Marina saiu apressada de casa. Apressada de cabelo preto desalinhado; tão seca que poderia sumir. Se é que um dia não sumiria...
Marina, entretanto, sorveu rápido café. E para que serve o café? Para os apressadinhos!
Calça jeans, blusa sem manga, chinelo desgastado, afetavam espírito simplório da garota. Quase raivoso. Quase. Marina era doce. Doce de ser amarga.
Espírito amargo.
Inexoravelmente, pegou o transporte coletivo: lotado. O solavanco adulava suas braçadas de livros. Tinha algum santo para ajudar? Pensou Marina. Mas quem era santo? Pelo amor Deus! Desesperou ela.
Ela ia para faculdade. Entregar livros atrasados. Porém, sua sorte no ônibus continuava a mesma: zero. Ninguém queria ajudar. Ninguém de estado inerte e sentado: ouvindo música, provavelmente, no fone de ouvido.
E a dança perscrutou o caminho. Parecia o som de Johnny Cash tocando e o povo dançando. Dança dentro do ônibus. Ônibus lotado. Passageiros calados. Inertes. Prontos para batalha diária. Marina travava uma batalha particular. Batalha de sacolejar; ela ia de um lado para outro.
- Desculpa. Implorava ela. Vermelha com tamanho peso.
Quem responderia? Ah! Os olhares atravessados responderiam.
Minutos depois, Marina saiu a toda. Toda direcionada para biblioteca. Reta.
Nem tanto.
Marina cortou carros. No estacionamento; apinhado de veículos. Sem fôlego, Marina ruiu por corredores. Flanqueou estudantes de medicina. Aliviada ou sorridente, tanto fazia, ela pegou maldita fila. Oh! Novidade. Todos os lugares do mundo têm fila: fila de banco, fila de supermercado, fila para não sei mais o que.
Marina vislumbrou funcionários na bancada. Refrigerada. O ar condicionado retratava o inesperado frio. Então, um século depois, é chegada a vez. Vez de Marina.
- Próximo. Chamou a moça mais próxima. Chamou fitando o computador.
Marina era tão insignificante? Só uma olhadinha moça. Sabe. Contato visual!
Aí, Marina arremessou os livros na bancada: branca. Eita peso brabo.
- Documento de identificação, por favor. Pediu a moça. Louca para se ver livre daquele ser.
Marina, prestativa, abriu a bolsa. Com isso, surgiu a carteira. Da carteira veio o cpf, cartão de crédito...
O coração de Marina acelerou. Ao pico alto. Nem seu namorado conseguia esse feito. Que decepção amigo!
- Cadê minha identidade? Sussurrou Marina paralisada.
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