Quanto mais vigorosa a mente, mais violenta a paixão em que se deixa envolver. Edmund Burke
Envolto em tão fantástica ilusão,
Persigo sem minuto de descanso
A sorte que nem sempre vem. Alcanço
Muitas vezes espaços na amplidão,
Porém o que desejo já me escapa
Sempre me deixa solitário e triste.
Quem luta, não se cansa e não desiste,
Nas curvas do caminho se derrapa
Mas não desiste nunca deste sonho!
Eu quero ser feliz e que se dane
Não deixo que a quimera sempre engane
Das lágrimas e risos me componho.
Não temo, resoluto, qualquer dano
O manto que me veste me traz Marte.
Amores posso achar em qualquer parte,
Mas eu quero esse amor mais leviano
Das brigas e das guerras sem ter tréguas,
Das camas desfrutadas com prazer,
Vontade de matar e de morrer.
Correr neste horizonte, longas léguas...
Trazendo em minha mão a dura adaga,
O gosto da vingança e do desejo.
Ao mesmo tempo mordo e peço beijo,
Ao mesmo tempo morde e já me afaga...
Nas mãos trazendo trágicos tentáculos,
Nas pernas maciez, a carne dura.
A lua que escurece a noite escura,
Tresloucando assim, todos os oráculos!
Quero teu desejo e meu delírio
Sutileza divina da dentada.
A voz que nunca sai, asfixiada,
A santificação neste martírio!
Paixão, voracidade que não teme.
Em meio a tempestade está feliz
Viver quase morrer só por um triz
Na dor e no prazer, a perna treme...
Inebriante cálice de vinho
Que sangra e que soprando traz a cura.
A mão que esbofeteia forte e dura
Depois em desespero quer carinho...
Não deixa nem sequer um sentimento
Que possa resistir ao furacão
Detona e reconstrói um coração,
Os restos espalhados pelo vento...
Explode no corcel e na pantera
No vôo e na boca que entrelaça
É sorte tanto quanto me desgraça
É morte e alimento da quimera!
Nossas roupas rasgadas pelo chão.
A loucura se espalha, perco o nexo,
A noite se rebenta em tanto sexo.
E depois disso tudo, a solidão!
Não quero ter amor que não maltrate.
Nem quero a mansidão desta amizade.
Amor se quer viver: cumplicidade,
Paixão no mesmo engate, desengate...
Agora que chegaste e que já fomos,
Vá-te embora não quero o teu amor!
Secamos toda fonte em todo ardor,
Da fruta que comemos cadê gomos?
Procure quem te queira, de verdade,
Não quero mais viver a noite fria.
A vida necessita fantasia.
Não restará sequer uma saudade!
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