Nunca gostei de declarações públicas de amor. Primeiro achava engraçado, depois ficava com dó das vítimas de faixas com pedidos de desculpas e carros com animadores, mas achava divertido os pedidos de namoro no programa do Silvio Santos.
Para mim, tamanha exposição romântica poderia trazer à tona uma timidez latente. Algumas vezes, fui surpreendido por um som alto perturbando a vizinhança. Pelo conteúdo do texto, logo via que não era o carro da pamonha passando em frente à minha casa. O locutor, com a voz empostada, lembrava um radialista antigo, um animador de loja popular e até quem anuncia promoções de supermercado. Mas, logo vi, tratava-se de um carro de “Mensagem de Amor”, pois insistia que o (a) pobre coitado (a) saísse no portão. Aquele circo parecia muito com um enredo mal escrito e bem clichê de novela mexicana. Já refleti, se o meu “coração peludo” me tornava arredio àquilo tudo. Definitivamente, eu não queria aquilo para mim.
Eu mal sabia que seria vítima de uma telemensagem. Certo dia, o telefone tocou. Quando eu atendi, não deu tempo de perguntar quem era, fui fisgado por belas palavras e uma canção do ‘Roupa Nova’.
Eu estava lidando com gente profissional, da laia de quem traz a pessoa amada em 3 dias, portanto, não teria escapatória. Sabia que, querendo ou não, eu era o objetivo em questão, por isso, sei que, como a “encomenda”, eu seria entregue, nem que fosse embalado e dentro de uma sacolinha. Não havia saída...
Eu já suspeitava da garota que encomendou o serviço. Golpe baixo... Como não era o automóvel do amor e o locutor das multidões, pelo menos, eu conseguiria manter aquilo em sigilo, longe dos ouvidos e olhos da vizinhança.
Depois do espetáculo, ela surgiu na linha para recolher os meus caquinhos. Ela apresentou uma confiança, própria de quem sabia o resultado daquilo, bem como, a situação em que iria me encontrar. Coloquei em prática minha técnica, desenvolvida nos cinemas, para não demonstrar emoções. Mas, tenho que admitir, a estratégia tecnológica funcionou, e o amor venceu.
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