O inverno aterriza . Tomar banho requer uma valentia fora do normal assim como levantar da cama para trabalhar. Olha o calendário todas as manhas e faz a contagem regressiva para os últimos dias de trabalho antes das férias. Planeja o destino da viagem. Qualquer lugar que esteja mais quente que o chão do banheiro serve. Este ano você conseguiu ser alforriada por quinze dias!
A organização fica a seguinte. Cinco dias inteiros para colocar a vida no lugar. Cortar cabelo, unhas, depilação, limpeza de pele, dieta, arrumar o guarda roupa e executar aquele “5 S”. A idéia é dispensar toda porcaria -sabe Deus porque- não jogou fora ainda. Até correspondência de planos de telefonia estava na gaveta. A empolgação não para por aí. Resolve descer do maleiro as roupas que ainda teve dó de passar pra frente, e faz uma segunda triagem. Consegue se livrar de mais quatro peças, movida pelo entusiasmo das campanhas de doação de agasalho. Sempre sobra uma calça que você jura que ainda vai caber lá dentro. Essa fica para as próximas férias.
Depois do exercício de faxina na casa, passando a vida doméstica a limpo, vêm os dias reservados para um passeio em família. Ah que delícia. Uma semana de pernas pro ar, e cachecol no pescoço. Acordar na hora do sol estalando, (se é que isso acontece em julho), e não fazer nada o dia todo. Perfeito! Estava precisando mesmo do ócio. Separada as malas e entusiasmadíssima com a piscina aquecida da pousada chega seu filho com o boletim nas mãos e calado coloca sob a mesa. Você nem se dá o trabalho de perguntar. Pela cara dele não é preciso fazer nenhuma pergunta ridícula. A recuperação é fato. Pergunta apenas em quantas matérias e torce para que seja somente uma. Mas a quantidade nem interfere na viagem. Apenas essa já mandou pro ralo a hidroginástica na piscina aquecida. Por um minuto pensa em exilá-lo na casa da sogra e seguir viagem, mas lembra que o dinheiro agora tem outro destino. Pagar a “colônia de férias” que ele vem programando ao longo do semestre sem o seu consentimento. Esse dia você passa falado horas na cabeça dele que seu dinheiro não nasce em arvore, que é preciso ter responsabilidades no estudo e proíbe um tanto de coisa que logo depois irá esquecer qual foi o castigo empregado. As outras horas do dia você vai passar se arrependendo de ter brigado e vai lá consolar um tiquinho.
Então é preciso pensar no plano B. Mesmo que não tenha como viajar, esta semana fica para visitar os parentes, cinema e sessão da tarde. Cada dia almoçando na casa de uma amiga e colocando os assuntos em dia. Isso também serve para programa de férias, afinal enquanto na correria da rotina de trabalho pouco tempo sobra aos amigos.
E de repente chega ao fim estas duas semanas que você nem viu passar. Arrumou a casa como louca, estudou com o filho como louca, atravessou a cidade fazendo visitas como louca e comeu como louca. E pensa... Deveria ter tirado 20 dias. Os últimos cinco? Para descansar das férias!
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