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RODA VIVA
Tânia Du Bois




“A existência maior símbolo”   (Fernando Pessoa)

     O que é roda viva? Roda viva significa, de acordo com o dicionário, movimento incessante. Parece mágica. Concordo que não exista fórmula para se viver na roda viva, porque ela impede que comandemos o nosso coração e escolhamos qual caminho seguir para transformar o tempo.
     A roda viva nos coloca sujeito ao seu tempo de desbravar o mundo em fragmentos do sentimento e na história como esforço humano. Chico Buarque, na composição Roda Viva, de 1967, expressa a ação no desejo de ser personagem da própria história; querer ter “voz ativa”, como demonstra, “Tem dias que a gente se sente / Como quem partiu ou morreu / A gente estancou de repente / Ou foi o mundo então que cresceu / A gente quer ter voz ativa / No nosso destino mandar / Mas eis que chega a roda-viva / E carrega o destino prá lá...”.
      Em sua forma mais dinâmica ela seria a descrição sob o ponto de vista político, social e cultural. Para isso, busca fazer com que tudo se transforme em criatividade ou se transporte para a criatividade e, ainda assim, a roda viva nos impõe o navegar e ser parte de um mundo sem liberdade e sem independência; apenas com a vontade de conhecer a expressão como desejo de conquista; como Chico resgata, “... Roda mundo, roda-gigante / Rodamoinho, roda pião / O tempo rodou num instante / Nas voltas do meu coração // O samba, a viola, a roseira / Um dia a fogueira queimou / Foi tudo ilusão passageira / Que a brisa primeira levou / No peito a saudade cativa / Faz força pro tempo parar / Mas eis que chega a roda-viva / E carrega a saudade prá lá...”.
     Entretanto, a obra se destaca como referência da vida em seguir adaptada e atual aos dias de hoje, num mundo cada vez mais rápido e instantâneo em que tentamos viver a realidade que o relógio manda. Para Mia Couto, “Não é voarmos sobre os lugares que marca a memória. É o quanto esses lugares continuarão voando dentro de nós”.
     A roda viva não nos motiva a sonhar na companhia de um livro, nem a olhar a história para rever os pensamentos, atitudes e desejos; assim, impede que criemos parceria com a literatura, a cultura e o tempo. Chico Buarque cria uma analogia na letra que vai ao encontro da vida, “... Roda mundo, roda-gigante / Rodamoinho, roda pião / O tempo rodou num instante / Nas voltas do meu coração // A gente vai contra a corrente / Até não poder resistir / Na volta do barco é que sente / O quanto deixou de cumprir / Faz tempo que a gente cultiva / A mais linda roseira que há / Mas eis que chega a roda-viva / E carrega a roseira prá lá...”.
     Temos uma bagagem quando resgatamos a cultura, mas, ao mesmo tempo, temos quebrado o dia com a intervenção da roda viva, por não investir em nós mesmo; ela se apresenta em tons de contraste, sombra e luz, onde o poder domina e não temos a oportunidade de destacar a nossa marca no tempo, nem ocupar nosso lugar de referência na motivação, nem de exercer nossa crítica em tempo de mudanças, nem realizar os objetivos na clareza dos atos. Assim, cada vez retornamos e, ao mesmo tempo, seguimos o caminho percebendo a vida como ela não é; fosse apenas uma saga de sorrisos. Nas palavras de Pedro Du Bois, “... A lucidez contém luzes enfeitiçadas de verdades. / A lucidez é o meu cansaço”.


Biografia:
Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e A Linguagem da Diferença.
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