domingo é dia de acariciar o gato com o pé, de puxar o cobertor com a perna, de fechar a geladeira com a bunda, e deixar o pé no chão, descalço. Domingo é dia de usar roupas largas. Domingo também é dia de usar roupas velhas. Domingo é dia de acordar antes do sol, de acordar antes dos pais. Domingo é dia de ouvir o silêncio de todas as vozes, quando as bocas estão fechadas, e ligar a tevê baixinho e desligar rapidinho; é dia de ouvir o barulho do tic tac do relógio tic-taqueando non-stop, fazendo você não mais querer os últimos cinco minutos no sofá; é dia de pular o breakfast, de acordar os outros com o barulho da descarga, com o barulho da torneira e com o barulho do trio: espuma, escova de dente e os dentes todos. Domingo é dia de não se importar com a campainha, de não levantar para ver a passeata, de não ir à janela ver o avião. Domingo é dia de ser tartaruga, sem ser ninja coisa nenhuma, é dia de ser geléia, é dia de ser maria-mole, bicho preguiça. Domingo é dia do jornal ser meu, é dia de raptar colunas, de se apaixonar por colunistas, de recortar o que interessa. Domingo é dia de adiar até que alguém mande, é dia de de esperar segundas ordens. Domingo é dia de tomar banho morníssimo. Domingo a canção é o barulho dos motores dos carros velozes da fórmula I, e soa como canção de ninar, algumas risadinhas dos recém-acordados na sala, e é dia de vê-los brigando pelo controle, pelo canal, pelo volume. Domingo é dia de se encaixar nos cantos, de repetir o prato do almoço, de deixar o corpo fazer digestão. É dia de ser devagar, de andar sem pressa, de pensar lento, de piscar pouco, de olhar pro nada, de falar menos. E segunda-feira estou de luto.

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