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O BUQUÊ DE ROSA
Erik McArthedain

Estávamos em maio, na semana em que seria dia das mães. Eu havia ido a uma relojoaria comprar o presente para minha mãe – comprei-lhe um lindo relógio –, mas também pensei em comprar algumas flores para enviar-lhe junto com o presente; ela adorava flores.
Sai da relojoaria e fui até a floricultura para encomendar um buquê de rosas alaranjadas, que era sua cor preferida. Se eu tivesse que trabalhar com alguma coisa de comércio, com certeza seria uma floricultura. Como é agradável sentir o perfume colorido das flores; cada cor tem seu perfume, e cada cheiro tem sua cor.
Entrei, senti-me como se estivesse em um campo aberto, rodeado de flores até onde a vista pode alcançar. O perfume, ora mais forte, ora mais suave, parecia fazer-me flutuar. Acho que devaneei por alguns momentos, imaginando-me estar nesse lugar mágico, mas fui despertado por uma menina que trabalhava lá – “Deseja alguma coisa?”, perguntou-me. “Ah, sim... queria encomendar um buquê de rosas alaranjadas, para Domingo, dia das mães”, disse-lhe. Deu-me um largo e simpático sorriso, “Pois não, vamos até o balcão para eu anotar seu pedido”. Dirigimo-nos ao balcão, ela pegou um bloco de papel, caneta e começou a anotar meu pedido, nome, endereço etc. Então, uma outra menina que também trabalhava lá, aproximou-se da que estava me atendendo e cochichou-lhe algo ao ouvido – “...ela veio de novo, olhe lá...”, foi o que pude ouvir da conversa delas – e ambas olharam para a porta de entrada. Virei-me também para trás, para ver o que estava acontecendo. Uma mulher havia entrado na floricultura e dirigia-se ao balcão, onde estávamos. A outra menina foi atendê-la, “Boa tarde, o que a senhora deseja?”, perguntou-lhe. “Boa tarde, querida”, disse-lhe a mulher, “eu queria encomendar um buquê de rosas... rosas alaranjadas para que sejam enviadas a este endereço, ainda hoje.” – abriu a bolsa, tirou um papel de dentro e entregou-o à menina. Em seguida, pagou, “Muito obrigada, e até logo”, virou-se e foi embora. As duas meninas entreolharam-se, “O mesmo pedido, o mesmo nome e o mesmo endereço de todos os dias”, uma delas disse, a que estava me atendendo. Fiquei intrigado com o acontecido, “Quem é essa senhora?”, perguntei. “Não sei”, a menina me respondeu, “só sei que ela vem aqui todos os dias e compra um buquê de rosas alaranjadas e pede para entregar sempre nesse mesmo endereço e sempre para essa mesma pessoa”. Enquanto a outra menina foi pegar o buquê que a mulher havia pedido, ela deixou o papel em cima do balcão. Disfarçadamente, enquanto a menina que estava me atendendo anotava meu nome e endereço, dei uma espiada rápida no papel, mas consegui ver o nome e o endereço que haviam nele. Paguei o buquê que eu havia encomendado e fui embora. Mas não fui para casa, fui ter-me no endereço que tinha lido no papel que estava em cima do balcão da floricultura.
Cheguei à casa justamente no momento em que o entregador chegava para entregar as flores. Comecei a dar passos lentos, para dar tempo de passar em frente à casa e tentar ver quem morava lá. O menino aproximou-se da porta e tocou a campainha. Alguns instantes depois a porta se abriu, e quão surpreso eu fiquei ao ver quem saiu para atender a porta. Quando passei na frente da porta ouvi-a agradecer ao menino. Pegou as flores e entrou, fechando a porta atrás de si.
No dia seguinte, arriscando uma tentativa, fui à floricultura no mesmo horário, para ver se aquela mulher aparecia por lá novamente; queria conversar com ela. Atrasou apenas cinco minutos, mas lá estava ela mais uma vez. Entrou e foi até o balcão, como fizera no dia anterior. Aproximei-me dela, disfarçando, olhando as flores, como se estivesse interessado em comprar algo. Fez o mesmo pedido novamente. Trajava um vestido em tom de vermelho escuro, justo, até a altura dos joelhos, de mangas longas e decote aberto em forma de um ‘V’. Usava meias, num sobretom mais claro que o vestido, formando um conjunto muito bonito com o sapato, preto, de salto não muito alto, e uma bolsa de verniz preta. Ornava-lhe o pescoço e o colo um colar de pedras vermelhas, com certeza rubis. Os cabelos, castanhos, tingidos com algumas mechas loiras, eram curtos, mas cheios, desfiados, o que lhe dava uma aparência jovial, embora ela já estivesse se aproximando dos seus sessenta anos, conforme constatei mais tarde, conversando com ela. Ostentava uma maquiagem forte, principalmente em volta dos olhos; contorno bem preto, sombra avermelhada, destacava os olhos verdes. Os lábios estavam tintos por um batom vermelho carmim. Parecia que estava vestida para ir a uma festa.
