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A DESCOBERTA DA PSICANÁLISE
CONSELHO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE ( I.N.N.G.)
Wagner Paulon

Resumo:
Freud era ainda um médico muito jovem quando descobriu o método de cura pela Psicanálise. Empregava ele o hipnotismo, no tratamento das afecções nervosas, quando começou a notar que as ideias, ou melhor, os fatos esquecidos pelo paciente, eram perfeitamente relembrados logo que os enfermos sofriam a ação da força hipnótica.

CONSELHO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE ( I.N.N.G.)
A DESCOBERTA DA PSICANÁLISE

Autor: Dr. Gastão Pereira da Silva
                 (in memoriam)

l — O que o hipnotismo encobria

Freud era ainda um médico muito jovem quando descobriu o método de cura pela Psicanálise. Empregava ele o hipnotismo, no tratamento das afecções nervosas, quando começou a notar que as ideias, ou melhor, os fatos esquecidos pelo paciente, eram perfeitamente relembrados logo que os enfermos sofriam a ação da força hipnótica.

Uma vez despertados da hipnose, "esqueciam-se", porém, os doentes, de tais ocorrências, não tendo assim nenhuma ideia consciente do que se havia passado. Pois bem. Durante esses tratamentos, principiou a observar que os seus clientes apresentavam uma certa "resistência" em confessar as reminiscências "esquecidas", tornando-se, às vezes, uma barreira quase intransponível.

Segundo o grau, a extensão de "resistência", pôde então concluir que as lembranças desmemoriadas, na vida consciente, se achavam profundamente cavadas no espírito dos enfermos.

Para que elas se apresentassem, seria preciso, portanto, vencer, certamente, "alguma coisa" de forte que se opunha tenazmente à exteriorização das ideias "soterradas".

Por outro lado, essas deslembranças estavam sempre ligadas a acontecimentos desagradáveis, penosos, considerados pelo indivíduo como questões dolorosas ou vergonhosas às aspirações da personalidade.

O hipnotismo encobria, assim, um jogo de forças que precisava evidenciar-se. Freud começou a pensar que todo segredo desse jogo de forças consistia em dominar a "resistência" dos enfermos.
Mas se essa "resistência" era vencida pelo hipnotismo apenas, isto não lhe bastava, porque, após o sono hipnótico, ela de novo se apresentava, impedindo que as ideias viessem à tona da consciência.
Não seria a falta de libertação dessas lembranças, em estado de vigília, a causa dos distúrbios nervosos de seus pacientes?

2 — A paciente histérica

A pergunta se achava sem resposta, quando um seu colega e amigo, Prof. Breuer, com quem Freud privava todos os dias, observou na sua clínica, também de hipnotismo, o seguinte caso:

Submetida ao sono hipnótico uma senhora histérica revelara-lhe certa e determinada lembrança, esquecida por completo na vida desperta e de real interesse clínico.   Tratava-se uma moça histérica, de 21 anos de idade, inteligente e culta. Tendo adoecido (a enfermidade durou dois anos), apresenta inúmeras perturbações físicas e além de muitos outros fenômenos psíquicos, tinha a mais uma paralisia de ambas as extremidades do lado direito, com anestesia (insensibilidade), cujo sintoma se estendia, por vezes, até o lado oposto. Várias outras perturbações também eram observadas: anormalidade dos movimentos oculares, dificuldade em manter a cabeça erguida, tosse nervosa, repugnância alimentar, impossibilidade beber água, apesar da sede martirizante, etc. Tais distúrbios chegaram a ponto de inibi-la de compreender a língua materna e tantas outras coisas que alteravam inteiramente a própria personalidade.   Notava-se que no estado de confusão mental, a doente murmurava palavras que pareciam relacionar-se com males que a afligiam.

Sujeita ao hipnotismo, a paciente reproduzia fantasias ou devaneios profundamente tristes, muitas vezes até de real beleza poética. Estas iniciavam-se, quase sempre, descrevendo a situação de uma jovem à cabeceira do pai enfermo. Depois de desafogada a fantasia, sentia-se como que aliviada. Tal estado durava, porém, algumas horas para, ao dia seguinte voltar de novo. Durante a hipnose os sintomas desapareciam.

Pois bem. Ninguém até então removera por tal meio os sintomas histéricos de ordem corporal. Pesquisados os síndromes dessa mesma enfermidade em outros pacientes, pôde Freud realmente chegar à conclusão de que todos eles se formam à custa de reminiscências afetivas, que valem como verdadeiros "traumas psíquicos", cujos sintomas se relacionam com as cenas traumáticas que os produzem.

Assim, todos os distúrbios da doente não passavam de impressões penosas, fixadas durante o tempo em que ela se dedicava ao pai enfermo.

3 — As ideias soterradas

Certa noite, velava o pai, em estado de superexcitação nervosa, pois se esperava de Viena um cirurgião que haveria de operá-lo. Ausente sua mãe, sentada à cabeceira do doente, passou a filha o braço sobre o espaldar da cadeira e, num semi-sonho, viu, como que se viesse da parede, uma cobra que rastejava, em direção ao leito do pai, para mordê-lo. (Provavelmente — diz Freud — no quintal da casa existiam cobras, assustando anteriormente a moça e fornecendo agora o material da alucinação.).

