As narrativas micro são um novo tipo de produção literária formuladas por escritores que utilizam uma forma minimalista de apresentar suas histórias. Sabe-se, atualmente, que os elementos ideológicos apresentados pelo escritor são idéias implícitas, ou seja, hoje o que torna uma narrativa pode ser interessante e rica em múltiplos sentidos sem precisar mostrar tramas truncadas com uma linguagem erudita e pomposa, cheia de personagens. Um texto pode dizer muito apresentando apenas o essencial ao leitor, a fim de que ele faça as inferências necessárias para entender os objetivos do autor. Dessa forma, as narrativas micro são interessantes, pois abarcam uma gama muito grande de significações presente em poucas palavras. Essas narrativas conseguem retratar, em algumas orações, problemáticas provenientes de aspectos sociais, econômicos e políticos da nossa sociedade.
Esse tipo de narrativa nasceu da necessidade de se construir produções que exigissem cada vez menos tempo de uma sociedade capitalista que, tem como objetivo principal, dar conta do trabalho, do estudo e outras obrigações necessárias para ascensão social de cada indivíduo. Marinetti, em seu “Manifesto Técnico da Literatura Futurista” escrito em 1912, já dizia que a obra de qualidade era aquela que dizia o essencial; dessa forma ele rejeitava o uso de adjetivos, advérbios, pronomes e a pontuação. Essa produção das micro narrativas parece ser a evolução da literatura que tanto Marinetti como outros autores da semana de arte de 1922 prenunciavam. As narrativas são obras que fazem parte da produção do ser humano e, por isso, devem acompanhar o ritmo acelerado das mudanças de vida dessa sociedade. Essas novas expressões da literatura brasileira, são herdeiras de uma proposta revolucionária de literatura da Semana de Arte Moderna de 1922, que trazem resquícios das características literárias apontadas por Marinetti e por Oswald de Andrade como a supressão de elementos que podem ser inferidos pelo leitor, o uso da linguagem coloquial e o uso de orações curtas. Observe essa micro narrativa de Cíntia Moscovich: “Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás.” . Nessa narrativa micro a autora comenta sobre a violência urbana e isso fica claro ao observarmos o impacto de múltiplos sentidos que a segunda oração da narrativa oferece ao leitor. O interessante desse tipo de obra é que os espaços implícitos a serem preenchidos pelo leitor acabam por se tornar elementos tão ou mais importantes do que foi escrito pelo autor já que o texto adquirirá uma quantidade quase infinita de interpretações, tornando-se uma produção literária rica de significados formulados pela capacidade intertextual do leitor de captar a intenção do autor e extrapolar os objetivos do autor.
Enfim, nessas narrativas micro acredito que o leitor inventa a sua própria história mentalmente, através das indicações do autor. Se antes valorizava-se as grandes obras com tramas truncadas e cheias de elementos estruturais dos gêneros, com uma linguagem extremamente culta, atualmente, se valorizam as obras de rápida apreensão com linguagem coloquial e uma estrutura de gênero sem grande rigidez. O livro Contos de Algibeira, coletânea da editora Casa Verde, é o primeiro livro que trás exclusivamente micronarrativas. Esse livro trás narrativas de autores gaúchos, brasileiros e estrangeiros. Entre os autores estrangeiros de micronarrativas, encontramos os autores: Rui Costas, Rui Zinc e Álvaro Oliveira. Entre autores nacionais estão os trabalhos de Marcelino Freire, Fernando Bonassi e Wilsin Bueno. Por fim, Caco Belmonte, Chistina Dias, Felipe Bortollini, Laís Chaffe, Luciana Veiga, Altasir Martins, Cíntia Moscovich e são alguns autores que também se dedicam a esse tipo de produção textual.
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