De longe fiquei olhando,
seus cabelos castanhos,
envelhecerem.
Uma infinidade de brisa
com gosto de tempo,
repassava por seus fios arenosos,
revisando sua tez,
alvorecendo seus lábios
mas me tangindo de surpresa.
Mas foi ontem,- disse eu - ,
que a vi crescer,
sempre tangida por luz,
vinagrete e mal-doce,
por olhos argutos
e talvez meio tristes.
Mas porque não me falou?
Esse tempo sem voz,
que só faz criar raiz
e pêndulos de insensatez,
bem no fundo da alma!
De longe vi tudo,
e sempre caminhando entre
postes e esquinas,
entre companhias nada
complascentes,
deixei-me levar
pelo ontem
e me amordeci de
ira passageira e vã
odiosidade pelo tal tempo.
Quis falar, mas
poucos deixaram.
Gritar muitos menos.
Poucos alheavam.
Era uma alvorada
às escuras,
sempre tendo você na frente
e eu, meio augusto e simples,
sempre perguntando o que
fez, o que fez este tolo tempo
em seu corpo,
que me deixou às vagas,
que me fez implicar com o céu,
e ser derrotado à meia-luz
pelos espíritos que habitam
além-mar!
Se a história sempre foi assim,
assim não me contaram.
Essa história de envelhecer
já é contos de fadas,
não tem santo,
nem mordazes capuchinhos,
que vão lá explicar,
ao menos entender!
Fico quieto, até certo ponto,
mas que dá vontade de
gritar, feito pluma na tempestade.
Lá isso dá.
Crameja,mas dá.
De qualquer forma,
o tempo nos levou
pra além
do possível,
terra de ninguém,
onde pássaros já
voam mancos !
E ainda vem a moça,
de branco e rosa
lá me perguntar:
Mas "seu dono", o que
fizeram de sua chama,do
seu ventre, do choque interior?
de maestria voraz sempre
ardonado por colunas
de gessos?
E lá vem a tal moça
me dizer,sincera:
Ei moço,
o trem de ontem
já partiu.
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