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A testemunha
Carlindo Soares Ribeiro


- TEM que dizer apenas a verdade. Promete?
     - Vou dizer a verdade.
     - Senão posso mandar te prender...
     - Não acabei de dizer que vou dizer?
     - Viu o assassino?
     - Não.
     - Como ele era?
     - Se disse que não vi...
     - O que sabe sobre este crime?
     - Era por volta de onze horas da noite. O homem que saía da casa tinha uma cicatriz no lado esquerdo da cara...
     - Você não disse que não viu o assassino?
     - Mas eu não disse que ele é o assassino...
     - ...
     - Quer dizer, é provável... os criminosos costumam ter cicatrizes na cara.
     - Mas você também tem uma cicatriz no rosto...
     - Foi de uma briga.
     - A é? E quando foi isso? O que aconteceu?
     - A gente não está aqui pra falar do meu caso...
     - Ah.
     - Ele também tinha uma tatuagem enorme no ombro direito.
     - Agora vai dizer que os criminosos também costumam ter tatuagens nos ombros?
     - Claro que não. Eu também tenho uma tatuagem no ombro, olha...
     - E você não é um criminoso?
     - Só disse que me envolvi numa briga...
     - Bem, o assassino, quer dizer, o provável assassino, ou seja, o homem que você viu, ia saindo da casa por volta de onze horas da noite...
     - Não sei se saía ou entrava...
     - Afinal, saía ou entrava?
     - Não, entrava...
     - Mas você não disse que saía?
     - Agora me lembrei que entrava. Sair foi depois...
     - E depois?
     - Lá dentro discutiram.
     - Quem?
     - O homem que entrava com o homem que estava lá dentro da casa...
     - Como sabe que tinha um homem lá dentro da casa?
     - Porque eu entrei na casa...
     - Você?!
     - Também.
     - Vá em frente.
     - Aí começaram a brigar.
     - Hum!
     - O provável criminoso atirou. Depois saiu da casa.
     - E você?
     - Também saí da casa.
     - Então está preso.
     - Quem, o provável criminoso?
     - Não. Você.


Biografia:
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