A Ditadura Militar havia terminado, mas era preciso lembrar que éramos perigosos e estávamos por perto. Nosso recado era uma bomba. Cada integrante daquela guerrilha urbana estava exaustivamente treinado, e todos sabiam o que deveria ser feito. Mal a bomba foi acesa, aquele bando saiu correndo, deixando um companheiro para trás. A garagem vazia aumentou o estrondo da explosão.
A mãe de um daqueles pirralhos chamou. Já estava tarde, no dia seguinte haveria aula. Fim daquela “brincadeira” besta de miniguerrilheiro urbano.
Horas antes: a fileira de moleques sentados na calçada denunciava a falta do que fazer. Mas para quebrar o tédio, sempre surgia uma ideia bem idiota. Quando duas ou mais sugestões iluminavam aquelas mentes dos anos 80, a mais imbecil era aprovada por aclamação. Todo o nosso ímpeto incendiário só poderia ser aplicado com alguma segurança na lojinha de pirotecnia mais próxima.
As bombinhas estavam sendo comercializadas num cubículo. As aparências enganavam porque a lojinha parecia um paiol do Exército com pólvora e potencial bélico suficientes para explodir o quarteirão. Bastava acender um palito de fósforo para incinerar nossa infância. Pois bem, a gama de fogos de artifício existente ali atendia as nossas expectativas. Depois de uma criteriosa escolha, fizemos a compra e partimos com algum poder de destruição.
De posse dos explosivos, éramos temidos. A autoconfiança recém-adquirida com algumas moedas era desproporcional ao nosso tamanho. A bomba que a gente acendeu e jogou na garagem foi a mais cara, no entanto, o estrondo equivalia ao preço, e o perigo de mutilação também era proporcionalmente direto à carga de adrenalina.
Aquela “vaquinha” só poderia ser convertida em bombinhas barulhentas, buscapés perigosos, balões “Chinezinhos” fugazes e alguns foguetes. A beleza da contemplação pirotécnica não fazia parte do nosso universo destemido infantil. O objetivo era apenas barulho e destruição. A irresponsabilidade e falta de noção do perigo fazia com que ignorássemos os riscos de mutilação e queimadura.
O portfólio de brincadeiras bobas compreendia: bomba embaixo da lata, bomba num cano de ferro (simulando uma arma de cano longo), bomba na caixa de cartas, bomba na garagem etc.
Obs: Essa olimpíada do crime era um desfile de atividades politicamente incorretas. Não façam isso em casa.
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