Nessa alucinação pretendeu ela afastar o animal, mas estava como que paralisada, o braço direito (estendido no espaldar da cadeira) ficara adormecido. Quando o contemplou, seus dedos transformaram-se em cobrinhas, cujas cabeças eram caveiras (as unhas). A anestesia do braço associou-se assim à alucinação da serpente. Quis em seguida rezar, mas não achou palavras em idioma algum.

Com a reconstituição desta cena durante a hipnose, foi removida a paralisia do braço que existia desde o começo da moléstia e a paciente curou-se.

Todos os sintomas, como as perturbações visuais, a sede, etc., etc., achavam-se ligados aos cuidados da moça ao leito do pai e são minuciosamente esclarecidos por Freud. Para nós, entretanto, é suficiente o presente resumo, o qual nos dá, perfeitamente, uma ideia do caso histórico que levou Freud a descobrir a Psicanálise.

Quando, depois, começou ele a empregar o mesmo critério nos seus enfermos, pôde confirmar a veracidade do fenômeno ocorrido neste caso clínico. Se antes o hipnotismo era empregado para os fins comuns a que ele se destina, já agora lhe servia como um método "catártico".

Isto é, o doente "vomitava" os seus desejos inconfessáveis, através da hipnose, assegurando, assim, o diagnóstico de suas perturbações e, ao mesmo tempo, libertando-se de seus males, quer físicos, quer psíquicos, uma vez dissolvidos os sentimentos profundos inconfessáveis.

Ora, até então, a todos os cientistas, inclusive Charcot repugnava a concepção psicológica da histeria, justamente porque, não raro, ela também se manifesta com sintomas igualmente orgânicos (paralisias, etc.). Diante, porém, desse caso já não havia mais dúvida de que tais sintomas emocionais procuravam outras vias de exteriorização, refletindo-se na trama nervosa.

Tudo não passava de uma conversão (os males psíquicos são convertidos no físico), como assim chamou o mestre, discordando, portanto, das opiniões correntes.

O fato provocou as mais sérias controvérsias entre professores e discípulos, pois demonstrava cabalmente que a histeria podia manifestar-se em homens, derrubando uma velha teoria de que a neurose era fundamentalmente feminina, de onde até lhe veio o nome clássico hysteron, útero.

4 — A revelação

Freud já podia ter a certeza de que os sintomas nervosos, apresentados na sua clínica, eram movidos por essas lembranças dolorosas, adormecidas no fundo do espírito e das quais não tinha a consciência, até então, nenhuma ideia. Valiam elas como verdadeiros traumas na alma humana, desconhecidos por completo dos enfermos, porque eles o haviam esquecido. Entretanto, desde que esses traumas viessem a ser desmascarados à luz da consciência, analisados friamente por esta, todos os sintomas cessavam.

Assim, os pacientes de Freud tinham também que "saber" o que lhe era acessível na hipnose, trazendo ao âmago da consciência todo o "esquecido" mórbido de suas vidas.

"O processo empregado, diz Freud, havia de ser mais trabalhoso, porém mais elucidativo. Abandonei o hipnotismo e só conservei dele a maneira de colocar o meu cliente em decúbito supino, sobre um divã, ficando eu por trás dele, de forma a não ser visto."

E com esse novo processo, a que deu o nome de PSICANÁLISE, Freud pôde concluir, então, depois de infinitas experiências, que o homem não vive apenas a vida do seu psiquismo consciente e que uma outra vida palpita nas esconsas camadas do espírito humano. E é precisamente essa vida interior, profunda, indevassável, até hoje, que a Psicanálise estudou, estuda e continua observando.
Através dessa vida interior, a ciência de Freud sai do campo restrito da

Medicina para ganhar o domínio do inconsciente.

Psicanálise é, portanto, a Ciência do Inconsciente.

Psicanálise seria tal e qual o nome indica, a análise do psiquismo. Por isso é comum falar-se de psicanálise em outras esferas de pesquisas mentais.

Desde que Freud, porém, lhe deu uma acepção mais profunda e perfeitamente definida, ninguém mais deve aplicar o nome de psicanálise a outras investigações que não estejam de acordo com os problemas do inconsciente.

A Psicanálise, como vimos, nasceu de uma experiência clínica e, inicialmente, só foi aplicada como processo terapêutico no tratamento das neuroses.

Revolvendo, porém, a vida inconsciente dos pacientes, esta região do espírito abriu-se, na ciência, como um novo panorama, desconhecido até então, esclarecendo infinitas concepções errôneas, tidas e havidas como certas, na órbita do Conhecimento.


Biografia:
Psicanalista e Mestre em Psicopatologia pela (Escola Paulista) em SP-BRASIL; Formação Integral e Análise Didática em Psicanálise; Psicólogo Clínico pelo (Saint Meinrad College) em USA; Pedagogo pelo (FEC ABC) em SP-BRASIL; MBA pela (University Abet) em USA; Curso de Especialização em Entorpecentes pela (USP) em SP-BRASIL; Livre Docente em Faculdades e Universidades Brasileiras; Exerce atividades Clinicas e Educacionais há mais de trinta e cinco anos; Membro de varias Sociedades Científicas Internacionais; Membro da “Cruz Vermelha Brasileira - Filial Estado de São Paulo”; Membro da Organização Internacional “Médicos Sem Fronteiras” e Atual Diretor do Centro Psicanalítico de Ubatuba-SP.
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