“Gosta de rosas alaranjadas?”, perguntei-lhe, tentando começar um diálogo entre nós. “Sim”, respondeu-me, cabeça baixa, sem olhar para mim, estava admirando um vaso de violetas. “Sempre vem aqui comprar buquês de rosas?”, continuei. “Quando não venho aqui, compro na outra floricultura que fica perto de casa”, desta vez olhou para mim. “Bem, preciso ir-me agora”, e começou a caminhar em direção à porta. Saí, também, e fui atrás dela, “Espere!” chamei-a; ela parou e olhou para trás. “Posso acompanhá-la? Também vou para esse lado”. Continuou a andar, “Tudo bem, vamos”, disse-me.
Caminhamos algum tempo sem falar nada, então lhe perguntei, “Para quem são as rosas que a senhora compra? São para uma pessoa especial?” Deu um sorriso, antes de responder, “Sim, são para uma pessoa muito especial para mim”. Hesitei um pouco antes de fazer-lhe essa pergunta, “São para uma tal de Rosa, não são?” Parou, olhou-me espantada, “Como sabe disso?”, perguntou-me. Eu que também havia parado, recomecei a andar, “Vi o nome no papel que a senhora deixou no balcão da floricultura. Mas quem é essa tal de Rosa?” Baixou a cabeça, deu um profundo suspiro, levantou novamente a cabeça, “A Rosa... a Rosa é uma mulher muito especial, mas que, também, já sofreu muito”. “Por quê?”, indaguei-lhe ainda mais uma vez. “Quer mesmo saber? Pois bem, vou lhe contar. Mas vamos sentar-nos ali, naquele banco”. Estávamos atravessando uma praça.
Sentamo-nos, então ela continuou, “Essa mulher, a Rosa, teve que sair de casa quando ainda era menina, com catorze anos. Morava com o pai e a mãe; eles eram muito pobres O pai, desempregado, estava sempre bêbado e batia muito na mãe dela, por isso, ficou com medo que ele fizesse o mesmo com ela e fugiu de casa. Nunca mais viu os pais desde então. Na rua, a única maneira que ela encontrou para sobreviver, foi entregar-se à prostituição e às drogas, como acontece com muitas meninas por aí. E foi o que aconteceu, a Rosa passou muitos anos levando essa vida, de prostituta, nas ruas, sendo usada por todos os homens que a queriam possuir. Era muito bonita e desejada, fazia muito sucesso e também causava muita inveja entre as outras prostitutas. Então, uma noite, um homem viu-a e levou-a para trabalhar para ele, numa boate. Ela tornou-se a mais disputada de todas as prostitutas que trabalhavam na boate, e ganhou muito dinheiro lá”. Interrompi-a, por um momento, “E hoje, ela ainda trabalha nessa boate?”. Deu-me um sorriso, antes de continuar, “Não, hoje ela já está com quase sessenta anos. Mora sozinha, em uma casa belíssima, cercada de luxo, vivendo do dinheiro que ganhou trabalhando como prostituta de luxo da boate. Nessa época da boate, ela só fazia programas com homens ricos, milionários, políticos, grandes empresários”. Interrompi-a mais uma vez, “Então ela deve ser uma pessoa muito feliz agora, pois tem uma vida de luxo, de riqueza”. Fechou os olhos, como se estivesse buscando algo dentro de si, deu outro longo suspiro, depois continuou, “Não, apesar de todo o dinheiro, apesar de todo o luxo que tem, ela não é, e nem nunca foi uma pessoa completamente feliz, porque a coisa que mais importa para uma pessoa nunca ninguém lhe deu”. Olhei-a perplexo, “O que?” indaguei-lhe. Pegou minhas mãos, segurou-a entre as suas, “Amor... amor verdadeiro, pois todos sempre lhe deram muito dinheiro, sexo, prazer, mas ninguém nunca lhe deu um gesto de carinho, de amor... nunca ninguém lhe deu, nem ao menos, um buquê de rosas”. Notei que quando falou isso, uma lágrima escapou-lhe dos olhos. “É por isso, então, que a senhora, todo dia, compra um buquê de rosas e manda para ela?” Passou a mão sobre o rosto, enxugou a lágrima, voltou a segurar minha mão, “Sim, foi uma maneira que encontrei de preencher esse vazio que há na vida dela. Dessa forma, ela recebe, todo dia, um buquê de rosas enviado por um admirador, mesmo que seja fictício, afinal, toda sua vida sempre foi baseada numa ilusão...” Agora, escapava-me dos olhos uma lágrima, “Posso fazer-lhe uma última pergunta?” Soltou minhas mãos, que ainda estavam entre as suas, “Mais uma...? Tudo bem...” Olhei-a bem nos olhos e perguntei-lhe, “Como a senhora se chama?” Retribui-me o olhar e simplesmente respondeu, “Rosa...”


Este texto é administrado por: Marcelo Leonardo da Silva Leite
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