Se tornar o sol a nascer
Seremos o tempo,
O eterno momento
Em que volta o amanhecer.
Seremos a vida.
E se vida não houver,
Buscaremos a terra,
Para nela morrer.
Se assim há de ser.
Seremos o caos,
O juízo final.
Para então deixarmos de ser.
Seremos a dúvida,
Certeza profunda
De que tudo incerto há de ser.
Se amor nos faltar,
Seremos o ódio.
Viveremos saudades,
Lembranças de um tênue prazer.
Seremos a glória,
Viveremos o fracasso.
Num coração em pedaços
Seremos a dor.
No risco iminente
Seremos o líder,
O ditador.
Varreremos os fracos,
Seremos os braços
Da nação e sua cor.
Veremos a vitória.
Seremos a causa
Da queda dos homens,
Do humano ardor.
Seremos as armas,
Se preciso for.
Tornar-nos-emos escudos,
Para alcançar o primor.
Viveremos a derrota,
Seremos a razão.
Veremos que toda a poesia
Era infeliz previsão.
Existiremos para o mundo...
Seremos as lembranças
De um tempo infame e imundo.
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