Os passos são os de uma mulher que vaga pelas ruas com o peso de uma vida, vivida, sofrida, ferida. Os anos se foram e levou consigo parte de sua juventude... agora ela caminha lentamente, cabisbaixa, seu pensamento está na dor e na delícia de ser quem ela é: mulher. No peso dos pés ela carrega o dom de ser mãe, ser a esposa fiel e tudo o que esperam que ela seja, mas no coração o peso é o da solidão que ninguém vê, porquê é só dela. Enquanto isso as pessoas vão e vêm como que vagando, como sombras de si mesmas, ele também passa, mas os olhos dele fica preso no olhar da mulher que lhe pede socorro sem gritar mas ele ouve a voz que clama no deserto. Os olhares se entrelaçam e nesse mesmo instante os dois podem ouvir o clamor de suas almas que exploram naquele olhar por um minuto que fosse de bálsamo, que aliviasse ainda que por apenas breves instantes a ferida que não cicatriza. Feridas que agora as duas almas tentam aliviar, ainda que ambos sentem medo do efeito colateral de um remédio desconhecido. Duas almas, duas vidas, cada qual com suas feridas. As almas gêmeas vagam por ai até que sentem a dor da outra metade que também e sua é quando se dá o tão inesperado encontro que transcende a alma, a razão e tudo fica sem explicação.O sentimento não se explica, por isso é emoção! É um fogo que arde sem se ver. O encontro se deu e nunca mais será esquecido, porque foi simplesmente lindo, apesar de ser proibido. O toque das mãos na pele quente, o roçar da barba por fazer que deixa a alma enobrecida pelo prazer. O prazer de sentir e derrubar ainda que por pouco tempo o pudor que agora resta na alma dos amantes amigos no sentido mais puro desta palavra que naquele instante não tem nome então não podemos chamar de amor. Depois do encontro o desajuste, a culpa o sentimento de não saber o que fazer mas a alma sabe ela sente que cumpriu sua missão que é dar a oportunidade para a carne, a dor e a delícia de sentir na pele a vida que pulsa e escorre pelas veias. Agora a mulher volta pra casa, porém seus passos já não são mais pesados pela dor da vida vivida, sofrida, seus pés não tocam mais no chão, agora apenas flutua, porque o fardo fora retirado ainda que por uma noite. A mulher não quer dormir porque sabe que terá que acordar, então ela implora para sua alma abatida: por favor, deixe - sonhar, com esse desconhecido que me assusta, mas que valeu a pena arriscar porque sabe lá no fundo que se não quebrar algumas regras perderá o melhor da vida que, aliás, é uma só! E na sua despedida quando os olhos se fecharem sabe que dessa vida nada levará além das lembranças mais bonitas que nunca hão de passar! Sabe que se a vida dela acabasse hoje sua última lembrança seria o dia em que viveu a emoção de estar viva, com o ilustre desconhecido chamado “ AMIGO”.
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